Capítulo 05 - Anna e Maya

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04 de Março de 2016.

- Já vai! - Grita a voz doce da mãe de Anna, dona Karla. Como prometido na segunda feira, hoje eu iria dormir na casa da A. Fomos para a escola normalmente, depois para o teatro. Na volta, passei em casa para tomar um banho, pegar as minhas coisas e ir para a casa dela. Escuto a chave virar na fechadura. - Aah, oi Luna! - E aí, tia Karla? - Pode entrar querida, a Anna está no banho, pediu pra que você aguardasse no quarto dela. Já sabe o caminho de cor, pode subir. - Disse sorrindo. Sorri de volta e subi para o quarto de Anna, já entrando porque a porta estava aberta. - Cheguei! - avisei para ela do quarto. - Pode sentar L, já estou saindo! - gritou Anna de volta, de sua suíte. O quarto de Anna era muito bonito. Era roxo e preto, até mesmo seu banheiro, e repleto de enfeites e fotos. Ela gostava muito de desenhar roupas, sendo uma das opções de faculdade dela, ser estilista. Então havia também desenhos dela por toda a parte, além de uma escrivaninha com o computador, uma televisão, um criado mudo, um guarda roupas e uma cama de casal. Anna saiu do banheiro enrolada em uma toalha, e a tirou para se vestir. Fiquei reparando no corpo da minha amiga, em como ele era bem desenhado e cheio de curvas... Desviei o olhar rapidamente, constrangida comigo mesma por ter feito aquilo. Anna vestiu uma camisola e sentou ao meu lado na cama. - Você quer comer alguma coisa? - A me perguntou. - Ah, não, obrigada. Eu comi antes de tomar banho. - Tudo bem... Ficamos um pouco em silêncio. - Olha L, eu realmente quero que você me perdoe, eu sei que deveria ter te contado tudo isso antes, mas... - Você teve medo, eu sei. Tudo bem A, já passou, o importante é que agora eu sei. - Tudo bem... Bom, tudo começou um ano antes de te conhecer, eu tinha 10 anos e estava no 5° ano. Tinha uma menina na minha escola, que também era do meu condomínio antigo. Ela se chamava Maya e era dois anos mais velha que eu. Um dia estávamos brincando de Barbie, quando ela fez duas Barbies se beijarem. Ela me perguntou se eu gostava daquilo, e eu disse que era curioso, então ela me perguntou se eu gostaria de experimentar. Ela me beijou, e eu gostei e retribui. Foi meu primeiro beijo e eu me apaixonei por ela, assim como ela disse que era por mim. Nós vivíamos grudadas, passamos a fazer tudo juntas, e sempre nos beijávamos escondidas. Até que um dia, um menino começou a rir da gente no intervalo, e gritou bem alto para todos ouvirem que nós éramos lésbicas. - Que horrível, A! - Eu disse. - Pois é, mas o que aconteceu depois foi pior. - Anna suspirou - Ela me beijou na frente de todo mundo, confirmando o acontecido. Só que eu não esperava por aquilo. Então gritei com ela, e disse pra todo mundo que estava mentindo, que eu nunca nem imaginei que ela seria lesbica ou tivesse tentando algo comigo. Ela saiu chorando, e eu me senti péssima. Fui até a casa dela e ela estava decepcionada, não queria falar comigo. Tentei durante muito tempo, mas ela só me ignorava... As pessoas na escola ficaram do meu lado e só humilhavam ela cada vez mais. Até que um dia, ela parou de ir pra escola. Não foi a semana toda. Fui à casa dela, e a mãe dela abriu a porta e começou a gritar comigo, dizendo que eu tinha influenciado a filha dela, que tinha a obrigado ficar comigo, me beijar, e que depois contei pra todo mundo só pra humilhar a filha dela. Disse que não aguentava mais, e que eles iam se mudar da cidade. Saí de lá e chorei o dia todo, percebendo que na verdade eu a amava. Nesse momento, os olhos de Anna encheram de água. - Não precisa continuar se não quiser, A - Eu disse. - Não, espera. - Enxugou as lágrimas e respirou fundo. - Naquela noite, Maya apareceu em minha casa. Eu pedi perdão a ela, disse que se ela quisesse eu contaria a todos, pedi pra ela ficar e disse que se fizesse, seríamos namoradas. Mas ela apenas chorava em silêncio. Disse que me amava muito e que eu tinha sido a melhor coisa a aparecer pra ela. Me deu um beijo intenso e se foi... Pra sempre. Se mudou, deixando tudo o que a gente viveu para trás. Logo depois me mudei também, vindo para cá e indo para nossa escola...Mas eu tentei de tudo. Procurei ela nas redes sociais conforme os anos foram passando e fomos crescendo, mas ela sempre recusava os meus convites... Ela nunca mais quis contato. Até uns três meses atrás, eram 05h da manhã e recebi uma mensagem no meu celular. Dizia "eu te amo para sempre" e era de Maya. Não sei como ela conseguiu meu celular, mas quando fui responder, ela me bloqueou e mudou de número. Sabe, eu nunca mais vou tê-la de volta, mas pelo menos sei que ainda estou em seu coração. - Anna, eu... Eu sinto muito. Eu não fazia ideia, você nunca me contou. Poderia ter te ajudado. - Acontece que você já ajuda, Luna. É por causa de você que ainda estou aqui... Você me ajuda a esquecer, com você eu não lembro dela, do modo como ela se foi e destruiu tudo... Do modo como eu destruí tudo. Fico pensando que se eu tivesse tido uma atitude diferente, ela teria ficado... Nós poderíamos ainda estar juntas... Mas você me faz seguir em frente.
- Não é sua culpa, você não sabia... - eu disse. Anna sorriu. - O tempo foi passando e eu nunca consegui me apaixonar por menino nenhum. Conheci caras lindos e muito legais, fui à muitas festas... Mesmo assim, nunca nem me atrai por alguém do sexo oposto. Pelo contrário... Só consigo achar as meninas bonitas. Como o corpo, a voz, o modo de sorrir e mexer no cabelo, as unhas pintadas me fascinam. Então cheguei a conclusão de que sou lesbica. - Eu sinto muito.. - suspirei. O sorriso de Anna sumiu - Por que sente muito, Luna? Não tem que sentir muito. Eu gosto do que sou, e achei que gostaria também. - Não, desculpa A, eu só não... Sei o que dizer. - Tudo bem, L. Bom, agora você sabe de tudo... Me desculpa sentir medo, mas preciso que fique do meu lado, você é a única que me faz fugir disso. - Eu estou aqui, pra sempre. - Peguei na mão dela. - Sim... Sempre. Anna apertou minha mão e sorrimos uma para a outra.

Doce (não tão doce assim) AdolescênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora