O reencontro

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Bernardo deixou a carta dentro da caixa de correios e sentou-se novamente à mesa da cafeteria. Flávia tinha saído, e quando retornou, pegou as correspondências na caixa de correios e entrou em casa. Bernardo foi embora e resolveu voltar no dia seguinte, talvez houvesse uma carta-resposta esperando-o. Ao invés disso, encontrou a própria Flávia, de pé, ao lado da caixa de correios.

- Oi, Marinheiro! Não acreditei quando li aquela carta. Ainda se lembra de mim? – Sorriu. Suas rugas aparentes contornavam delicadamente seus olhos e sua boca.

- Hey! Como poderia me esquecer da única mulher que realmente teve meu coração em suas mãos? – Retribuiu o sorriso. – Precisava te encontrar novamente. Tinha que te devolver isso. – Estendeu a mão na direção de Flávia. Ela ficou perplexa ao ver a pequena coruja preta que costumava adornar seu pescoço, anos atrás.

- Você a guardou? – Ela pegou o pingente das mãos dele e encaixou em sua gargantilha. Ele estremeceu ao sentir o toque dela. – Entre, está frio. Vamos tomar um café na minha cozinha, lá é mais aconchegante. – Ambos entraram na casa dela e ele se sentou à mesa da cozinha. Ela pegou duas xícaras de café e se sentou ao lado dele.

- Por que você foi embora?

- Eu precisava. Não podia dar continuidade àquilo. Vim pra cá porque sempre gostei do clima amigável da Irlanda. Eu tinha que deixar você seguir sua vida, não podia interferir na vida de um rapaz tão jovem, tendo tudo pela frente.

- Enquanto isso, tudo o que eu sempre quis era ter ficado com você naquele fim de ano. Mas me diga, como você está?

- Depois de tantos anos, eu consegui guardá-lo numa caixinha escondida na bagunça do meu coração. Me casei há quinze anos, mas ele queria filhos, o que, infelizmente, eu não fui capaz de oferecê-lo, embora já tivesse tentado de tudo. A gente acabou se divorciando. Depois de cinco anos, descobri que ele teve outra enquanto esteve comigo. Mas isso não vem ao caso, fale-me sobre você. Como está?

- Eu também me casei. Com a Carla. – Sorriu. – Infelizmente, houve um acidente na empresa em que ela trabalhava, e ela não sobreviveu ao incêndio. Tivemos dois filhos, que estão neste momento no hotel em que estou hospedado. Incrível como o tempo passa rápido. O mais velho, Pedro, tem a idade que eu tinha quando aquilo tudo aconteceu entre nós... Infelizmente a decepção dele não foi amorosa. Sente muita falta da mãe.

- Sinto muito por isso.

- Não sinta, apesar de amar meus filhos e ter gostado muito de Carla, nunca amei uma mulher como ainda amo você. – O silêncio se instaurou naquela cozinha, mas não durou muito. Depois de alguns pedidos de desculpas, risadas misturadas a olhos arregalados e expressões de surpresa, depois de colocarem o papo em dia, Bernardo e Flávia se despediram, e ele estava prestes a sair da casa dela, quando esta pediu para que ele esperasse. Antes de abrir a porta, ela o surpreendeu com um beijo intenso e quente. Aquilo foi o suficiente.

O resto você pode imaginar, mas eu tenho algumas dicas pra você: sofá bagunçado, vaso quebrado, roupas espalhadas pelo chão, corpos suados, respirações ofegantes e vizinhos horrorizados. O resto é história...

Dois meses depois, Bernardo foi morar com Flávia. Os filhos dele gostaram dela, assim que a viram. Foram felizes até o fim de suas vidas. Ninguém nunca soube o que aconteceu com eles durante a época do último ano de Bernardo no ensino médio. Aliás...

Ninguém nunca precisou saber.


Ninguém precisa saberOnde histórias criam vida. Descubra agora