Siga seus instintos - 07/09/2016

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Cruzei os braços tentando evitar que o frio me deixasse congelada. Esperei o sinal do semáforo ficar vermelho e atravessei com pressa. Aquele dia estava sendo pior do que o esperado. O feriado que devia ser um dia de descanso e conforto dentro de casa acabou sendo para mim um dia de trabalho e facadas.

- Moça, poderia me ajudar. - um senhor que andava lentamente me pediu para ajudá-lo com as sacolas pesadas a tempo que conseguir atravessar a extensa faixa de pedestre.

- Claro. - corri até ele e peguei quase todas as sacolas de sua mão.

Ele parecia ter algum problema da coluna que era enxada e apresentava uma corcunda. Não cheguei a reparar no sinal, só vi um carro passando bem perto e quase atropelando o senhor idoso que vinha caminhando atrás de mim. Quando vi o que havia acontecido, rapidamente deixei as coisas na calçada e gritei.

- Não tá vendo o sinal vermelho não? Seu merda! - gritei indo para o meio da rua.

Os carros buzinaram e alguns motoristas me xingaram já que o sinal havia ficado verde e eu estava igual uma maluca gritando para um cara que nem ligou para meus berros.

- Venha cá minha jovem. - o senhor que já estava na calçada segurando suas sacolas novamente me chamou.

Ainda arfando de raiva com o ocorrido saí da frente daqueles carros e fui até a calçada.

- Obrigada pela ajuda.

- De nada. Não ligue para aquele cara estúpido. Aqui em São Paulo tem uns caras que superam o nível do ridículo. - disse ainda com mais raiva.

- Parece que alguém a deixou brava. - ele disse com um sorriso torto - quem quer que seja, você parece gostar muito dessa pessoa.

- Por que diz isso? - perguntei.

- Para te deixar irritada e ao mesmo tempo caidinha desse jeito o cara deve ter vacilado com você. - ele conseguiu ver tudo isso em apenas 1 minuto de conversa.

- Vacilou. - disse por fim.

- Siga seu instinto. Obrigada de novo. - ele caminhou para seu destino.

Fiquei parada repetindo aquelas palavras. "Siga deu instinto". O que eu gostaria de fazer nesse momento? Dar um tapa na cara dele com certeza... Mas ao mesmo tempo eu beijaria aquele rosto de Deus grego que ele tem.

Então era isso que eu ia fazer.

Atravessei novamente a faixa de pedestre, mas dessa vez o sinal estava fechado e eu estava passando pelos carros em movimento. Muitos me xingaram, mas nem liguei. Não sentia mais frio somente o calor do momento. Andei mais alguns metros até a entrada da minha Faculdade. Aula no feriado? Não, mas eu costumo vir estudar sempre que posso. Entrei dentro da biblioteca que estava vazia e fui até o gabinete dos estudantes de jornalismo. Sérgio estava em pé na janela conversando com alguém pelo celular. Parei atrás dele e o escutei.

- Ela não vai me ouvir... Eu falei isso para ela e fui presenteado com um "não acredito"... eu disse que estávamos estudando na minha casa e alguém mandou uma mensagem maldosa falando isso para ela terminar comigo... Julia nunca ouve, ela vai pelo instinto dela... eu sei, não vou desistir, jamais...claro que a amo! Muito, até demais. Só não tomei coragem de dizer isso para ela... Tem razão, vou agora mesmo atrás dela.

Quando ele se virou para trás ainda com o celular em mãos ele paralisou.

- Ju-julia... Eu...

- Cala boca. - disse indo até ele e dando um belíssimo tapa em sua bochecha

- Mas eu...

Tasquei um beijo também belíssimo em seus lábios o impedindo de falar.

Seguir meus instintos, ótima dica daquele senhor.


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