Um Caso A Três

III: Duas palavras

Não tive coragem de ir para a aula no dia seguinte. Eu não teria aula com Harold, mas eu ainda era da sala de Lauren, e apenas a ideia de vê-la já fazia com que uma estranha sensação envolvesse meu estômago. Suas palavras não saíam de minha cabeça. Aquele maldito convite havia atormentado meus sonhos – molhados, diga-se de passagem.

Eu nunca havia me envolvido com nenhuma garota, mas não poderia dizer que nunca havia pensado na possibilidade, especialmente sendo da sala de Lauren. Ela era o tipo de garota que realmente chamava a atenção, de pessoas de todos os sexos.

E certamente despertava a curiosidade.

Eu não poderia dizer com certeza se era bissexual. Apesar de Lauren realmente despertar minha atenção, eu nunca havia imaginado-a de uma maneira mais sexual. Juro.

Só que agora era completamente diferente. Ela havia flertado comigo, feito uma louca proposta. Ah, claro, eu havia visto-a apenas com uma saia curta e sutiã. Como se vestida seu corpo já não despertasse ideias.

E, claro, havia Harold. Porque, se na sala, apenas trajando roupas do dia a dia já era o bastante para me fazer desejá-lo, vê-lo tão exposto como eu havia visto... Não era de se admirar que minha cabeça doesse tanto.

Liguei para Grace e avisei que não iria trabalhar também. Eu não conseguia pensar direito. Minha cabeça doía tanto que parecia prestes a explodir. E meu estômago estava dando voltas, e a única coisa que eu havia tentado comer acabei colocando para fora.

Aqueles dois haviam me deixado doente.

Por volta do horário de almoço ouvi uma batida na porta do meu quarto. Eu tinha o privilégio de praticamente ter o dormitório só para mim, já que a menina que dividia o dormitório comigo morava mais com o namorado do que no alojamento do campus.

Ainda de pijamas abri a porta, deparando-me com Crystal.

— Emy, está tudo bem? — ela perguntou assim que me viu, o que me fez imaginar que minha cara estava péssima.

— Não muito. — deixei que ela entrasse e se sentasse na cama. — Eu acordei com essa dor de cabeça, e estou enjoada.

— Ai meu Deus! — Crystal levou as duas mãos à boca. — Você está grávida?

Pisquei algumas vezes, achando-a um tanto quanto louca.

— Só se for do Espírito Santo, né? — ironizei, vendo-a rir em seguida. — Você sabe que faz meses que eu não transo com ninguém.

— Porque não quer. — ela balançou os ombros, e especialmente neste momento de minha vida, eu era obrigada a concordar. — De qualquer maneira, vim apenas trazer as anotações dessa aula, porque eu sou essa ótima amiga.

Sorri e peguei o caderno que ela havia me estendido. Dei uma rápida folheada e fiquei feliz ao constatar que a matéria era relativamente simples.

— Obrigada, Crystal.

— Aliás, Emy, o que tá acontecendo de verdade?

Senti o meu sangue gelar assim que as palavras saíram de sua boca. Seria eu tão óbvia assim? Provavelmente, já que Lauren havia sacado com tanta facilidade o que eu pensava de Harold. O que me levava a pensar que ele também sabia o que eu pensava dele.

Inutilmente, senti meu rosto queimar em vergonha. É claro que ele sabia, e ele queria que meus pensamentos fossem realizados. Com a ajuda de Lauren.

E novamente a sensação no estômago.

— O que você quer dizer? — respondi após alguns minutos.

— Que desde ontem você está estranha, e algo me diz que é o causador dessa sua doença.