Capítulo I

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G R A C E   D A R L I N G

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G R A C E D A R L I N G

O eco dos meus pés descalços contra o chão frio de madeira dos degraus era tudo o que podia ser ouvido por toda a casa, além da minha respiração ofegante e coração disparado, ansiosa com a chegada de meu pai. Ele nem sempre deixava a casa por muito tempo e desta vez havia sido apenas uma semana; havia me dito que precisaria fazer presença em uma homenagem na Universidade de Toronto, onde havia trabalhado durante alguns anos, como professor de história, até se mudar para cá depois de conhecer minha mãe, Isabelle, em uma de suas palestras.

O som do motor de seu carro já havia parado e eu já estava abrindo a porta da frente, vendo os fantasmas de Faye e Gordon atrás de mim enquanto corria em direção ao meu pai quando notei que ele abria a porta do passageiro para uma moça, que pisou na entrada de nossa casa com sapatos finos de salto alto da cor de sua pele e deixou seus olhos passearem por toda a fachada da mansão de Benjamin Morrison e sua filha, eu, Grace Darling.

Decidi caminhar em direção ao meu pai ao invés de correr e abri o sorriso mais genuíno quando seus olhos azuis se direcionaram a mim; meu pai sorrindo também.

"Grace" – Ele disse simplesmente e eu apressei meus passos, acabando nos braços dele, sendo retirada do chão e girada no ar como quando eu era criança – "Céus, como eu senti a sua falta, pequena!"

Soltei um grito baixo de excitação, voltando ao chão e sorrindo para o meu pai até que ele olhasse para a moça ao lado de seu carro, usando uma saia social e camisete branca transparente, apresentando-a.

"Grace, essa é Ella van der Wouden, uma magnífica professora de história que eu conheci em Toronto; recém-formada." – Vi a mulher tirando seus óculos escuros, revelando olhos claríssimos e verdes envoltos em cílios negros e fartos, sorrindo para mim e vindo em minha direção para me abraçar.

"Oh, Grace, seu pai só falou de você o caminho inteiro. É um prazer finalmente lhe conhecer." – Ella segurou meus ombros, olhando em meus olhos enquanto falava.

Eu mal sabia o que falar diante daquela mulher tão sofisticada, que cheirava a Chanel Nº 5 e colocava atrás da orelha seus cabelos ruivos claríssimos que brilhavam diante da luz do sol fraco daquela manhã como se fosse Jackie O.

Meus pés estavam descalços.

"Ella vai passar alguns dias conosco, querida, até completar sua pesquisa. Espero que não se importe." – Meu pai disse a última parte mais baixo para que somente eu ouvisse, porém, eu apenas balancei a cabeça e soltei o ar.

"Não, está tudo bem."

Eu não sabia que a pesquisa de Ella duraria meses e que dentro de semanas ela e meu pai estariam próximos demais, tão próximos a ponto de ficarem noivos, cegos de amor. No momento em que Ella pisou em nossas terras eu já sabia que não nos deixaria tão cedo, mas não sabia que Ella seria a mulher que me ensinaria a passar batom nos lábios, usar salto alto e fazer a sobrancelha, que era algo fora de alcance para mim, mesmo aos dezessete anos. Não sabia que seria ela quem me ensinaria a falar gentil e suavemente, andar com leveza como se o chão me levasse. Que me ensinaria a me comportar em volta dos meninos, dos homens de verdade. Que me faria ter confiança o suficiente para sair de casa e ir à faculdade, mesmo depois de uma vida inteira estudando dentro de casa, que me incentivaria a acreditar que eu estava pronta para sair daquele mundo de apenas papai, Faye e Gordon e conhecer pessoas novas, lugares novos. Eu não sabia que Ella seria a mulher que me faria enxergar que eu tinha o mundo em minhas mãos e podia sempre voltar para casa.

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