Caatinga

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(Conto vencedor do segundo lugar no quinto desafio Pote de Ouro.)

Temas: Conservação ambiental, esperança, destino e caos.

Gênero: Suspense.

O mar ondula sua água,

Como se Deus chacoalhasse a terra.

O sol enfrenta o mar,

atirando seus raios no planeta.

Uma guerra de admirar,

digladiada entre gigantes.

O mar invencível, concede

Gotículas que sobem leves.

Viajando, aglomerando-se,

Elas vão aos continentes.

***

A cabeça do gafanhoto se mexia lentamente, os olhinhos traziam algo de cômico a sua face. João sentia nos dedos a aspereza das perninhas e podia ver gominhos gelatinosos no pescoço do inseto, isso lhe trazia repulsa. Precisava comer aquela proteína, sua vida estava em risco, mas o nojo e questões éticas tentavam impedi-lo. A reles sombra do angico, na qual João se abrigava, trazia pouco alento. No horizonte o calor ondulava fazendo a paisagem ser quase uma miragem.

Sua expedição pela Caatinga agora era trágica, seu sonho de conhecer o bioma exclusivamente brasileiro tornara-se um pesadelo, o provável palco do seu fim derradeiro. Como se distanciou tanto? Apaixonou-se pelo encanto de toda aquela secura e andou distraído, até tudo se transformar em um labirinto. Naquele período a vida aguardava o dia em que a água traria o verde, a esperança renascida. Fazia três dias que ele perambulava ao léu, sem a noção do rumo certo para voltar ao seu veículo. De noite ele presenciou animais tímidos, mas durante o dia a solidão era quente, tudo parecia morto, apenas ele ainda vivo. Por sorte levou um cantil, mas agora nenhuma gota restava e sua boca ao chão se assemelhava. Duas frutas e um sanduíche que levara nem pareciam ter existido, seu estômago reclamava e a morte espreitava. Por isso mordeu decidido à cabeça do animal, a gosma amarga de seu interior contrastou com a crocância da pele, engoliu rápido, mas aquilo retornou em um vômito quase seco. Tudo em vão, energia e água desperdiçadas, um passo a mais para seu fim.

***

O vento uivando de prazer

Passa a mão nos cabelos verdes

Presos em galhos retorcidos, com jeito amazônico

O prazer é úmido e segue a escorrer

Pelos entraves do corpo áspero

Lentamente deita ao chão

Penetra malicioso,

percorrendo cada vão.

***

O sol continuava impávido e João ainda encolhido se protegia dos raios solares na sombra daquele pequeno arbusto. Seu semblante era torpe. No entorno só se via pedras e arbustos secos. A paisagem variava tonalidades esbranquiçadas de marrom, amarelo e cinza. Nenhuma mísera nuvem no céu, apenas um azul claro e uma luz ofuscante. "Eu te amo, João." Falou a voz de sua namorada. "Fica comigo para sempre." Os lábios entumecidos, a boca entre aberta e um leve gemido de prazer. O corpo dela, quente e úmido, pressionando as pernas dele em um movimento luxurioso, as mãos de João deslizando na pele suada, um gozo simultâneo. João resolveu levantar-se, buscar uma saída. Não podia morrer, havia muito para viver e ela estava esperando ele.

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