O Manipulador De Estrelas: Quando As Estrelas Contam

O Garoto que Acendeu uma Estrela

Cícero

Chego mais perto do amontoado de madeiras no chão. Com a tocha em minha mão, acendo a grande fogueira, o fogo rapidamente se alastrou, consumindo cada pedaço. A escuridão da pequena cidade foi totalmente expulsa, todas as energias negativas agora queimam e todas as energias positivas se fortalecem.

Todos os dias durante a noite essa pira é acesa. Todos os dias de noite eu me encanto com a beleza dela como se fosse a primeira vez. Largo um sorriso de agradecimento à fogueira, me viro e sigo com Luana na direção da muralha.

— Cícero, confesso que estou com um pouco de receio para escalar aquilo — contou ela com o olhar perdido na imensidão do muro, me lembro da minha primeira escalada, não conseguia parar de pensar que a ideia é aterrorizante e isso me fez errar diversas vezes.

— Aqueles muros nos protegeram sabe-se lá por quanto tempo, olhe pra eles e pense que ele nos concedeu toda essa incrível cidade, lá fora não existe cidade mais unida que a nossa. Prisão da Lareira é um lugar mágico percebe? E tudo por causa desses muros. Não tenha medo, eles nos protegem, nunca machucam — aconselho. Demonstro um sorriso para, mostro não há com o que se preocupar.

— Obrigada Cícero, não acho que isso fará tudo ocorrer perfeitamente, mas foi confortante.— Ela mostra um sorriso largo.

Ali está, o muro imponente à nossa frente, um colosso de pedras. Algumas cordas pendem lá do alto, presas forte o suficiente para erguer um corpo. Luna está perplexa, nem todos os moradores vêm até o pé do muro, apenas admiram de longe, outros preferem esquece-lo.

Sento no banco de madeira, não confio muito nele, há outras formas de subir esse muro, mas me contento com o que temos. Observo Luna fazer o mesmo.

— Você precisa prender essa terceira corda no cinto. — Luana faz que sim com a cabeça. Agarro uma quarta corda e começo a puxar para que a cadeira suba.

— Cícero! Têm pessoas nos olhando. Não parecem felizes. — Olho para trás, é claro que estão lá.

— Não se preocupe Luana, são apenas frutos da inveja— E espero que permaneçam assim.— São almas que nunca vão evoluir— Sussurro. Ouço um zunido estranho, o qual quebra totalmente o silêncio tradicional da cidade e então uma flecha se quebra na rocha acima de mim. Eles ouviram o que eu disse, não há outra explicação, no entanto nunca vivenciei tal agressão outrora, essa é nova. Luana está me encarando um tanto pasma.

— É eles não falam sobre isso na escola não é?— forço um sorriso para descontrair.— Vamos continuar? Lá em cima o clima melhora.

***

É necessário um pouco de cuidado para se transferir da cadeira para o topo do muro, já ouvi algumas histórias de pessoas que caíram nessa transição. Sem pensamentos negativos em um momento como esse, abano a mão acima da cabeça como se estivesse os afastando. Luana, entretanto, conseguiu concluir esse desafio com muita elegância, e no fim de tudo a visão daqui de cima vale a pena.

— Cícero! Que lugar incrível, eu nunca imaginei que a muralha fosse tão grossa. Olha só essa vista.— A empolgação de Luana me faz enxergar esse lugar com novos olhos. Tantas idas e vindas por aqui e se torna comum. Mas é realmente esplêndido. Os ventos aqui em cima são intensos, a cidade lá em baixo me faz crer que sou um gigante, enxergando o mundo dos olhos de um Ídolo.

— Podemos nos sentar na beira dessa praia rochosa e admirar o oceano um pouco?— pergunta, quase suplicando com os olhos e é claro que eu não recusaria um momento magnífico desses, me sento com ela para admirar o mar perene. Uma vista para se apaixonar cada vez que abro os olhos, ah sim, e o mar também.

Foi com você as minhas primeiras experiências fora da caixinha e foi com você que eu cresci, foi tu quem acendeu a minha estrela. Sou extremamente grato pela chama que não farfalha dentro de mim até hoje, graças a ti, Bruno Lopes. Cícero vem para representar aqueles que têm uma tocha em mãos e provocam faíscas por onde andam.

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Música: Uranus

De: Sleeping At Last

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