Estrelas ao rum

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MARTA

Fui convidada para beber alguns copos de maçãs ao rum, mas recuso grosseiramente, ficar embriagada não me ajudaria a lembrar de todo o texto composto, e isso seria um problema.

Ter que esperar o lugar esvaziar é como urinar depois de segurar a bexiga durante um dia inteiro, uma eternidade. Mas eu preciso visitar Elisabeth hoje, preparei algo especial para ela, fiquei dias ensaiando aquele poema mentalmente, arrumando erros e refazendo frases.

Não suporto mais apenas olhar para a fogueira crepitando, é tortura! levanto de súbito e respiro fundo, está na hora. Ando despreocupada dos olhares até a cabana de Elisabeth, se eu não me preocupar em ser olhada é claro que não me olharão. Entro rapidamente antes que alguém note. Lá está ela, da maneira que mais gosto, deitada e nua, exibindo uma bunda no formato de lua, parece estar tão concentrada em algo que não notou minha presença, essa é a minha deixa. Levo o ar em volta aos pulmões e começo a recitar:

-E quando meus olhos descansarem no conforto dos braços teus - Elisabeth olhou para trás assustada, tapou a boca para abafar um grito quando me viu -, eu direi uma promessa que um dia apareceu, na minha mente a brilhar como uma estrela a encantar, no seu céu eu vou brilhar como um vaga-lume sem cansar, e no dia em que você se perguntar "onde estará o meu luar", eu direi, que meu brilho se foi, mas não se foi em vão, ele repousa nos teus olhos cor de caramelo que insistem em me olhar, e toda vez que você me fita aquela luz volta a brilhar, brilha como mil sois sem parar, pois na minha face a canção está a tocar, a nossa canção, a canção dos nossos corpos que emanam paixão, sempre que estamos juntas, há o brilho do clarão dessa nossa linda canção. - Finalmente, depois de dias ensaiando, tudo bem que ainda assim houve alguns tropeços, mas culpo o nervosismo. Não consegui segurar o sorriso, havia me ajoelhado ao pé da cama, deve ter sido a empolgação do momento.

- O que infernos foi isso Marta? Você ficou louca? Alguém podia ter te visto sabia? - Elisabeth me encarou com um peso de reprovação, temi que ela não teria gostado da surpresa, na verdade ela parecia um tanto mais preocupada que com raiva, entretanto, para o meu espanto ela se virou na cama e começou a rir, fitei ela um pouco confusa.

- Eu amei! Apesar de você ser péssima na composição. - Soltei um riso para aliviar a pressão e depositei um beijo em sua bochecha quente.

- Ainda haverá mais desses pela frente. - Me deito na cama ao lado dela, seu corpo esbelto está exposto.

- Espero que não se importe.

- Nem um pouco, seu corpo é tão encantador quanto uma estrela. - Elisabeth deitou a cabeça no meu colo, levei uma mão até seus cabelos e fiz movimentos delicados e relaxantes. Olhei a entrada da cabana com medo de alguém entrar, poderia nos ver juntas e denunciar aos outros. De alguma forma o perigo me excita, mas de alguma outra forma eu estou aterrorizada, não podemos andar juntas por aí, sempre confinadas numa cabana, ainda assim, pouco segura.

- No que está pensando? - pergunta ela com os olhos fechados, deve estar quase adormecendo.

- Em você - respondi, apaixonada pelo sorriso que surgiu em seus lábios após minha resposta. Merda, como eu estou apaixonada por essa garota, apesar dos perigos, vale tão a pena quanto quinze doses de melancias ao rum.

Observo Elisabeth enquanto ela adormece, é como olhar para as estrelas, agradeço às estrelas por se parecerem tanto com minha amada, assim posso olhar para ela mesmo sem vê-la, apenas dando uma espiada no céu durante a noite. Deixo o riso vir, é um pensamento bobo, sim, mas é um pensamento de uma mulher apaixonada. Me perdoe.

Inspirada em uma amiga, Suellen Ferreira, e sua namorada, Rafaela Bralia, duas pessoas que me mostraram a existência de um verdadeiro amor ágape, que para os gregos, era a forma de amor feita de alma para alma, sou muito grato por ter vocês duas comigo. Marta e Elisabeth vêm para representar não só a comunidade LGBT, mas também o forte vínculo entre duas pessoas.

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Música: Venus (Instrumental

De: Sleeping At Last

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O Manipulador De Estrelas: Quando As Estrelas ContamOnde histórias criam vida. Descubra agora