Fogovivo - Parte III - Explodindo a bomba

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Uma buzina tocou e Lucio empolgado levantou-se me puxando pela mão. O menino animado gritou um tchau para a mãe. Eu e ele estávamos muito bem vestidos, pois passamos a tarde inteira nos ajeitando. Marielle estava logo em frente à casa, encostada na porta do passageiro do carro, uma BMW preta. Um carro sport de apenas duas portas. Ela estava linda, toda arrumada. Antes de chegar próximo do veículo senti o perfume dela. O banco estava afastado permitindo a entrada na parte de trás. Lucio entrou e eu mesmo contrariado entrei na parte de trás também. Nossos olhares se cruzaram brevemente e ela desviou os olhos, acho que apressada. Marielle entrou e fechou a porta.

"Bernardo, este es mi amigo Jonas."

Jonas se virou e apertamos as mãos, me pareceu simpático. Era bem apessoado e tinha um cavanhaque bem delineado.

A cidade estava agitada, bêbados dançavam nas ruas e todos os bares e boates que passamos estavam lotados. Entramos em uma avenida larga e iluminada, onde o trânsito estava engarrafado. Lucio quebrou o silêncio dizendo que era a avenida dos melhores shoppings, bares e boates. A garotada adorava andar por ali conhecendo todos os locais. Jonas entrou no estacionamento de um shopping.

Era um lugar gigantesco, com lojas e restaurantes por todo lado, parecido com qualquer outro shopping, mas realmente destacava-se em tamanho. Entramos em um restaurante italiano. Pedimos filé à parmegiana. Chegou rápido e saboroso junto com vinho e champanhe. Jonas contou piadas, que não entendi e forcei-me a rir. Marielle e Lucio não conseguiam cessar o riso. A conta veio escandalosa, mas nosso anfitrião do ano novo fez questão de pagar.

Fomos caminhar pelo shopping e não tive coragem de pegar nas mãos de minha namorada, me pareceu estranho. Lucio não parava de falar e contar mil coisas sobre o shopping e a cidade. Uma letargia me atingiu e me distraí olhando aquele povo desconhecido. As roupas eram mais coloridas, a pele em geral mais escura, os corpos mais atarracados e cabelos mais longos do que eu costumava ver no Brasil. Lucio me chamou para ver a roupa de uma vitrine. Olhei em volta e não achei Marielle e Jonas.

"Lucio, donde estan Marielle e Jonas?"

Lucio não me deu ouvidos ficou fixado olhando a vitrine, idolatrando um vestido vermelho. Procurei o casal pela multidão nos corredores, mas não estavam em lugar nenhum. 

Cutuquei Lucio com certa força.

"Donde estan?"

O olhar do garoto era de atordoamento. Lembrou-me uma criança perdida dos pais.

"Yo no sé."

Perambulamos pelo local em busca de Marielle e Jonas, mas não havia um vestígio deles. O menino não largava a minha mão. Senti vergonha de caminhar com um pré-adolescente de mãos dadas comigo no meio de tanta gente. Tive a impressão que todos olhavam torto para nós. Mesmo sem conhecer o lugar eu que direcionava o caminho, pois a adrenalina me subia. Depois de cruzar os principais corredores parei em frente ao cinema, onde painéis de papelão no formato dos atores estavam distribuídos por toda a entrada.

"Lucio, como puede isto estare aconteciiiendo? Ela te dirre alguna coisita? Exlicareto algo para tu? "

"No entendo." Disse cabisbaixo, pareceu querer chorar.

Olhei para os cartazes, vi Stallone, Bruce Willys e Mel Gibson, todos ali em papelão, pendendo com a brisa do ar condicionado. Gotas de suor cruzaram toda minha fronte. Esfreguei o rosto tentando me acalmar. Apertei os ombros de Lucio e ele olhou para mim, tinha lágrimas nos olhos.

"O que está acontecendo, caralho?"

Lucio enxugou as lágrimas e tremendo começou a falar.

"Se fueron en un club nocturno. Se preguntó para nosotros tener la diversion. "

Emaranhados: amor, destino, caos e esperança.Onde histórias criam vida. Descubra agora