A Chave dos Mundos

1. O Estranho

Danny era um garoto mau. E quando digo mau, caro leitor, é mau de verdade. Batia nas outras crianças da escola, dava más respostas aos adultos, mentia, jogava pedras em passarinhos, enxotava os cachorros da rua. Ninguém gostava de Danny e por isso ele era um garoto sempre solitário.
Os pais dele viviam ocupados o tempo todo e nunca colocavam limites no garoto. Danny era criado por babás e vivia se metendo em problemas. Talvez ele apenas quisesse chamar a atenção. Sendo ou não, ninguém agüentava Danny por muito tempo. Além do mais, mesmo ausentes na vida do garoto, os pais dele viviam fazendo seus gostos e o menino crescia cada vez mais mimado.
Essa não é uma daquelas histórias onde você verá um garoto bonzinho como personagem principal. Não leitor, essa é uma história protagonizada por um garoto mau e se não gosta de histórias assim, sugiro que pare agora mesmo e vá ler outra coisa. O mundo está repleto de pessoas malucas por causa das histórias de escritores como eu.
...
Vejo que continua lendo. Pois bem, é por sua conta e risco. Depois não diga que eu não avisei.
Naquela ensolarada manhã, Danny participava de uma excursão ao museu da cidade. Lá estava ele no meio das outras crianças da escola sendo guiados pelo professor de história, o senhor Monteiro. Ele era um homem alto, magricelo e com um nariz grande e pontudo que quase tocava seu queixo não fosse o bigodinho fino e comprido.
O senhor Monteiro caminhava apressadamente pelo museu, falando de forma eloqüente. Era notável que fazer o papel de guia o deixava extremamente empolgado. As crianças quase corriam para acompanhar as passadas do professor.
Danny já estava cansado de zanzar de um lado para o outro com a turma da escola. Quando todos estavam bastante distraídos numa sala do museu, o garoto afastou-se silenciosamente e decidiu andar por conta própria.
Depois de riscar um quadro valioso, esconder alguns ossos de um esqueleto de dinossauro e trocar a posição dos braços de uma armadura medieval, Danny observava uma caixa de vidro onde repousava um pequeno espelho redondo, numa moldura de madeira velha, muito desgastada.
Ele observava o objeto com extremo interesse. Sentia uma vontade enorme de quebrá-lo. Olhou para os lados e viu que não tinha ninguém por perto. Já estava quase tocando a moldura de madeira quando alguém falou:
- Eu não tocaria nesse espelho se fosse você...
Danny se empertigou todo. Sentiu um arrepio dos pés a cabeça. Virou-se lentamente para saber quem estava falando. Era um velhinho gorducho, de olhinhos miúdos e escuros, trajando um terno roxo berrante. O garoto se perguntou como aquele homem tinha chegado ali tão sorrateiro e rápido.
- O que disse? – Perguntou Danny retomando a compostura.
- Disse que não tocaria nesse espelho. – Repetiu o homem – Parece que existe uma maldição nele, uma espécie de magia. A última dona foi parar num hospício. Dizem que ela gritava “Ela sou eu! Ela quer me pegar!”, algo do tipo. Acharam que ela estava biruta.
Danny deu mais uma espiada no espelho. Ele não parecia amaldiçoado. Era só um espelho velho. O garoto olhou para o velho que exibia um sorrisinho enviesado.
- Não recebo ordens de ninguém. – Disse Danny com rebeldia – Principalmente quando elas vêm de velhotes como você.
- Não estou te dando ordens. Só estou te aconselhando. – Respondeu o velho e seus olhinhos miúdos brilharam misteriosamente – Mas se quiser tocar nele, vá em frente.
Danny deu mais uma espiada no espelho e tornou a encarar o velho. Ele mantinha o sorrisinho enviesado. Com raiva, Danny se virou e pegou o espelho dentro da caixa.
- Olha aqui! Isso é só um espelho! – Disse o garoto se virando pra mostrar o feito ao velho – Não tem maldição nenhuma e...
Danny ficou espantado ao perceber que o velho sumira tão repentinamente quanto havia aparecido. O menino ficou ali parado, segurando o espelho, tentando entender o que tinha acontecido. Não tinha imaginado aquilo tudo. O rosto do velhote sorrindo de uma maneira quase debochada estava nítido em sua mente.
Ele se esqueceu por um momento do espanto e sentiu raiva do velho. Fitou-se no espelho e tomou uma decisão: vou ficar com isso.

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E aí? Curtindo a história do Danny? Então curte o capítulo também. :) Ah, não esquece de fazer seu comentário com sugestões e críticas. ;)