Prólogo

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Seis de Janeiro de 2013, 5:12 A

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Seis de Janeiro de 2013, 5:12 A.M – Lighthouse Institute

    Passos altos vindos de vários pares de sapatos batiam conturbadamente contra o chão liso e escorregadio do Instituto Lighthouse, misturados a gritos descoordenados e confusos, palavras ignoradas que deixavam a garganta de uma garota pequena assustada. Grace Darling debatia-se contra os enfermeiros, tentava pará-los forçando seu pé contra o chão, sem obter nenhum sucesso. Seus olhos marejados mal enxergavam as luzes que iluminavam a recepção de um branco imaculado enquanto uma mulher alta de cabelos castanhos avermelhados, nome gravado em letras frias em seu crachá prateado "Dra. Audrey Piper", indicava o caminho para onde Grace deveria ser levada.

    Do alto das escadas, mãos grudadas ao corrimão de madeira estava Charles Church. Cabelos castanhos claros despenteados caindo sobre sua testa, um corte pequeno e fresco marcando a maçã de seu rosto enquanto seus olhos, nublados pelo sono, tentavam enxergar com mais nitidez a cena que acontecia diante de seus olhos. Repentinamente sentia como se não pudesse mais respirar ou andar, de volta para seu quarto no segundo andar ou para a recepção onde estava a vice-diretora e Doutora Audrey Piper – para onde antes dirigia-se com a intenção de dizer que não havia se cortado de propósito, havia sido apenas um pesadelo bem violento – pois não conseguia tirar os olhos da garota que chorava. Seu coração apertava-se dentro de seu peito e Charles podia sentir a dor tornar-se cada vez mais forte, física. Não sentia-se daquela forma há anos. Nem ao menos sabia que podia sentir-se tão mal por algo do qual nada tinha a ver.

    Grace Darling não conseguia parar de chorar ou gritar por seu pai, que não estava ali. Seus olhos, do ponto de vista de Charles, pareciam extremamente vermelhos e inchados, brilhando diante das luzes fortes demais da recepção. Seus cabelos de um amarelo quase branco pingavam por todo o chão, encharcados pela chuva forte que castigava toda a cidade já havia uma semana, assim como seu vestido vermelho estampado com flores brancas a amarelas. Seus dentes batiam-se uns contra os outros pelo frio e a forma como as lágrimas misturavam-se às gotas de chuva em seu rosto partia o coração de Charles.

    Quando a voz de Grace já se tornava distante e os enfermeiros levaram-na para uma das salas do primeiro andar, Charles pôde ouvir uma mulher aparentando ter seus vinte e nove anos derramando lágrimas exageradas enquanto abraçava seus próprios braços cobertos por um sobretudo preto em cima de várias camadas de roupas quentes. Charles rangeu seus dentes sentindo uma raiva irracional começar a borbulhar em seu sangue. Todos ali estavam muito bem agasalhados e aquecidos enquanto a garota estava usando apenas um vestido que mal cobria suas coxas. Muito justo.

    "Ela está fora de si, Doutor Wolfshaw. Ela tem estado fora de si há algum tempo, mas nós nunca achamos que fosse chegar a esse ponto...", a voz da mulher quebrou-se na última palavra que deixou seus lábios pintados com um tom de rosa suspeito para a hora que marcava nos ponteiros do grande relógio no meio do saguão, atrás da cadeira da recepcionista.

    "Não se preocupe, Ella.", o diretor do Instituto, Clifford Wolfshaw, esfregou as palmas de suas mãos contra os braços da mulher, sussurrando para que outros não ouvissem a forma como se referia a ela. Como se já a conhecesse, como se fossem amigos.

    Agora sentia como se conhecesse aqueles olhos dissimulados, as linhas de suas mãos de alguma foto que viu no jornal que deixavam na sala de recreação toda segunda-feira. Aquela era Ella van der Wouden, a nova esposa do prefeito Benjamin Morrison. Formada em artes, vinda de Toronto para ficar. Seu marido bancava todas as despesas de Lighthouse Institute desde antes de Charles estar ali. Havia se encontrado com o prefeito uma vez, do lado de fora, junto com sua amada quando ainda era criança.

    Fazia muito tempo.

    "Ela precisa de um tempo longe do lado de fora, Doutor. Você entende?", a mulher, Ella van der Wouden, olhava com os olhos imensamente abertos diretamente para Wolfshaw.

    "Sim, é claro, Sra. van der Wouden. Não há com o que se preocupar, a Srta. Darling será medicada e mantida sob controle e tudo ficará bem. Eu só preciso que a senhora me acompanhe até o meu escritório para assinar alguns papéis de entrada, não irá demorar, prometo."

    Uma sensação ruim inundou o estômago de Charles Church. Algo ali estava errado no modo como Ella van der Wouden se movia e Clifford Wolfshaw agia. De alguma forma a entrada daquela novata em Lighthouse Institute não parecia ser justa. Porém, Charles não podia deixar-se importar. Não podia dar-se ao luxo de querer saber quem aquela garota era e o que Wolfshaw pretendia fazer para ficar cada vez mais rico.

 Não podia dar-se ao luxo de querer saber quem aquela garota era e o que Wolfshaw pretendia fazer para ficar cada vez mais rico

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