23 de Abril.
Na semana passada e nesta semana inteira, só rolou um assunto no meu grupinho de amigos: A festa de Andrey. Ele convidou outras pessoas da escola, já que tinha ficado muito famoso em apenas três semanas de aula, e todos, claro, iriam. Fiquei aliviada quando finalmente acordei às 10 horas da data da festa, não porque estava ansiosa, mas sim porque não aguentava mais ouvir sobre aquele assunto. Eu ainda estava com o pressentimento de que algo iria acontecer.
Eu nunca fui muito religiosa, mas sempre acreditei em Deus e, quando acordei naquela manhã, fiz o sinal da cruz e pedi em silêncio que nada acontecesse. Levantei-me, coloquei meu roupão cor de rosa e desci para o café da manhã, onde encontrei o meu pai lendo um jornal em seu dia de folga, e minha mãe ao telefone com um de seus clientes.
- Bom dia pai, bom dia mãe. - Disse, com voz de sono.
Meu pai levantou os olhos do jornal, ajeitou os óculos e me deu um beijo carinhoso na testa.
- Bom dia, querida. Como passou esta noite?
- Bem. - Sorri e me sentei.
- Olha, senhor Roberto, eu sei que o senhor está muito irritado, mas não é possível que você consiga uma lei para matarem a sua mulher! Sim, sim, eu sei disso... - Minha mãe revirou os olhos, agitada com o cliente em seu telefone.
Apesar de ser uma mulher jovem, minha mãe exibia sempre uma cara de cansada, com olheiras fundas, marcas do quanto gostava de trabalhar. Era uma ótima profissional. Além de ser advogada na empresa que o meu pai trabalhava, atendia muitos clientes de fora, o que a fazia ganhar muito bem por isso. Eu preferia que ganhasse menos, e descansasse mais.
Meu pai não deixou de esconder aquele olhar de desaprovação por trás do jornal. Ele detestava que aborrecessem minha mãe nos fins de semana. Quando ela finalmente desligou o telefone, suspirou fundo e disse:
- Francamente... Bom dia, querida. - Sem olhar para mim.
- Helena, que tal comer? - Disse o meu pai.
- Claro, querido. - Sorriu e pegou um croissant da mesa.Dos três filhos, eu era sempre a que acordava mais cedo. Depois de uns minutos em silêncio comendo, minha mãe olhou para mim.
- É hoje a festa do filho do senhor Kingston, não é? - Ela perguntou, mesmo já sabendo.
- Sim, mãe. - Respondi, já cansada com as milhares de recomendações que eu vinha recebendo e que sabia que iria receber novamente.
- Sabe o quanto essa família é importante para nós, não é?
- Como poderia esquecer, se você me lembra disso a cada segundo?
- O que estou querendo dizer é que você precisa nos ajudar, e essa festa é a oportunidade perfeita. Precisa ser extremamente gentil e educada, para que as famílias Kingston e Stone tenham uma boa impressão da família Price.
- Mãe, eu já sei disso. Não pode deixar o seu trabalho um pouco de lado?
- Ela tem razão, meu amor. Além do mais, nossos filhos possuem uma educação exemplar, Luna não fará feio. - Meu pai sempre foi menos preocupado e mais calmo e descontraído do que minha mãe. Lhe envio um olhar de agradecimento, que ele responde com um mero aceno de cabeça. Sempre fui muito próxima do meu pai, e por isso, temos uma conexão boa o bastante para nos comunicarmos em silêncio.
- Sei disso, Lucas, mas sabe que Amélia Kingston nos ligou no começo da semana se desculpando por não nos convidarem, dizendo que o filho só queria adolescentes pra festa dele. Se importam conosco! Não quero que nada dê errado.
- Nada vai dar errado. Apenas confie nela e em si mesmo. - Meu pai lançou um sorriso tranquilo para minha mãe - Agora, coma.
Terminamos de comer em silêncio, e eu fui a primeira a sair da mesa. Subo em direção ao meu quarto e envio uma mensagem para Anna.
"Bom dia."
Não demora mais do que 5 minutos para que eu receba a resposta.
"Bommmmm diaaaa, L! É hojeeee!"
Dou risada sozinha e recebo outra mensagem.
"Vai pegar geral hoje?"
"Não comece, Anna."
"Qual é, Luna?! Você já tem 16 anos, está na hora!"
"Eu decido quando está na hora."
"O que está esperando? O príncipe encantado? Você sabe que isso não existe."
"Não me pressione, A. Vou saber quando for a hora e a pessoa certas."
"Tudo bem, L, você que sabe de si mesma. Já estudou para a prova de segunda?"
"Vou estudar no domingo, e você?"
"Estou estudando e vou estudar o dia todo. Amanhã provavelmente vou estar com uma ressaca muito fodida para estudar, Kkkkkk."
"Sua doida. Kkkkk."
Deixo o meu celular no criado-mudo e abro o meu livro. Passo pouco mais de uma hora lendo, quando escuto uma batida em minha porta.
- Entre.
Meu irmão Hiago entra, ainda de pijama.
- Bom dia, Lulu. - Meu irmão me chama assim desde bebê.
- Bom dia, Ago. - Também o chamo assim desde bebê. - Na verdade, boa tarde, pois já são... - Checo a hora - 12h15.
Hiago senta em minha cama.
- É hoje a festa?
Suspiro. Aparentemente a minha mãe e os meus amigos não são os únicos a estarem obecados por essa festa.
- Sim.
- Ainda bem. Não aguento mais ver a mamãe tão obcecada por isso.
- Pois é, eu também não.
Ficamos em silêncio por um momento até que me toquei.
- Você não veio me procurar à toa... Sobre o que quer conversar?
Meu irmão hesita um pouco.
- Do que... Do que vocês, meninas, gostam?
- Depende muito. Do que está falando?
- Sobre o quê gostam de conversar, presentes que gostam de ganhar, essas coisas.
Fico chocada e abro um sorriso gigante.
- Hiago!!! Você está apaixonado?
Meu irmão fica muito vermelho.
- Não! - Fala um pouco alto demais - É que... Tem uma menina nova na minha sala. Ela senta na minha frente, e nós sempre conversamos, mas muito pouco... Ela é bonita e muito legal, mas não sei sobre o que conversar com ela.
- Entendi. - Acho muito fofo aquela situação e não consigo parar de sorrir, o que deixa meu irmão bem desconfortável. - Olha, você pode perguntar de qual escola ela veio, qual é a matéria favorita dela e de que tipo de música ela gosta... Um assunto vai puxando o outro, e você pode até depois de um tempo pedir o número dela.
Hiago ficou com o rosto iluminado, me deu um beijo na bochecha e disse:
- Obrigado, Luna. Você é demais!
Aperto suas bochechas.
- De nada, Romeu. - Rio enquanto ele sai.
De repente, tenho uma ideia.
Pego o meu celular e mando mensagem para Matt e Anna, para irmos comprar o presente de Andrey, e eles disseram que me encontrariam em uma hora na frente da minha casa. Pedi um uber para este horário, vesti uma roupa e peguei 100 reais da minha mesada.
Uma hora depois, quando já estávamos no uber, Matt me perguntou:
- Por que teve essa ideia do nada?
- Meu irmão está afim de uma garota da sala dele. Achei fofo, e quis comprar um presente para ele dar a ela.
- Nossa, alguém está sendo solidária com o irmão? - Anna riu.
- Estou de bom humor hoje. - Sorrio - Já sabem o que vão comprar para o Andrey?
- Tem que ser algo bem especial, que o faça se lembrar de minha amizade. - Matt disse.
Anna expôs um sorriso malicioso em minha direção, e eu retribui.
- Estou pensando em algo do "Star Wars". - Anna disse.
- Não sei o que vou dar ainda. - Fico pensativa.
Durante o resto do caminho, ficamos rindo e cantando as músicas que tocavam no rádio do uber. Ao chegarmos, dividimos o valor da corrida em 3 e descemos no shopping.
Fomos a uma loja de presentes personalizados que Anna queria, e ela escolheu um funko do "Darth Vader", que Andrey já havia dito gostar. Matt comprou um porta retrato personalizado, e disse que era porque ele queria que Andrey colocasse uma foto deles quando eles tivessem uma.
Depois de várias opções, decidi optar por um kit de cinema com tema de história em quadrinhos, e para a menina da sala do meu irmão, escolhi um panda de pelúcia, imaginei que ela fosse gostar. Comemos no "Mc Donald's" e depois voltamos para o uber, cada um para sua casa. Assim que cheguei, minha mãe já veio para cima de mim, querendo saber se o meu presente era adequado. Ela não gostou muito, achou que deveria ser algo mais caro, mas ficou um pouco mais satisfeita quando lhe expliquei os gostos dele. Como dar um presente caro pra um garoto rico? Ele provavelmente tem tudo!
Recebi uma mensagem de Anna dizendo que ela ia para o salão de beleza se arrumar. Olhei a hora: eram 16h30. Ainda faltavam 03 horas e meia para a festa. Revirei os olhos com a ansiedade de Anna e subi para o quarto do meu irmão. Bati na porta três vezes, mas ele não abriu, porque estava ouvindo um rock muito alto. Decidi que falava com ele depois e fui para o quarto de Mia.
Bati na porta e ela abriu, vestida num roupão roxo, com um rímel na mão e os cabelos enrolados no "Baby-liss" da outra mão.
- Oi, Luna, entre.
- Vai pra onde? - Entrei, fechando a porta atrás de mim.
- Hoje o pessoal da faculdade decidiu dar uma social, fui avisada de manhã. Comprou o presente do Andrey?
- Como sabe disso? - Me sentei em sua poltrona roxa.
- Mamãe estava comentando na mesa, na hora do almoço.
- Ah, sim.
- Luna... - Mia para de passar rímel e olha para mim. - Sabe o quanto essa família é importante pros nossos pais. Confio em você, mas por favor, não os envergonhe.
- Estará tudo sob controle. - Dou um sorriso amarelo.
- Tudo bem, então. - Mia abre seu guarda-roupas e pega dos cabides um vestido de renda vermelho na altura dos joelhos, e um conjunto de cropped com saia longa estampados. - Qual você acha melhor?
- O conjunto.
- Ok, o conjunto. - Ela coloca o vestido de volta no cabide e fecha a porta do guarda-roupas. - O que comprou pra ele?
- Um kit de cinema de história em quadrinhos. É só um balde de pipoca e vários copos de refri.
- Entendi. O que a mamãe disse sobre esse presente?
- Ela não gostou muito, mas entendeu. Acha que eu deveria ter comprado algo mais caro.
Mia revira os olhos.
- Tenho certeza de que ele vai adorar. - Mia disse, me tranquilizando.
- Obrigada, Mia. Bom, vou para o meu quarto. - Disse, levantando-me da cama e dando um soquinho com minha irmã, coisa minha com meus irmãos.
Deito em minha cama e adormeço, acordando às 18h45 com meu irmão nos chamando para o jantar. Na mesa, quando a minha mãe ia começar a falar, meu pai a interrompeu:
- Helena, a Luna já sabe de tudo o que você vai falar. Por favor, façamos um voto de silêncio e vamos comer em paz.
Todos ficaram em silêncio e comeram em paz, e eu agradeci mentalmente a todo momento o meu pai por aquilo. Levantei e disse que ia me arrumar.
Subi para o meu quarto, entrei em meu banheiro e tomei um banho quente e relaxante. Me enxuguei com minha toalha rosa, passei desodorante e perfume, coloquei o vestido preto e branco da minha irmã e minha sapatilha preta da "Moleca", porque era bem confortável. Do jeito que conheço minha melhor amiga, ia levar bronca por não ter colocado salto. Deixei meu cabelo (que havia pintado de azul no começo da semana) solto, mas logo depois fiz uns cachos com o "Baby-liss" e fiz uma maquiagem com base, pó, lápis, rímel, blush, sombra preta e branca e batom vermelho. Quando estava pronta, era 20h02, e recebi uma mensagem de Anna:
"O uber chega em 3 minutos, já estou pronta na porta de casa. Finalmente!!!"
"Estou descendo."
Logo depois recebo uma mensagem de Matt.
"Estou esperando por vocês. Não esqueçam os presentes."
"Ok."
Pego o presente de Andrey e minha bolsa "clutch" prata com o batom, minha chave e meu rg, coloco brincos e um colar de pingente de coração e desço para encontrar com Anna. Meu pai se emociona (como sempre) e diz que eu tou linda, meu irmão me dirige um sorriso e um "boa sorte" e minha mãe me dá um beijo na testa e me diz para arrasar.
Quando saio de casa, sinto um ar frio pelo meu rosto, e enxergo Anna do outro lado da rua. Ela está com um lindo vestido longo de renda branco, uma maquiagem bem feita e um penteado chique, além de brincos, um colar e um salto alto preto que eu pude ver quando ela levantou o vestido para atravessar a rua. Em sua mão estava uma bolsa "clutch" preta e o presente de Andrey. Sua mãe veio logo atrás.
- Meninas, vocês estão tão lindas! Me deixem tirar uma foto de vocês!
Nós nos juntamos, sorrindo, e ela bate a foto, em seguida dá um beijo em cada uma de nós, nos deseja boa sorte e volta para dentro de casa.
O uber chega dois minutos depois, e logo passamos para motorista o endereço de Matt e o da festa, descrito no convite. Dez minutos depois, o uber para na porta de Matt, e ele já está para fora. Está muito bonito, com um boné preto, uma blusa social preta, calça jeans preta e um tênis branco, com o presente de Andrey na mão. Ele entra no uber, todo saltitante, e posso sentir o cheiro forte e gostoso de seu perfume.
- Olá, minhas meninas! Uau, como estão gatas! - Ele nos cumprimenta com um beijo.
- Você está deslumbrante! - Anna sorri.
- Muito bonito mesmo. - Concordo.
Fomos o resto do caminho em silêncio, e uma pontada de nervoso me atinge na barriga quando enxergo a casa luxuosa e cheia de luzes, carros, pessoas e seguranças em volta.
- Chegamos. - Nós três dissemos, surpreendentemente, ao mesmo tempo.
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Doce (não tão doce assim) Adolescência
RomansaE aí, pessoal ? Meu nome é Gii, e tenho 16 anos. Sou nova nesse negócio de escrever, então espero que tenham paciência kkkk... Por favor, façam comentários, elogios e críticas construtivas, pretendo postar uma vez por semana cada capítulo ! Espero q...