capítulo 5

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  Estava à toa na vida, ouvindo "Ela vai voltar", do Charlie Brown Júnior, num celular emprestado.

  Ouço uma gritaria na sala

  Assustada, corri até a o corredor que dava pra sala. Comecei a escutar.

  - Cala a boca, Lucas! Eu sou sua mãe, se não se lembra.

  - Mãe, eu preciso sair! É sério!

  - Escuta aqui, guri, quem você pensa que é?

  - Sou jovem. Sou gente. Gente como VOCÊ! Tenho os mesmos direitos!

  Nossa mãe ficou muda.

  - Mãe, eu só vou na padaria! É sério!

  - Ah, mas nem pensar! Eu vou depois.

  Xiii... Pelo visto aquela conversa seria loooonga. Perdi a vontade de escutá-la.

  De repente, vi pela janela meu irmão saindo de casa tranquilamente. Malandramente.

  Huuummm... Talvez se eu conseguisse enrolar nossa mãe eu conseguiria sair.

  - Mãe, eu vou sair, tá? - avisei.

  - O quê? Cê tá de castigo, lembra?

  - Exatamente. Você disse que eu ficaria de castigo uma semana e hoje é sábado. Ou seja, a semana já passou.

  - A semana só acaba segunda, Jéssica.

  - Arrá! Aí é que você se engana! Nos calendários o domingo seria o primeiro dia da semana, pode conferir. Ou seja, a semana termina no sábado e amanhã começa uma nova semana. Entendeu?

  Silêncio.

  - Jéssica, eu não tenho tempo pra isso, ok? - ela falou, com a mão na testa.

  - Eu sei me cuidar. Volto em duas horinhas. Além do mais, o certo seria eu ficar quanto tempo  quisesse na rua, né? Porque as semanas...

  - Tá bom, tá bom, tá bom! Vai, Jéssica! Vai! - pediu impaciente.

  Ufa! Finalmente livre!

  Estava pulando feito uma gazela até esbarrar com alguém. Caí na mesma hora.

  - Você tá bem? Desculpa! - pediu uma voz familiar. Não podia ser!

  - Jéssica! Sou eu, o Marcus! - disse ele.

  - Meu Deus, o que cê tá fazendo aqui? - perguntei, ainda espantada.

  - Tô indo encontrar uns amigos. Mas que bom que te encontrei! O Marcelo falou bastante de você. - ele comentou.

  - Sério? O que ele disse? - perguntei, curiosíssima.

  - Falou que você tá estranha.

  "My god!" pensei. Esse Marcelo só abre a boca pra falar inverdades!

  - Ele também tá meio estranho. - devolvi.

  - É, eu percebi.

  Nesse momento, o colar dourado que eu tinha colocado caiu (não sei como. Até hoje é um mistério).

  Imediatamente, Marcus se agachou e pegou o colar.

  - Posso? - perguntou ele, mostrando o colar.

  - Claro. - falei.

  Ele colocou o colar no meu pescoço. Meu coraçãozinho malandro acelerou. Ao nosso lado, um cara estava sendo perseguido por um cachorro enquanto gritava, mas eu não prestei atenção. Eu olhava fixamente para Marcus. E ele olhava pra mim.

  - Valeu. - Foi a única palavra que consegui formar.

  Marcus continuava a olhar pra mim. Com o charme que me é peculiar, comecei a me aproximar dele. Com a cara um pouco assustada, ele me afastou e avisou:

  - Não se mexe. Tem uma aranha no teu ombro!

  Arregalei os olhos. Automaticamente gritei e comecei a me mexer toda, na tentativa de tirar a aranha. Mexi meu cabelo tal qual faz a Joelma. Berrei mais que o cara que tava sendo perseguido pelo cachorro.

  - Calma! Calma! - dizia Marcus. - Ela não tá mais aí! Já passou!

Olhei para os lados. Algumas vezes até senti a aranha.

  Quando me certifiquei que aquela aracnídea não estava em meu corpo, respirei fundo.

  - Ufa! - falei, sem mais nada de bom pra falar.

  - Bom, tchau Jéssica! Tô indo.

  - Mas já?

  - É. Não posso demorar muito. Tchau! - ele acenou e se foi.

                        ***

  Eu e Kelly estávamos sentadas numa lanchonete perto de casa.

  - E aí, Kelly? Como anda teu namorado de quatro meses? - perguntei.

  - O Bryan tá bem. Ele é muito cavalheiro!

  - Cê tá com sorte, em? - brinquei, sabendo que depois de completarem cinco meses de namoro ela partiria pra outra.

  - E como andam as coisas com o Marcelo?

  - Bom... Estão boas.

  - Iiiihh... Conheço essa cara! O que tá pegando?

  Intimidade é chato, né?

  - Nada. É só o irmão do Marcelinho que...

  - Rá! Não ACREDITO!

  Disse isso e caiu numa gargalhada.

  - Shhh!!! Fala baixo! - pedi entre risos.

  - Cê tá gostando do irmão do Marcelo, né? - ela perguntou, vermelha de tanto rir.

  - Não é bem isso... É que...

  Kelly tinha parado de sorrir de repente.

  - Ô, Jéssica. Aquele alí não é teu irmão? - perguntou Kelly.

  Me virei. E vi o que não queria ter visto. Meu irmão beijando a aluna nova. É, aquela que eu não fui com a cara. Fiquei boquiaberta.

  - Vamos sair daqui. - ordenei. Na mesma hora eu e Kelly fomos embora.

 

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