Capítulo III

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Depois de ajudar Valentina a recolher os cacos das xicaras e limpar a sujeira, inclusive fazer outro café, antes de tudo claro de fazer com que ela se acalmasse, agora eu ficava me perguntando se insistia na pergunta novamente ou se deixava quieto, bem pelo menos agora eu já estava com a minha xicara de café em mãos, depois de alguns minutos em silencio encarando ela e vice-versa já pensava que ela tinha ficado muda ou algo do tipo. Finalmente quando eu me criava coragem para arriscar fazer uma pergunta, para minha surpresa ela quebrou o silencio:

-Desculpe, pelo susto! De novo!

-Não tem por que se desculpar. – retruco.

-Claro que sim, primeiro eu bato no seu carro, empato você seguir para seu trabalho, e agora veja até café você já fez aqui.

-Bem. Então acho que você poderia me contar o que está acontecendo, pelo menos.

A feição de seu rosto ficou um pouco vermelha como de alguém que se envergonha.

-Isso claro, se estiver a vontade, logo você não me conhece direito, não sabe quem eu sou.

-sei que é uma pessoa boa o bastante para conhecer minha história e saber o que eu estou passando.


-Bem, não sou eu que estou dizendo. – falei e dei um leve sorriso no que resultou em um sorriso dela também, só que desta vez um sorriso mais saudável, tanto que pela primeira vez pude apreciar mais claramente seu rosto, dessa vez sem lagrimas, sem o semblante triste, eu pude ver quão linda era, seus cabelos cacheados, bem escuros, sua pele suave sem nenhuma marca.

-Bem, tudo começou a alguns meses atrás, eu conheci um cara na minha cidade natal, e.

-Você não é daqui então? – pergunto.

-Sou de São Paulo-SP. Bem como dizia, eu conheci um cara – disse ela ao se levantar para pegar a pequena lembrancinha que estava fixada a parede. Tinha o formato de um pequeno livreto com o nome dela e dele na capa. – o nome dele era Eric, veja.

Ao abrir pude ver a foto dos dois, era como eu posso dizer aquilo que algumas mulheres chamariam de boy magia, era uma foto que eles tinha feito em uma viagem a Angra dos Reis, com uma bela paisagem atrás.

Bonita a lembrança. – falei. – notando que ela estava muito feliz nos braços de seu namorado.

-Obrigada, essa foto já tem mais de um ano, fui a Angra a passeio de trabalho. Ele trabalhava comigo na mesma empresa de cosméticos. Havíamos sido escalados para fazer um ensaio promocional lá com alguns empreendedores do exterior que tinham interesse em conhecer a região, então aproveitamos para unir o útil ao agradável.


Enquanto ela falava percebia que sua voz ficava tremula vez em quando e que estar relatando essa história para mim parecia ser uma tarefa difícil para ela.

-Aconteceu que nessa viagem eu e ele já estamos muitos próximos – continuou a falar – e bem você sabe né o que se imagina que todo casal venha a fazer depois de um determinado tempo de namoro?

Acenei com o rosto confirmando, e agora cada vez mais curioso para entender o que tudo isso tem a ver com o exato momento.

-Pois bem, no ultimo dia do passeio a noite teve um luau, eu não estava muito a fim de participar, mas como todos colegas de trabalho, entre eles Eric e todos os empreendedores quiseram participar, então para não parecer do contra acabei cedendo e resolvi ir. Acabei gostando sabe, muita gente legal se divertindo, música boa ao vivo, típicas daquela região, e vários pratos tropicais, especiarias, todo mundo estava adorando, depois já tarde, os demais já haviam se retirado, Eric e eu fomos até próximo ao mar e nos sentamos na areia, ficamos conversando admirando o movimento das águas no mar, ele tinha levado uma garrafa de vinho, começamos a beber e Eric disse que só sairíamos dali quando terminássemos de bebê-lo toda.

-Bem convicto! – interrompi. – perdão, agora sou eu quem lhe peço desculpas.

-Não há por que. – retrucou ela e continuou – aconteceu de fato bebemos todo o vinho e já um pouco alterado pelo consumo excessivo ele começou a me beijar intensamente, e percebi que ele estava forçando a barra, mas na verdade eu já estava me sentindo prona para isso. Então fomos para o quarto e aconteceu, nunca havíamos transado e acredito que o vinho acabou por antecipar.


Estava indo tudo muito bem até meu celular tocar, era o Fred. – desculpe, tenho que atender, é do meu serviço. – falei ao atender a ligação – Oi Fred, diga.

-Cara, onde você está? Aconteceu mais alguma coisa com você?

-Não cara, está tudo bem, não se preocupe. O chefe falou alguma coisa? – perguntei me dando conta da encrenca.

-Rapaz para sua sorte o voo dos representantes da empreiteira que vinha nos visitar atrasou e tivemos que desmarcar reunião. É amigão, você escapou!

-Ufa. Nem acredito cara. – respondi aliviado.

-Pois é, mas onde você está cara, é uma daquelas visitinhas indesejáveis?

-Não, não cara, tranquilo, depois te explico, está bem? Agora tenho que desligar.

-Você que sabe. – concluiu Fred e desligou.

-Você está apressado não é mesmo? – perguntou Valentina – e eu aqui te empatando com meus problemas.

-De modo algum. – retruquei. – meu problema na empresa já está resolvido. Pode continuar a vontade.

-Bem, no dia seguinte ao acordar e notar que Eric estava na minha cama, e mais notar em estado estávamos logo me recordei da noite passada como que em flashes. Até ai parece tudo bem né? Mas de fato estava, mas meses depois as consequências daquela noite vieram à tona. Comecei a sentir alguns enjoos e outros sintomas que você já pode imaginar o que significa.

-Você engravidou? – perguntei surpreso.

-Sim. E o pior é que ao dar a notícia aos meus pais, eles não se conformaram, sabe, ele são muitos conservadores, alias, são extremamente conservadores. E o resultado foi que eu fui posta pra fora de casa.

- Nossa. – falei atônito.

-Pois é. Eles nem quiseram saber de me casar as pressas não, minha mãe até que tentou um pouco de resistência, mas o meu pai é bem convicto quanto aos seus valores morais.

-Você é filha única?

-Sim. Acho que isso contribuiu para decepção deles. O fato é que após sair de casa eu fui morar no apartamento de uma amiga minha que inclusive trabalhava comigo.

-E o seu namorado?

-Bem a reação do Eric, fora meus pais, era a que eu mais temia, logo ele era o pai, mas para minha felicidade ele reagiu super bem, quero dizer, a principio ele ficou surpreso, uma gravidez não planejada, mas ele me deu total apoio e disse que assumiria todas as responsabilidades.

-Nossa isso é muito bom. - comentei

-Tanto é que logo ele me pediu em casamento. E assim fizemos nos casamos. Não foi nenhuma festa chique, só a cerimonia simples e uma pequena recepção para a família dele e nossos amigos mais próximos. Depois da recepção já quase por volta das quatro horas da manhã, íamos passar a lua de mel em um sitio do tio dele no interior.

Nesse momento percebi que ela começou a ficar com a voz tremula novamente, e seus olhos se encheram de lagrimas, senti então que o ápice da história estaria por vir.

-Não precisa terminar de me contar essa história se quiser, embora ainda não saiba o que aconteceu percebo que mexe com você.

-Não, eu preciso, eu necessito falar isso a alguém. – retrucou quase que chorando agora e continuou – estávamos saindo de São Paulo em direção ao interior para o sitio do tio dele onde passaríamos o final de semana todo, ainda enquanto estávamos esperando o sinal abrir para prosseguir com a viagem ele começou a me acariciar e me beijar, quando o sinal ficou verde então disse para ele parar e continuar a dirigir e de repente quando seguindo uma carreta veio do nada com toda velocidade em direção ao nosso, foi tudo muito rápido, não conseguimos desviar a tempo, na batida o carro capotou varias vezes.

Apenas Um AbraçoOnde histórias criam vida. Descubra agora