Casas de Pó de Pedra, beijos e abraços

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No outro dia, eu acordei cedo, me levantei da cama e corri pra fora de casa com meu baldezinho, para catar as estrelas-pequenas do quintal. Elas eram meio amarelas e meio brancas, meio douradas e meio pratas. Tinham cinco pontas arredondadas, e eram cheinhas e fofas, como se fossem um bichinho peludinho, só que sem o pêlo.

Recolhi todas que podia na primeira vez e levei até o balde maior que tinha nos fundos de casa, junto com as coisas de limpar nossas roupas. Fiz várias pequenas viagens com o balde, tirando todas as estrelinhas do jardim e as guardando, pro papai queimar mais tarde.

Depois voltei pra dentro para me aquecer, enquanto ajeitava meu copo de suco e meus biscoitos, junto de meu pote de geléia de frutas da primavera. Mamãe e papai ainda dormiam, pois nas sextas os adultos descansavam da semana toda. Eu acordava cedo por ser bobo, porque nunca conseguia dormir mais.

Depois que comi e limpei minha sujeira, eu fui até meu quarto para deitar de novo, só pra ficar nas cobertas quentinhas. Eu queria ir logo pro parquinho encontrar minha nova amiga, mas só podia sair depois do almoço, o que provavelmente demoraria.

Peguei um dos meus livros sobre astronautas e tentei ler, mas eu não entendia muito sem a ajuda de papai. Ele entendia muito de todas as coisas, mesmo que só trabalhasse de bombeiro.

Aqui no planeta Blask acontecem muitos acidentes com meteoros, que caem quase todos os dias. Algumas vezes, nós temos problemas com a gravidade, e por sermos um planeta pequenininho (comparado com o de vocês), sempre sofremos com o peso do ar. Meu pai me ensinou tudo isso, mas eu nunca entendi direito, até hoje. Ele ajuda as pessoas que são prejudicadas por esses pequenos problemas na nossa cidadezinha.

Aí eu tentei ler os livros sobre números, que você chamam de um nome gigantesco e amedrontador. Matemática, não é? Vocês não tem medo disso não? Eu teria!

Depois que papai e mamãe acordaram, fizeram a comida e voltaram a dormir, eu fui correndo pro parquinho, esperando muito encontrar minha nova amiga. Porém, quando eu cheguei no meu balanço, ela não estava lá, então eu só me balancei sozinho.

Eu lembro de ficar sonhando em como seria legal poder voar como as nuvens. Às vezes eu queria ser uma nuvem, mas aí meu pai dizia que nuvens são acúmulos de sujeira que vão subindo cada vez mais no espaço até sumirem. Eu não queria ser um acúmulo de coisas ruins, e muito menos sumir. Aprendi a me contentar com meus pés no chão.

Depois me levantei do balanço para ir no escorregador, como sempre, e tentei esquecer a garota Blask. Ela provavelmente não viria mais. Devia ser neta da Senhora Anne, e só havia feito uma visita rápida à vózinha.

Na minha décima escorregada até a piscina de sorvete, eu me assustei com uma pessoa já me esperando lá embaixo.

E era ela.

Minhas bochechas ficaram super quentes, mesmo que fosse inverno e estivesse muito, muito frio. Eu sempre achava que ia levar um choque térmico se esquentasse as bochechas daquele jeito no frio, mas era só minha imaginação mesmo.

Ou talvez não. Porque eu jurava que dentro de mim algo estranho parecido com um choque aconteceu quando eu vi ela naquele dia. Provavelmente, nada térmico.

- Hey Plark! - ela gritou, me encarando de cima.

- Oi Lori. Você me assustou - eu disse, me levantando da piscina de sorvete. Ou, chão, como preferir.

- Você é meio que muito assustado. Do que vamos brincar hoje?

- Ah... não sei. Você pode escolher se quiser.

- Eu quero brincar de construir casas no pó de pedra. Você já fez isso?

- Já, mas só na praia. Não sei se aqui tem pó o suficiente.

stars [jimin]Onde histórias criam vida. Descubra agora