Prólogo

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Existe a respeito da poderosa arma do deus da guerra um recitar de versos instigante; uma cantiga antiga, que foge entre os dentes dos antigos homens aos ouvidos atentos da juventude. Contudo, não é sobre a lança, nem mesmo sobre seu virtuoso portador de que tal conto solene fala: é de vingança.

Tyr, o justo, deus da guerra ao lado de Thor, paira no topo do panteão das divindades. Sua alcunha pomposa de soberano da justiça porém, perdeu-se no tempo, ficara no esquecimento. Ao perceber-se responsável pelo trabalho de prender Fenrir - a monstruosidade destinada a matar Odín no Ragnarok -, sentiu sua língua tomada pelo negrume da mentira, e, diante do lobo gigante, de seus lábios escorreu a primeira gota de discórdia. Impossibilitado de negar o pedido do Pai de todos, viu seu caráter respeitável extinguir-se.

Dos deuses, Tyr era o único em quem o Lobo confiava. No entanto, para estar sujeito a Gleipnir, o último grilhão forjado pelos deuses, o Lobo exigira - como prova de que sua desconfiança não passava de um lapso de medo -, que alguém pusesse a mão em sua boca. O próprio Tyr ofereceu-se, pondo o braço na imensa bocarra da criatura. Não obstante, correu-lhe naquele instante estas palavras: - Tentaram de tudo para aprisioná-lo, porém nada funcionou. Este excesso de desconfiança que surge agora de sua parte, talvez tenha algo a nos dizer... talvez tenhamos encontrado algo a altura de sua força. - Ao término da pronunciação, Tyr amarrou o pescoço da monstruosidade com os grilhões dados por Odín, e, diferentemente do ocorrido até então, a corrente não se quebrou quando o aprisionado procurou por livramento.

Irritado pela forma como fora enganado, Fenrir dilacerou a mão do deus da guerra e a engoliu; e, de seu cárcere eterno, exclamou a Tyr as mais diversas promessas de vingança. O deus da justiça havia então traído não somente Fenrir, mas também a sua alcunha de O justo.

Dos sábios desde então, perpetuou-se o discurso de que Tyr se exilara em meio aos mortais, afundado em seu leito de vergonha; e que, assim como seu corpo adormecido, também sua lança fora lançada às profundezas do reino dos homens. - ''Enquanto o deus dorme, a alma sedenta do Lobo traído continua a procurar por vingança''.

A lança de TyrOnde histórias criam vida. Descubra agora