Danny chegou em casa após a excursão e foi logo correndo para o quarto. Embaixo da cama do garoto havia uma caixa de papelão onde ele guardava coisas que “pegava e não devolvia”, para não ter que usar um termo mais forte, se é que você me entende, caro leitor.
Dentro da caixa de “pertences” de Danny havia uma bola de tênis, alguns bonecos, uma dentadura, dezenas de figurinhas, dois carrinhos e tantos outros objetos. O garoto tirou o espelho do bolso e colocou-o junto aos outros objetos na caixa.
Lembrou-se mais uma vez do velhote dizendo que não tocasse no espelho. Odiava quando lhe davam ordens. Imaginou a cara do velho ao saber que ele tinha levado o espelho. Danny riu pensando na cena.
- Danny? – Chamou uma voz feminina da sala.
- O que foi? – Perguntou o garoto de maneira rude.
- O almoço está pronto. – Disse a voz – Lave as mãos e venha comer.
- Não estou com fome. – Ordens. Danny odiava ordens – Como quando eu quiser.
- Mas sua mãe disse que...
- Não me importo!
Uma jovem apareceu na porta do quarto do garoto. Ela era alta, magra e tinha cabelos cacheados. Usava um uniforme cinza. Era a babá de Danny.
- Por favor, venha comer. Sua mãe pediu que não deixasse você com fome.
- Bata na porta antes de entrar! – Berrou Danny empurrando a caixa de papelão com seus “pertences” para debaixo da cama – E eu já disse que não estou com fome!
- Mas Danny, eu fiz um pudim delicioso e...
- Pudim?
- Sim. Está na geladeira. – A babá falava desconcertadamente. Aparentemente com medo de que Danny tivesse um acesso de raiva - Então vou comer, mas só o pudim.
- Tudo bem, mas lave as mãos, por favor.
- Tá, tá... – Respondeu Danny sem dar muito crédito.
Ele passou pela babá e seguiu até o banheiro. Ligou a torneira e fingiu lavar as mãos, rindo só de pensar em como a babá era burra de achar que ele faria o que ela pediu. Mas logo seu riso foi substituído por surpresa. Quando se fitou no espelho do banheiro, Danny viu que seu reflexo- O mesmo rosto redondo; os mesmos cabelos castanhos; Os mesmos olhos pretos- o observava com uma expressão de desaprovação.
O coração de Danny deu um salto e ele se beliscou para ter certeza de que estava acordado. Aquilo não podia ser verdade. Devia estar ficando louco. Seria a maldição do espelho? Lembrou-se do velhote contando-lhe que a antiga dona do objeto tinha parado num hospício. Seria esse o destino do garoto também?
- Por que está me olhando com essa cara de quem viu um fantasma? – Perguntou o reflexo com cara de tédio.
- Eu devo estar ficando doido. – Disse Danny assustado, mantendo distancia do espelho.
- Você não está ficando doido, seu paspalho. – retrucou o reflexo.
- Como isso é possível?
- O espelho que você roubou do museu. – Explicou o reflexo – Ele é a chave para o mundo dos espelhos.
- Então você consegue falar comigo porque estou com aquele espelho? – Perguntou Danny esquecendo-se momentaneamente do medo.
- Bingo! Como você é inteligente. – Disse o reflexo com deboche. Não poderia ser diferente, afinal era o reflexo do Danny.
- Que zoado, cara...
- E não só posso falar. O espelho também permite que você entre aqui, no mundo dos espelhos.
- Sério?
- Claro. Está com ele aí?
- Está no meu quarto. – Respondeu Danny – Só preciso pegá-lo?
- Sim. Se estiver com ele e tocar em algum espelho será transportado direto para o mundo dos espelhos.
Danny se sentiu tentado a fazer o que o reflexo estava dizendo. Ele correu até o quarto e tirou de dentro da caixa, debaixo da cama, o pequeno espelho redondo. Enquanto voltava correndo para o banheiro, passou pela babá.
- Aonde você vai, Danny? – Perguntou a moça – Já lavou as mãos?
- Já. Daqui a pouco eu como. – Disse Danny sem dar muito crédito à moça.
O reflexo do garoto já o esperava. Parecia estar super entediado.
- Por que demorou tanto?
- Vim o mais rápido que pude. – Respondeu Danny – O que faço agora?
- Só precisa tocar neste espelho. – Disse o reflexo apontando a moldura do espelho do banheiro.
Danny se aproximou num misto de receio, nervosismo e ansiedade. Ele tocou o espelho do banheiro e “zaz!”, estava do lado dele mesmo. Aliás, do seu reflexo.
- Uau! – Exclamou Danny atordoado – Que legal cara!
- Demais, não é?
A casa de Danny no mundo dos espelhos não era exatamente igual. Tudo estava invertido, tudo ao contrário com relação à direita e esquerda. Era realmente como olhar através de um espelho.
- Qual a sensação? – Perguntou o reflexo.
- De que?
- De estar aqui?
- Não é muito diferente de se estar lá. – Disse Danny indicando com a cabeça a sua casa no mundo real através do espelho.
- Sempre tive curiosidade de saber como era, mas nunca saí daqui.
- Quer experimentar? – Perguntou Danny oferecendo o espelho redondo ao reflexo.
- Sério?
- Claro. – Disse Danny entregando o objeto ao reflexo.
- Que demais, cara!
O reflexo pegou o espelho chave e tocou o espelho do banheiro, indo parar instantaneamente no mundo real. Ele se virou para encarar Danny, deu um sorrisinho maligno e disse:
- Obrigado, otário.
Ao perceber a burrice que fizera, Danny ficou pálido. Tocou o espelho do banheiro várias vezes pensando que talvez pudesse voltar ao mundo real fazendo aquilo, mas foi em vão. Estava preso no mundo dos espelhos.***
Xiii. Como será que Danny vai se safar dessa? Pensando bem, ele até merece. Deixe seu comentário e não esquece de dar aquela curtida de leve... :)
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A Chave dos Mundos
Short StoryNesse conto, Danny, um garoto mal-educado e perverso vai viver uma experiência de outro mundo para aprender uma valiosa lição.