5. Borboletas

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Sexta-feira, o famoso dia do "Acorda Rafael vamos ver o sol" como se não fosse esse o meu pesadelo de todo dia, eles me dão os meus 6 ou 7 remédios (parei do contar ou querer saber o que eram faz tempo) diários, e uma pequena enfermeira me arrasta totalmente grogue até um banco no jardim e me deixa fritando ali até o horário de almoço.
   Sentado ali naquele solitário banco observo os outros pacientes andando em grupos, alguns conversam sozinhos e outros ficam em mesas sendo bajulados pela família.
   Olho para um vaso onde há umas flores vivas e lindas talvez o único vestígio de vida nesse lugar, há borboletas voando ao seu redor, começo a suar por conta do calor, mas tento ignorar já que não consigo me mexer e não há nenhuma enfermeira por perto, volto a me concentrar nas flores e assim percebo que as borboletas haviam ido embora, realmente está muito calor aqui, concentra nas flores Rafael, uma mão delicada arranca uma das flores, vou subindo o olhar até o rosto e eu o reconheço, o rosto que eu nunca esqueceria, aquele sorriso, os olhos, o cabelo da raiz a ponta, aquele corpo  que eu conhecia por inteiro e cada detalhe, era a Flavia, ela tinha voltado para mim, mas que calor, não importa Rafael flavia voltou, vai até ela seu idiota, e como se meu corpo estivesse cheio de energia novamente eu me levanto e tento correr até ela, é tento mas fracasso e caio logo a sua frente, ela estava tão perto que eu podia sentir o calor de seus braços me envolvendo, começo a chorar de felicidade e ela como um anjo se agacha e beija a minha testa tão levemente, a mesma levanta  e eu tento segura-la mas eu falho novamente,  Flavia se afasta e seu corpo vai se desfazendo em varias borboletas, que por estranho que pareça era magnifico, o calor que eu quase não estava sentindo voltou umas 12x mais forte, me fazendo desmaiar na hora.
    Quando acordei não havia mais nada a não ser a velha flor murcha da enfermaria.

Dia 17 de novembro de 2015 (sábado)
Escuto alguém me chamando, esse mesmo alguém me chama pela segunda vez e na terceira vez já estava chacoalhando meu ombro.
—Que que é?—digo mal-humorado
—Vamos Rafinha levanta, já tá todo mundo se arrumando.
—Flavia?—digo meio confuso e olho pra ela com dificuldade por causa da claridade.
—Quem mais seria?—Ela ri—Vai levanta logo o café já tá na mesa.
                           ****
      A pequena casa de campo estava com cheiro de bolo, assim que eu termino de me arrumar vou para a cozinha onde todo mundo está comendo, peço desculpas pelo atraso e o Felps até tira sarro da minha cara fazendo todos rirem (inclusive eu).
—O bolo está delicioso.
—Obrigada querido, pega mais!
—Ah eu aceito—estendo meu prato e ela coloca um pedaço no mesmo, trago-o até mim de volta e o como, Fla me olha com um sorriso bobo e logo fica séria e cora quando percebe que eu a vi.
                              *****
O sol estava saindo timidamente do meio das colinas quando Felipe, Gabs Sasa e eu íamos por uma trilha para chegar num lugar surpresa que a Sasa queria nos mostrar, Gabs estava de mãos dadas com Felps e ele parecia um idiota toda vez que olhava pra ela, seus olhos ficavam brilhosos e ele também se atrapalhava na hora de falar, pra Sasa e pra mim era engraçado mas acho que a Gabs acha bonitinho.
                                      ***
O lugar surpresa era um jardim cheio de flores que estavam separadas por cores, elas iam das mais fortes as mais fracas, vermelhas, laranjas, e amarelas.
Gabs e Sasa foram andar um pouco e eu fiquei sentado ao lado de Felps, observando as perfeição das flores.
—Cara eu acho que eu to apaixonado.
—Você acha?
—Er... Tenho certeza—Ele coça a nuca.
—Eu também tenho certeza—Rio e olho para ele.
—Você também se apaixonaria... se é que já não está apaixonado—Ele zomba de mim.
—Eu apaixonado? pufffff, meu coração é de gelo querido.
—De gelo pode ser, mas o vermelho do cabelo da Flavia vai derreter ele todinho.
—Ah cala boca.
—Falando nas florzinhas—Ele olha para elas que estão voltando de mãos dadas, a Sasa segura um um violão pela alça da bolsa e a Gabs traz um buque de flores colorido, ao chegarem elas se sentam na nossa frente e a Gabs dá o buque dela para o Felps, o mesmo sorri encantado e tira uma flor vermelha e coloca em sua cabeça sorrindo.
Sasa tira seu violão da bolsa, ele é marrom claro com alguns adesivos de flores no final, ela da uma tocada e começa a afina-lo.
—Onde você conseguiu esse violão?—Pergunto lembrando que ela nao veio com ele.
—Ah, eu tenho ele desde pequena, deixo ele guardado na casa da árvore que tem ali atrás.—diz ela sem tirar os olhos das cordas, me inclino pro lado e vejo uma pequena casinha velha de madeira, quase escondida por todo aquele matagal.
—Seu padrasto que construiu?
—Não, foi meu pai, quando a gente morava aqui—ela olha para mim.
—Sasa canta pra gente—Diz a Gabs.
—É!—concorda o Felps.
—Ahn?...—A sasa fala sem graça.
—Vai Fla—Rio, e incentivo ela.
—então... Okay...—Ela posiciona os dedos nos acordes e respira fundo se concentrando
— Your hand fits in mine
Like it's made just for me
But bear this in mind
It was meant to be
And I'm joining up the dots
With the freckles on your cheeks
And it all makes sense to me—Sua voz sai suave enquanto ela canta little things de olhos fechados, entro em transe observando-a, a musica flui e ela não erra e nem desafina, por um momento parecia que só havia nos dois ali.—...You'll never love yourself
Half as much as I love you
You'll never treat yourself right darlin'
But I want you to
If I let you know
I'm here for you
Maybe you'll love yourself like I love you
Oh—Ela sorri enquanto canta de olhos fechados, então ela os abre e me encara de forma serena e continua a cantar soltando um sorrisinho.—I've just let these little things
Slip out of my mouth
'Cause it's you
Oh, it's you
It's you
They add up to
And I'm in love with you
And all these little things. —Ela termina de cantar e sorri e mexe no cabelo, eu bato palmas pra ela e logo em seguida Gabs e Felps também batem, uma leve brisa passa por nos trazendo o aroma das flores, mexo no meu cabelo e me inclino para trás fechando os olhos.
—A gente vai dar uma voltinha—Diz felps.
—Okay—Digo sem abrir os olhos.
—Tá—Sasa confirma.
—Já voltamos—Gabs termina, escuto os passos se afastando de mim e me inclino pra frente novamente olhando para a Sasa que estava deitada no chão, seu cabelo fazia uma coroa desenhada na grama, vou de joelhos até perto dela e me sento ao seu lado, olhando para as nuvens que passam.
—Será que só tem a gente no universo inteiro?— ela quebra o silêncio.
—ahn...—penso—acho que não....—digo meio duvidoso.
— Você nunca parou pra pensar nisso?
— Sim, já pensei nisso várias vezes mas isso me deixa extremamente confuso, e com um pouco de medo?
— medo de Aliens? — ela fala sério para mim.
— Não de aliens, necessariamente não é mais medo do desconhecido mesmo...
—eu tenho medo de Aliens...
—tem mesmo? — Dou uma Risadinha.
— Não ri é sério — ela ri um pouquinho — eu vivo tendo pesadelos com isso, mas acho que é porque eu não os conheço e nem entendo sobre o assunto.
— Tudo bem, todo mundo tem medo de alguma coisa, por exemplo
eu... — pensar um pouco antes de falar, mas acabo falando mesmo assim — ...morro de medo de insetos.
— ah mas isso é normal, todo mundo tem uma aversão insetos, não conheço ninguém que goste deles — ela parece pensar um pouco — bom, A não ser as borboletas e a joaninhas porque a maioria gosta delas.
— Esse é o problema na verdade! Eu tenho medo até delas eu tenho pavor de qualquer tipo de inseto, até mesmo aquelas formiguinhas de açúcar.— ela da uma gargalhada não muito forte e se vira de frente para mim.
— Sabe do que eu tenho medo mesmo?—me viro de frente pra ela e a encaro com os nossos narizes quase se encostando.
— O que? — Digo.
—Que você não faça um ensaio fotográfico comigo...—Olho para ela confuso, pensando em como ela sabia da minha paixão por fotos—É —Ela ri sem graça— A Gabs me contou que vocês fizeram curso de fotografia juntos, e daí o Felps me mostrou seu instagram de fotos profissionais, e você é muito bom nisso.
—Wow faz tanto tempo que eu não tiro fotos...
—Mas e ai?—Ela se levanta um pouco e apoia a cabeça na mão.
—Tem alguma escapatória?—Brinco com ela.
—Não mesmo—Ela balança a cabeça.
—Bom eu só não tenho câmera, a minha quebrou...—Faço os cálculos— as uns 6 meses.
—Bom tem a da Gabs, a gente pode pedir emprestado e fazer as fotos.
—Ótimo então—sorrio ao ver como ela está animada com a ideia, gostaria de fazer ela rir assim mais vezes, então tive a ideia de propor—Por que a gente não tira agora?
—Agora?—Ela abriu um sorriso majestoso.
—É! Não temos nada pra fazer essa luz é ótima, e eu acho que a Gabs não vai se importar.—Me levanto e estendo a mão pra ela como um convite.
—Por que não?—Ela segura em minha mão e se levanta.—Mas e a Gabs e o Felps?
—Ah esses não vão voltar tão cedo—Olho pra ela e sorrio.
—Eles também sabem o caminho de casa.—ainda segurando em minha mão nós vamos indo para casa pela trilha.
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⏰ Última atualização: Sep 06, 2016 ⏰

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