Danny sentiu um enorme desespero. Como ele podia ter sido tão burro? Estava lidando consigo mesmo (ainda que fosse apenas seu reflexo). O garoto saiu do banheiro correndo em direção à cozinha. Sua babá do mundo dos espelhos estava lá, sentada, comendo pudim.
- Alice? – Danny chamou desconfiado. A garota olhou com indiferença para ele.
- O que é, pirralho?
Danny ficou abobalhado. Era a primeira vez que Alice o tratava daquela forma.
- Olha lá como fala comigo e...
- Espera um pouco... – Alice se levantou da cadeira e aproximou-se de Danny como se o avaliasse – Você é o outro, não é? O do mundo real...
- Do que você está...
- Não se faça de idiota. É lógico que você é o outro pirralho. Quer dizer então que o palerminha conseguiu ir para o outro lado?
- Ele me enganou! – Danny disse irritado – Me fez vir para cá e me enganou!
A babá soltou uma gargalhada aguda que fez os cabelos da nuca de Danny se arrepiarem.
- Você é patético, sabia? – Alice ria de maneira debochada enquanto falava – Como pode cair na sua própria conversa?
- Não importa! Só quero sair daqui!
Alice se jogou no chão da cozinha e riu tanto que chorou. Danny sentia raiva da babá que, se não estivesse tão desesperado para sair dali, teria pregado uma peça nela só de raiva.
- Vamos sua ridícula! – Trovejou Danny – Como posso sair daqui?
- Você tem o espelho-chave?
- Não. Está com o outro...
- Então sinto muito, seu paspalho. Vai ficar preso aqui pra sempre!
E dizendo isso, Alice voltou a rir alto. Danny sentiu o desespero corroer suas entranhas. Ele saiu correndo para o lado de fora na esperança de encontrar alguém que pudesse ajudá-lo. A rua estava deserta. Não havia uma viv’alma vagando por ali. “E agora?”, pensou Danny.
- Então você não seguiu meu conselho...
Danny virou-se rapidamente e deu de cara com o velhote do museu, com aqueles olhinhos miúdos e sorriso debochado que ele odiava.
- Não, não segui velhote! – Disse Danny mais ríspido do que gostaria de ter sido – E agora não é hora para lições de moral. Preciso sair daqui!
O velho fitou o garoto e em seguida coçou a cabeça como se pensasse numa maneira de ajudá-lo.
- Você está com o espelho-chave?
- Não. O meu reflexo o usou para ir para o mundo real e me deixou preso aqui.
- Hum... – Retrucou o velho coçando o queixo – Infelizmente não existe uma maneira de voltar. O espelho-chave abre portais para o mundo real. É muito perigoso. Reflexos vivem procurando uma forma de ir para o mundo real.
- Isso não vai me ajudar em nada, velhote...
- Falar comigo dessa forma não ajudará em nada, garoto. – Disse o velho interrompendo Danny – Não sou culpado pelos seus problemas. Foi você quem decidiu seu destino quando resolveu levar o espelho para casa. Eu alertei...
- Eu sei que alertou. Me desculpe. – Disse Danny choroso – Eu só quero voltar pra casa.
- Bem, acabo de me lembrar de uma maneira.
- Jura?!
- Sim. – Confirmou o velho apanhando um graveto no chão.
Ele começou a desenhar na terra fofa do jardim. Primeiro desenhou um círculo, depois um quadrado.
- Voilà! – Disse o velhote apontando os dois desenhos que fizera.
- Não estou entendendo.
- O mundo dos espelhos é um reflexo do mundo real. Tudo o que existe lá, existe aqui de uma maneira invertida, se é que me entende. Este. – Ele disse apontando para o círculo – É o espelho-chave do mundo real. Com ele você consegue entrar no mundo dos espelhos.
- Então aquele é...
- O espelho-chave do mundo dos espelhos. – Completou o velhote – Com ele você poderá entrar no mundo real.
- Mas se esse espelho existe aqui, por que os reflexos ainda não o utilizaram para ir ao mundo real?
- É uma observação interessante. Como você sempre esteve lá era necessário que viesse para cá e deixasse seu lugar no mundo real livre para alguém ocupá-lo.
- Então se eu conseguir esse espelho poderei voltar ao mundo real? – Danny perguntou sentindo um fiapo de esperança.
- Acredito que sim. Veja bem. O outro poder dos espelhos é que quando eles estão nas mãos de uma pessoa e seu reflexo, ambos podem trocar de lugar. O seu reflexo está com o espelho-chave de lá. Se você conseguir o espelho-chave daqui poderá forçá-lo a voltar para cá e voltará para o mundo real. – Explicou o velho tamborilando os dedos na barriga – O que pertence ao mundo real deve ficar no mundo real. O que pertence ao mundo dos espelhos deve ficar no mundo dos espelhos. Cada coisa deve ficar no seu devido lugar.
- Entendo. E onde está esse espelho? – Perguntou Danny ansioso.
- Deve estar no museu, mas...
O garoto sentiu que havia algo errado naquele “mas”.
- Se o sol se pôr e você não conseguir pegá-lo... – Os olhinhos miúdos do velhote brilharam de maneira assustadora - Você jamais voltará ao mundo real. Ficará preso neste mundo para sempre.***
As coisas não poderiam ser piores para o Danny. Será que ele vai conseguir voltar pra casa? Enquanto pensa, aproveita e curte o capítulo e de quebra, deixa um comentário, blz? :)
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A Chave dos Mundos
Short StoryNesse conto, Danny, um garoto mal-educado e perverso vai viver uma experiência de outro mundo para aprender uma valiosa lição.