Neste pequeno ensaio me proponho a trabalhar o mistificado e sacralizado conceito da produção estética com foco no artista que a produz e não na arte em si. Este texto surgiu de meus estudos de filosofia, especialmente seu ramo estético, em conversa com minha formação em psicologia. Sem pretensões acadêmicas, tentei fugir o máximo possível dos jargões teóricos e do linguajar acadêmico, a fim de construir um texto de fácil compreensão para todo tipo de leitor.
Essa conversa entre a psicologia e a filosofia a respeito da arte atravessa os séculos e nunca houve uma abordagem capaz de abarcar todos os seus sentidos, seus usos e suas possibilidade. Tampouco eu pretendo fazê-lo. O material que aqui apresento tem por objetivo iniciar a construção de uma resposta para o que é a arte hoje, depois que o modernismo tirou-lhe as rédeas e a computação criou novas formas de expressão que vão muito além da 7a arte. Como o foco é o artista, lanço mão da psicologia para definir-lhe as características essenciais que lhe permitem planar sobre o comum destancando-lhe exatamente os pontos cegos.
Quando os Titãs cantam que há flores em tudo o que vemos, ou Michelângelo enche de criancinhas nuas o teto da capela Sistina, eles são os porta-vozes daquilo que todos sabem, mas ninguém pensa a respeito. São a voz do não-dito. Da mesma forma, quando o artista cobre com recursos oníricos a verdade que não pode ser dita, transformando em doces cantos angelicais a pedofilia da igreja medieval, transforma-se também no historiador involuntário, que registra o que deve ser esquecido no presente, para que o futuro resignifique suas dissimulações ao superar os tabus do passado que ele tenta desnudar com seu simulacro. O valor da arte, para além daquele que se paga com papéis de valor igualmente estético, está exatamente na relação que o artista consegue construir com o olhar do outro através das gerações, à medida em que o contexto ao redor daquele objeto artístico varia. É sobre essa relação que pretendo transcorrer.
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Arte Fato
Non-FictionO que é a arte? Quem é artista? O que determina o limiar entre a sensibilidade artística e a anestesia geral do mundo? Este livro é um ensaio filosófico e psicológico sobre a arte, o artista e a estética inseridos nos contextos pós e pré-modernistas.