Rio de Lágrimas

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Nota/Dica: Leiam ouvindo qualquer uma das músicas abaixo:
- Scars to your beautiful (Alessia Cara)
- Fucking Perfect (P!nk)
- Skyscraper (Demi Lovato)
- Invisible (Hunter Hayes)

LOUIS POV

O garoto dos olhos verdes me penetrou com o olhar. Sua íris estava conectada à minha. Suas mãos seguravam meu rosto com delicadeza. Um breve sorriso surgiu em seus lábios me fazendo imitá-lo. Ele aproximou-se do meu rosto sem desviar o olhar, sua respiração quente e lenta batia em meu queixo.
"Louis... Eu finalmente te encontrei... Eu finalmente encontrei a parte que me faltava... Eu te amo." Disse acariciando minha bochecha com seu polegar. Uma lágrima escorreu dos meus olhos, decidi quebrar a pouca distância entre nós e uni nossos lábios num beijo calmo e molhado. Seus lábios se encaixavam perfeitamente nos meus, sua boca tinha gosto/cheiro de menta... Ali, naquele momento, nossa respiração se tornou uma.

"Louis"
"LOUIS"

Abri meus olhos e tudo que consegui ver foi minha mãe ao lado da minha cama, ela mantinha uma expressão amigável e calma.

- Anda filho, você vai se atrasar pro colégio - disse levantando-se e saindo do quarto logo em seguida.

Suspirei enquanto olhava para o teto preto com adesivos de planetas e estrelas fluorescente colados de modo espalhado. Levantei com certa dificuldade causada pela preguiça que dominava meu corpo.

Andei até o banheiro, me despi e entrei no box. A água quente batia contra meus músculos relaxando-os, uma sensação de prazer e conforto tomava conta do meu corpo conforme ia me molhando.

Terminei meu banho, escovei meus dentes e voltei para meu quarto para me trocar. Acabei vestindo uma calça skinny azul petróleo, um Adidas Superstars preto com faixas brancas, o uniforme e um moletom preto com uma âncora branca estampada.
Olhei-me no espelho para arrumar o cabelo, meus olhos estavam profundos e obscuros por conta das noites mau dormidas, felizmente os mesmos já haviam desinchado. Dei uma última olhada em meu reflexo, meu rosto mantinha uma feição triste e cansada, fechei meus olhos e os abri logo em seguida e esbocei um sorriso.

Sempre fazia isso, como se colocasse uma máscara para poder conviver em sociedade. Uma máscara sorridente e calma, que escondia meu coração quebrado das pessoas ao meu redor.

Levantei da cadeira da penteadeira, peguei minha mochila e sai do cômodo. Atravessei o corredor e passei pela cozinha, mamãe já havia ido trabalhar. Sai pela porta da sala e a tranquei, cobri minha cabeça com a touca do moletom, coloquei minha playlist alternativa para tocar e atravessei o portão, começando a caminhar rumo à escola.

O percurso era calmo, sem muita movimentação vinda tanto de automóveis quanto de pessoas. Minha casa não era tão longe do colégio, portanto, não demorei para chegar. Atravessei o grande portão e percorri todo o corredor aberto até adentrar o pátio, já havia uma boa quantidade de alunos presentes ali, então resolvi ir ao banheiro para fazer minha necessidade e esperar o sinal bater.

Atravessei o pátio olhando para o chão como sempre faço, passei pelo banheiro feminino até chegar ao banheiro masculino, entrei sem mais delongas.

Me tranquei dentro de uma das cabines enfileiradas, desabotoei minha calça expondo meu pênis para poder urinar.
Assim que terminei, o sinal soou pelo local. Fechei minha calça e sai da cabine, porém algo me empurrou para trás me fazendo cair sentado no vaso. Após levantar o olhar pude ver que não se tratava de algo, e sim de alguém, era Chris com seus dois amigos, Justin e Austin. Os três eram da mesma sala que eu desde o ano passado e sempre me atacavam de alguma forma, porém sem um motivo aparente.

- Olha quem tem aqui caras. - falou Chris olhando de relance para seus colegas.

- Acho que alguém entrou no banheiro errado. - completou Justin fazendo os outros dois rirem.

- Ei florzinha, vamos te mostrar que não se deve usar nosso banheiro sem nossa permissão. - disse Austin com um sorriso maligno nos lábios.

O trio aproximou-se de mim, Chris pegou em meus cabelos com força; tentei soltá-lo, mas Austin e Justin seguraram meus braços enquanto Chris me levantava bruscamente.

- Você vai gostar disso seu viadinho - exclamou Chris cuspindo em meu rosto, a saliva se misturou com as lágrimas que àquela altura já rolavam descontroladamente.

Justin entregou meu braço para Chris, que o segurou e, então o loiro socou meu estômago me causando uma enorme dor na região do abdômen.

De repente passos foram ouvidos... Alguém havia entrado no banheiro. Austin segurou minha boca enquanto os outros dois me imobilizaram impedindo qualquer barulho ou pedido de socorro, e as lágrimas continuavam à cair.

Logo ouviu-se o barulho de alguém urinando e em seguida saindo do banheiro.

- Isso ainda não acabou - ameaçaram me soltando, meu corpo caiu como uma gelatina, o impacto contra o chão me causou mais dor, meus olhos estavam turvos e ardiam por conta das lágrimas, o trio desapareceu enquanto eu estava estirado no chão desejando deixar de existir.

É como se minha existência fosse indesejada, como se minha presença fosse um insulto.
Eu me senti um lixo, não somente ali, mas em vários outros momentos em que apanhei, em que fui humilhado. Não era somente meu corpo que doía, minha alma, meu coração doíam em dobro. A cada dia meu coração se quebrava mais e isso estava me deixando... Vazio.

Com dificuldade apoiei minhas mãos no chão frio do banheiro, levantei metade do meu corpo e me encostei na parede ao lado do vaso sanitário, meu choro se intensificou e apenas um pensamento rondava minha mente: Era tudo minha culpa.

Eu sei o que sou, sei que sou diferente. Sei que o mundo me odeia apenas porque eu amo alguém do mesmo sexo. Sei que sou não somente uma vergonha para a sociedade, mas também para minha família e até para mim mesmo.

Os pensamentos se multiplicaram tornando meu conflito interno uma grande dor de cabeça, o que me fez cair no sono.
Eu sonhei...

Eu estava apoiado em alguém, na cama. Minha cabeça estava em seu peito e o resto do meu corpo estava esticado, seus braços rodeavam a região do meu abdômen, eu me sentia bem, me sentia feliz. Levantei o rosto para ver quem estava ali, mas tudo que pude ver foram olhos... Olhos verdes como esmeraldas.

- Eu te amo. - disse a pessoa, seu tom de voz era rouco o que causou um leve arrepio prazeroso em meu corpo.

Levei minhas mãos de encontro às suas e as acariciei.

- Obrigado por me salvar - falei sorrindo enquanto uma singela lágrima escorria de meus olhos.

Sad Teens With Happy Faces (Larry & Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora