O que é a arte?

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Muito se fala sobre a arte e a estética, mas pouca coisa é realmente útil para compreender o fenômeno da produção artística. O ser humano, até onde sabemos hoje, é o único animal do planeta que produz arte, e pior que isso, ele a expõe como tal para a apreciação de seus pares. Mas então vamos perguntar: "Wikipédia, o que é a arte?"

"Arte (do latim ars, significando técnica e/ou habilidade) geralmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada a partir da percepção, das emoções e das ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias da consciência e dando um significado único e diferente para cada obra. A arte se vale para isso de uma grande variedade de meios e materiais, como a pintura, a escrita, a música, a dança, a fotografia e assim por diante."

A arte é então uma forma de linguagem, como o português e a matemática. Mas uma linguagem que se apoia na percepção, na emoção e nas idéias. É uma forma de comunicação criativa que não necessita de apego ao real e à verdade para expressar-se. É uma forma imaginativa de expressão apoiada na sensibilidade estética. A liberdade artística é o que separa um relato histórico de uma pintura do rei, pois o artista não precisa ser realista. (Hoje em dia ele não precisa ser nem concreto.) Mas então, por que não somos todos artistas?

Bom, vamos começar avaliando o conceito de habilidade. Nem todas as pessoas serão exímios subidores de árvore, ou trançadores de cestos, ou contadores de história. Cada ser humano desenvolve habilidades conforme suas propensões genéticas, estímulos e instrumentos à mão. Os artistas são pessoas que têm uma habilidade que se refere à capacidade de despertar empatia nos outros. O que chama a atenção em uma obra de arte é a quantidade de emoções que ela é capaz de evocar. Quando vemos uma igreja barroca, ou lemos a lira dos vinte anos, ou o cortiço, ou mesmo assistimos ao filme dançando no escuro, somos obrigados a sentir algo, a arte é necessariamente uma via de comunicação com o sentimento alheio. Ser um bom comunicador é questão de habilidade. Mas um artista é um indivíduo que não apenas se comunica bem, pois neste caso ele seria um jornalista ou publicitário.

O artista é um jornalista e publicitário, mas ele tem um diferencial que é a tal liberdade artística. O artista, assim como o filósofo, tem uma capacidade sempre renovada de se surpreender com o cotidiano. Apenas quem não se acostuma em ver sempre as mesmas coisas é capaz de perceber sem que ninguém tenha dito antes que "há flores em tudo o que eu vejo". Olhe ao redor e note as flores que estampam a sua vida sem que você nunca as tenha notado até agora. E ao fazer o expectador notar esse familiar tão estranho, a arte o arremessa no mundo das suas próprias sensações e memórias.

Seja a surpresa, o incômodo, a alegria, o medo... A arte, quando nos demoramos sobre ela, sempre nos suscita emoções, lembranças ou outras impressões subjetivas completamente pessoais. (Daí minha crítica: se a arte precisa de críticos para explicá-la, não é arte, é propaganda.) O sentido da arte é sempre particular, pois para construir-se a arte não implica apenas o artista, seu principal elemento é o expectador, é o "para quem" da arte que determina seu sentido e seu conteúdo. A única restrição que o artista sofre em sua liberdade é a da liberdade alheia. A psicanálise gosta muito do conceito de sublimação para explicar a produção artística. Sublimar nada mais é do que traduzir para a linguagem onírica, é transmutar as figuras para que X represente Y. Esse fator da produção artística só existe porque existe o olhar do outro. Ou melhor, dos outros. Sendo pública, a arte se esconde de alguns olhares, enquanto se desvela a outros, como um espelho que não reflete vampiros ao olhar de ninguém, mas revela as almas penadas às naturezas sensíveis.

Para causar emoções o artista precisa ser uma pessoa que tenha facilidade em dar nome primeiro às suas próprias emoções. O artista é então uma pessoa que não evita suas emoções, mas as vivencia e saboreia até que decida que gosto têm e como chamá-las por seus nomes. Mas isto não é uma escolha. Como vemos na boca de vários artistas renomados que não precisam de explicação para sua arte, produzir é uma imposição, uma necessidade, como a fome. A curiosidade pelas sensações é extremamente viciante. O artista não tem escolha, diante da emoção ele só tem uma solução: mergulhar. Sua personalidade o condiciona a isto. E uma fez alimentado, com o "gosto" da emoção bem determinado, o passo seguinte, de acordo com o raciocínio analítico, é defecar. Sim, a arte é uma espécie de dor de barriga mental e seu produto, ou resto, é exatamente aquilo que não pode ser assimilado pelos intestinos sociais da arte. O artista se alimenta tanto de suas próprias emoções que não pode evitar ter uma indigestão diante do mundo em que vive.

Arte FatoWhere stories live. Discover now