Inocente - 05/09/2016

3 0 0
                                    

Eram 3 da manhã e meu apartamento se encontrava escuro, silencioso e com a luz do poste da minha rua clareando meu quarto. O alaranjado invadia meus olhos que estavam pequenos. Puxei o cobertor até o pescoço e me aconcheguei na cama. Fazia uma semana que essa cena se repetia, até que algo aconteceu. Três batidas na porta.

Levantei-me da cama preparada para dizer a pessoa que interrompera meu sofrimento que é o apartamento errado. Coloquei meu roupão e fiz um rápido nó no meu cabelo. Abri a porta sem entusiasmo algum.

Meus olhos ficaram sem reação, minha mandíbula ficou tensa e senti minhas mãos segurarem firme a porta. Senti minha boca formigar e meus lábios formarem uma linha reta. Ele estava li, bem na minha frente, de calça jeans e com uma blusa azul marinho. Seu cabelo estava brilhoso, mas seu rosto era o oposto. Ele estava diferente, com um cheiro diferente. Bebida. O azul de seus olhos não era o mesmo, as olheiras estavam profundas. Pelas noites sem dormir. Sua mão estava machucada e vi um corte em cima da sobrancelha. Não tinha me encarado, mas nem precisava.

Eu não conseguia o mandar embora.

- Eu... – ele começou – não devia estar aqui tão tarde.

- Não devia. – falei encarando meus pés.

- Mas eu tenho que dizer uma coisa. Olha para mim. – levantou sua mão e a passou levemente pelo meu rosto que ardia com seu toque. Levantei os olhos em sua direção. – Eu errei, eu errei muito, mas não posso mudar o que eu fiz no passado e isso é uma coisa pela qual jamais vou me perdoar. Mas por favor, não me faça querer apagar o que eu vivi com você. Deixa-me consertar para eu não me arrepender do futuro também. Eu menti por não ter falado para polícia o que ele estava tramando, talvez se eu tivesse falado ele poderia estar vivo, na cadeia, mas vivo. Ou talvez não. Talvez ele estivesse condenado de qualquer jeito. Por que quem erra paga, e juro por Deus que eu estou pagando cada centavo pelos meus erros. Sei que me culpa pela morte dele, mas também sei que você não quer me culpar, por que me ama. Você não precisa dizer isso para eu saber. Mesmo eu dizendo isso todos os dias para você e sabendo que um dia você saberia sobre meu passado eu nunca me arrependi por não ter te contado, por que os últimos meses foram os melhores na minha vida e não mudaria isso por nada. Bianca... – ele disse meu nome enquanto tomava forças para continuar. Deu uma longa pausa. – eu vou dar meu depoimento amanhã para polícia. Dizer tudo que eu sei sobre o golpe da empresa, sobre os gráficos que abaixaram pelo dinheiro roubado... Talvez ajude a identificar quem mais estava por trás disso, mesmo que eu leve a culpa também. Não vou deixar tudo nas costas de um falecido.

Eu fiquei surpresa e ao mesmo tempo aterrorizada.

- Não, não, você... – comecei, mas minha voz sumiu.

Meu corpo não se movia, me senti como um caranguejo sendo ameaçado e se escondendo dentro da casca. Me encolhi e senti minha cabeça queimando.

- Meu amor... – ele se aproximou e me abraçou. Isso parecia uma despedida. Isso não podia ser uma despedida, nem ferrando. – Você me abriu os olhos e sou grato eternamente.

O empurrei para longe de mim quando percebi o que estava havendo. Fechei os olhos por um segundo, depois abri e o encarei.

- Não vou deixar você fazer isso... – disse colocando a mão na boca e olhando para todos os lugares possíveis procurando um jeito de convencê-lo a ficar. Ficar comigo.

- Pensei que era o que você queria. – ele disse cabisbaixo – Eu vou ficar lá por algum tempo, depois vou sair e viver sem a culpa me atormentando. De tudo errado, você é a única coisa certa na minha vida.

- O que eu queria? – eu disse nervosa. – Nate, eu tive uma infância de merda. Não tive minha mãe comigo, nem meu pai que vivia no trabalho. Eu cresci rodeada de pessoas estranhas tomando conta de mim e meu pai nem se importava. Ele mereceu cada tiro que aquele policial deu nele. – disse com ódio transbordando em casa palavra da última frase - Nunca quis você preso... – me aproximei dele colocando minha mãe em seu rosto. Fechou os olhos para sentir a sensação da minha mãe na sua pele. - Você era inocente e se contasse alguma coisa podia se encrencar. Não faça isso, você não é culpado. Eu talvez seja por odiar tanto meu pai morto.

- Não precisa ter ódio, ele está pagando pelo que fez em algum lugar. Bia, você não tem que viver com os erros deles.

- Você acha? – perguntei.

- Tenho certeza.

Depois de um tempo me abraçando eu me afastei e coloquei minhas mãos em seu rosto.

- Nate, por favor, não se entrega. Não posso perder mais ninguém. Não posso.

- Você nunca vai me perder. – ele me puxou e me beijou. Nate me beijava com desespero e ansiedade de ter minha boca na dele. – Eu. Te. Amo. Tanto. – ele disse entre suspiros e dando beijinhos em volta da minha boca.

�������S6���

Diário CrônicoOnde histórias criam vida. Descubra agora