Jolari - Melhores Amigos(CONCLUÍDO)

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Me sentei na primeira sombra de árvore que achei ali e abri meu caderno, pegando a folha com tudo escrito.
Lari: Dizem que, quando uma pessoa de sua família está perto de morrer, toda a sua plantação começa a murchar, e não adianta virar baldes d'Água, ela só voltará ao normal depois do velório — minhas sobrancelhas se juntaram.
João: Quando algo de muito ruim vai acontecer aqui, sempre acontece uma chuva muito, mais muito, mais muito mesmo, forte. Enchendo um pequeno riacho que tem aqui perto.
Lari: Me falaram essa — ele se sentou ao meu lado — mas em outra versão. Tipo, o riacho enche justamente para impedir que algo de mau aconteça, o que quer dizer que as pessoas daqui confiam muito uma na outra para pensarem que ninguém daqui pode fazer algo trágico.
João: Nós passamos por ele quando chegamos, é bem grandinho.
Voltei a olhar para a folha.
Lari: É super normal uma nuvem de urubus cobrirem um bicho morto, mas eles falaram que aqui isso acontece, não só quando um bicho morre. Quando uma pessoa se suicida, o que é bem normal aqui, fontes dizem — arquei a sobrancelha — urubus ficam rondando a casa.
João: Só acontece desgraça.
Ri.
Lari: Morte, massacre... Ele apoiou sua cabeça no meu ombro, com os olhos fechados.
João: Estou cansando...
Lari: Temos que terminar essa atividade.
Ele levantou a cabeça e arregalou os olhos.
João: Já não acabamos?  Ri.
Lari: A parte de pegar as lendas, já. Falta organizar tudo em um trabalho para entregar para os professores.
Revirei os olhos. Ele resmungou.
João: Já que eu fui o que mais andei, e perguntei, você fica responsável pelo resto.
Ri alto.
Lari: Nem fudendo. Você vai me ajudar.
João: O que eu ganho com isso mesmo?
Lari: Uma nota? E sua passagem de ano garantida!
Ele levantou, e passou as mãos no short, tirando a terra.
João: Vamos, estou faminto. — peguei na sua mão estendida.
Fiz o mesmo que ele, limpando meu short. Coloquei a bolsa nas costas novamente e voltei a andar, ao lado dele.
João: Sobre as lendas, eu escutei bastante aquela da vela. É também falaram que quando o bebê vai nascer, aparece uma frauda de pano, velha, na porta.
Uma ideia legalzinha me veio na cabeça.