29 de Fevereiro de 2016. Segunda-feira, novamente. A mesma rotina chata de ter que acordar cedo, tomar um banho, tomar café e esperar o ônibus escolar chegar. Mas dessa vez, algo na rotina foi interrompido. Eu não me sentei no ônibus ao lado de Anna, como sempre fazia. Me sentei ao lado de Amanda, a menina da festa do pijama que fizera a pergunta destruidora. Ela me deu bom dia, me olhando com cara de culpada. - Você... Está bem? - Me perguntou. - Poderia estar melhor. - Ficou sabendo? - Amanda mordeu os lábios. - Do quê? - Olhei para ela. - Mia e Helena espalharam a notícia pra todos da escola... O ensino médio inteiro já sabe que a Anna é... bom, lésbica. Fiquei espantada com o que ouvi, e só por isso me dei conta do que estava acontecendo ao meu redor. Anna, que geralmente era muito amigável e simpática com todos, estava no fundo, sentada sozinha e cabisbaixa. Todos ao redor olhavam para ela e cochichavam entre si, e de repente senti uma vontade enorme de abraçá-la... Mas não podia fazer isso. Se ela quisesse meu abraço e meu apoio naquele momento, ela teria me contado. Fechei meus olhos e aumentei minha música em meus fones de ouvido, e esperei o ônibus parar anunciando a chegada da escola para abri-los e tirar meus fones. A minha parte favorita na Escola Particular de Serra Gaúcha, minha cidade, era que os armários dos corredores eram estilo aquelas escolas americanas, grandes e pintados de um azul royal, uma das cores da escola. Fui até o meu armário, que era o do meio entre o de Matt e Anna, e abri com a sequência numérica certa. O interior dele era repleto com adesivos, bottons de animes e fotos das minhas bandas favoritas, e minhas com Anna e Matt. Peguei alguns livros e fechei o armário, levando um susto quando me deparei com Matt ali parado. - Bom dia... Como você está? - Me perguntou, com um tom compreensivo. Ignorei-o e sai andando, deixando Matt com cara de tacho. Ao chegar na minha sala, notei que Anna estava ainda cabisbaixa e, quando nossos olhares se encontram, eu desviei o meu para o resto da sala. Meus colegas de classe, assim como os do ônibus, estavam cochichando e olhando para ela. Alguns com olhar de desprezo, outros com olhar de compreensão e até alegria. As primeiras duas aulas foram normais, prestei atenção e senti de vez em quando os olhares de Matt e Anna em mim. Foi na terceira aula que a bomba explodiu, quando uma garota que nunca foi com a minha cara nem com a de Anna, Ingrid, fez a seguinte pergunta olhando diretamente para Anna. - Professora, o que você acha de lésbicas? Não, porque eu acho algo super nojento e anti natural! A mulher foi feita para o homem, e vice versa. - Isso para mim é falta de um bom homem que tenha uma pegada boa. - Disse Leonardo, o namorado puxa-saco de Ingrid, com um sorriso malicioso. - Mas tem menina que é tão feia e sem graça, que precisa gostar de mulher, porque sabe que nenhum homem vai querer, não é mesmo professora? Porque assim, gays são legais e engraçados, mas mulher com mulher é ridículo. - Disse Carla, a melhor amiga nojenta de Ingrid. Nesse momento, o sinal tocou, e Anna saiu correndo da sala para o banheiro feminino. - IDIOTAS! Você não vai atrás dela? - Disse Matt para mim. - Foi em você que ela confiou para contar, por que não vai você atrás dela? - Disse, com rancor. - Luna, eu entendo seu lado, mas você está sendo muito egoísta. É melhor parar com isso. - Disse Matt, saindo com raiva. Mordi os lábios me sentindo um pouco culpada, mas depois me lembrei de que ela mesmo disse que eu merecia um tempo, e fui para o intervalo. Me sentei com Amanda e Giulia, que estavam tristes por Anna. - Eu não acredito que a Mia e a Helena fizeram isso com a Anna... - Disse Amanda. - É, elas foram duas vacas! - Disse Giulia, com raiva. - Você ainda não está falando com ela, Luna? - Disse Amanda. - Não... - Eu entendo que você ficou chateada, acho que no seu lugar ficaria do mesmo jeito se Giulia fizesse isso comigo, mas ela está sofrendo e merece o seu apoio. Pense nisso com carinho. - Disse Giulia, se retirando com Amanda quando o sinal tocou, me deixando sozinha com os meus pensamentos. Mordi os lábios e me retirei direto para o banheiro feminino, levando um susto quando me deparei com Matt ali dentro, falando baixinho na porta de uma cabine fechada, com supostamente Anna lá dentro. - O que diabos você está fazendo aqui dentro?! Quer ser expulso?! - sussurrei alto. - Usei minha beleza para convencer a inspetora a me deixar ficar... E você, tomou consciência do seu egoísmo, ou vai ficar sem falar com a gente o ano inteiro? - Isso não é justo comigo, Matheus. Vocês esconderam isso de mim... Me diz, por que fez isso, Anna? Nesse momento, Anna destrancou a porta e saiu de lá, limpando as lágrimas. Olhou em meus olhos e me agarrou. - Me desculpa, L - Disse, voltando a soluçar - Eu sei que deveria ter te contado, mas... Não sei o que deu em mim... Eu tive medo. Contei ao Matt porque ele é gay, sabia que me entenderia... Eu realmente não sei o que deu em mim, prometo que nunca mais vou te esconder nada. Não queria decepcionar você, mas preciso de você do meu lado!
- Olha Anna, isso me magoou muito, e eu sei que no meu lugar você ficaria assim também... Mas eu te perdôo, porque sei que talvez também sentiria medo... - Disse, devolvendo o abraço. - Ah, obrigada! Mesmo - Disse, suspirando de alívio. - Ótimo, agora que as duas voltaram, vamos para sala? Eii, não faça essa carinha - Disse Matt para Anna, quando ela tirou o sorriso do rosto - Você é forte, e vamos te ajudar a resolver essa situação. - Ele tem razão, A - Eu disse. - Tudo bem... Confio em vocês. Saímos do banheiro direto para a sala, descobrindo que teríamos de novo história, a mesma aula de antes do intervalo. - Muito bem, eu exijo explicações sobre o que aconteceu aqui antes do intervalo. - Disse a professora Eloise. - Eu explico, professora. - Disse Matt, quando já havíamos sentado em nossos lugares. - Matt, não - Anna sussurrou. - Acontece que - Disse Matt, ignorando Anna - as minhas melhores amigas, Anna e Luna, tiveram a ideia de fazer uma festa do pijama na casa da A para se enturmarem melhor, festa essa que ocorreu no sábado. Mas, por um infortúnio, brincando de "verdade ou desafio", uma das garotas questionou a sexualidade da Anna, que respondeu que era lesbica. Graças a isso, duas das seis meninas que estavam lá, fizeram o papel das fofoqueiras mal amadas, e contaram para o ensino médio inteiro, que agora está desrespeitando a minha amiga. - Muito obrigada, Matheus. Pode se sentar agora. - A professora respirou fundo e olhou ao redor para a classe - Vocês acham isso bonito? Na faixa etária de vocês, terem esse tipo de preconceito com a colega? Vocês podem não concordar, mas todos merecem respeito! Por causa disso, quero um trabalho de no mínimo 30 linhas sobre como respeitar os outros para quarta feira, excluindo desse trabalho apenas Matheus, Anna e Luciana. Se eu souber de mais algum desrespeito para com a colega, os pais serão comunicados. Avisarei seus professores. Murmúrios de frustração encheram a sala, e Matt sorriu e disse para nós duas. - Sem trabalho para nós, meus amores! As duas últimas aulas foram normais, Anna já estava se sentindo melhor e fiquei feliz por ter perdoado minha melhor amiga. Quando o sinal tocou anunciando o fim das aulas, Anna me puxou e disse: - Dorme lá em casa sexta depois do teatro?, Acho que te devo explicações melhores. - Tudo bem. - Disse, e sorrimos uma para outra, seguindo direto para o ônibus escolar.
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Doce (não tão doce assim) Adolescência
RomanceE aí, pessoal ? Meu nome é Gii, e tenho 16 anos. Sou nova nesse negócio de escrever, então espero que tenham paciência kkkk... Por favor, façam comentários, elogios e críticas construtivas, pretendo postar uma vez por semana cada capítulo ! Espero q...