prólogo

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Cada dia é uma vitória.
Uma vitória.
Tu consegues Mayonna.
Tu consegues.

Pensamentos positivos atraem acontecimentos positivos, li isso em qualquer lado.
Não tenho a certeza se é verdade ou não mas certamente que não custa tentar.

Viro-me com toda aquela emoção que uma pessoa sente quando tem que sair de casa para trabalhar em pleno domingo.

Lembro-me que , na escola primária, quando dizia que a minha mãe também trabalhava ao fim de semana todas as atenções se viravam para mim. "Como é que a tua mãe trabalha ao fim de semana? Fim de semana é para descanso!"

Todos os Papás e Mamãs dos meus colegas eram grandes senhores, doutores e juízes, enquanto a minha mãe trabalhava numa lanchonete. (Ainda hoje me pergunto como é que ela me conseguiu colocar num colégio tão requintado como aquele mas ela simplesmente não me diz e acabei por arrumar essa conversa para um canto.)

É incrível como agora, ao contrário do que custumava acontecer, todos se espantam se alguém não trabalhar durante, pelo menos, um fim de semana ao mês.

Eu só queria um dia de folga.
Um!
Não é pedir muito, mas com as esmolas que me dão em vez do salário não tenho muita escolha a não ser trabalhar de bico calado e sem reclamar sobre folgas.

- Bom dia Raki.

Raki é o meu irmão mais velho, uma autêntica mula preguiçosa que não faz nada pela vida a não ser assistir televisão e coçar os tomates. É uma grande ajuda cá em casa.

- Onde vais?

- Trabalhar, Raki. Alguém tem que pagar as contas sabes? Por falar nisso...

- Eu ainda não sei quando é que saiu daqui, ok? - respondeu rude. Não é que eu não goste do meu irmão, eu amo-o como tal da mesma forma que ele me ama a mim, mas já faz quase seis meses que ele anda cá por casa a lamentar-se por falta de emprego em vez de realmente procurar por um.

- Raki, eu talvez te consiga arranjar um trabalho lá no hospital.

- A sério?

- Sim, pelo que soube o senhor que limpava a morgue ficou doente e ainda não arranjaram ninguém para...

-'pera... a morgue é aquele sítio...

-Onde estão os mortos, sim.

-Na, na, na, na,... Podes esquecer! Eu não me meto nesse sítio. - ele pôs-se a abanar com as mãos quase deixando cair a tigela com cereais que estava a comer.

- Eu preciso de ajuda, Raki. Não te posso sustentar para sempre sabes disso não sabes? Qualquer trabalho que vier vais aceita-lo!

- Tu as vezes esqueces-te que eu é que sou o irmão mais velho, eu é que mando. - disse batendo no peito. Machista troglodita! Queria atirar-lhe com uma maçã a cabeça mas pelo preço que elas estão são demasiado preciosas para as desperdiçar assim.

- Pois bem, estás a viver em minha casa e com o meu dinheiro, então isso faz de mim a big boss cá de casa.

E saiu correndo. Quando coloquei o despertador para hoje não me lembrei de contar com o tempo extra para discutir com o meu irmão por isso vou ter que correr, e muito, para chegar a horas à paragem do autocarro.

E isto é só o meu começo de dia. Fantástico, Mayonna.

Living After YouOnde histórias criam vida. Descubra agora