Capítulo II - Por Valentina

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E depois de um dia cansativo de trabalho, maldita hora em que resolvi ir ao "maldito" shopping. Tudo culpa da minha amiga Rose, que insistiu em trocar uma sandália que ganhou de presente. Daí tive que ir direto do trabalho para o shopping. Pra Tarcilla tudo é festa: shopping, brinquedos, hambúrgueres, farra, farra e farra. Criança vive no mundo da fantasia.

O problema não foi isso. Foi encontrar um "fantasma" do passado. E ele me olhar como se eu fosse um ET. Maldita hora. Maldito shopping... Maldito fantasma... Maldita Sandália... Rose é uma daquelas amigas que você não consegue dizer não, simplesmente porque ela nunca diz não pra você ou porque ela te convence da forma mais singela e doce quando é conveniente pra ela. Enfim, ela é uma amigona. Conhecemos-nos no Rio quando eu ainda estava grávida da Tarcilla, ela conhece toda a minha história e sempre esteve muito presente em minha vida. Fazemos o mesmo curso de bacharel à distância, motivo pelo qual é quase impossível ficarmos longe uma da outra. Tarcilla é louca por ela e ela se tornou uma pequena parte da nossa pequena família de três.

Rose é uma menina de 24 anos, tagarela, cheia de vida e com fome de viver. Eu sempre fui muito tímida na adolescência, mas fui obrigada a me jogar mais na vida também, me virar e aprender a ser mais resolvida. Nada melhor do que uma amiga como Rose para aprender tudo isso. Rose não tem namorado, mas nunca está sozinha, está sempre rodeada de amigos e alguns ficantes. Vive querendo me empurrar um cara aqui, outro ali, mas ela já se convenceu que isso não funciona comigo. Desde que eu tive a Tarcilla, sempre fui muito reservada em relação a namorados ou coisas do gênero. Rose não, adora namorar, quer ser durona e tal, mas vive falando "Vamos beber, porque amar tá foda". Daí ela bebe um ou dois doses e liga pro ex. Ela é comédia demais.

Tenho um amigo que gosto muito e que chegamos a ter um breve relacionamento, mas findou não dando certo, éramos muito amigos. Sei que ele ainda tem esperanças, mas prefiro deixar as coisas como estão. Acabei assumindo responsabilidades muito cedo por ter uma filha sozinha, tendo que trabalhar duro e estudar pra dar o melhor para ela.

E hoje, justamente hoje, encontro aquele "fantasma" do passado: o amigo do pai da Tarcilla. Não consigo nem falar o nome desse sujeito. E juro, tremi nas bases, quase tive um treco. Tenho esperanças que ele não tenha juntado as peças e desconfiado de nada. Mas também penso que ele nem sabe onde eu moro, sabe nada de mim, melhor esquecer essa história e seguir em frente. Alias, foi assim, que sempre funcionou pra mim. Seguir em frente!

Tarcilla é meu anjo, minha melhor amiga, minha filha, meu grande Tesouro! É por ela que acordo todos os dias com um grande sorriso no rosto. É por ela que tenho fé no futuro. É por ela que esqueço as mazelas da vida e sigo em frente! Ela tem cinco anos, é muito astuta e às vezes deixa a minha cabeça de cabeça pra baixo. Isso mesmo, "minha cabeça de cabeça pra baixo". Enche-me de perguntas "fundadas", é muito argumentativa e muito despachada. Fico me perguntando, se isso for genética, deve ter puxado à família do pai. Está na fase de perguntar sobre suas origens e principalmente sobre os avós e seu pai. É muito complicado, mas estou me virando como posso. Não quero mentir pra ela, mas também não tenho condições de contar a verdade "ainda" pra ela. Vai chegar o momento certo. Eu creio.

Meu dia a dia é bem corrido. Acordo cedinho, pego um ônibus, deixo Tarcilla na Escola e de lá vou para o meu trabalho, que não fica muito longe. Quando estou disposta, vou a pé pra economizar uma grana da condução, que fica a uns 30 minutos de distância da escola. Trabalho em uma empresa privada, porém como estagiária de administração. Pra conseguir equilibrar as contas do mês, faço os dois períodos, ou seja, trabalho quase o dia todo. Entro as oito e fico até as 16 horas. Minha sorte é que Rose só trabalha no período da manhã, então pega a Tarcilla na Escola, e fica com ela até eu chegar. Quando a Rose não pode ficar com ela, ligo pra uma moça que trabalha como babá, esporadicamente e que salva minha pele de tempos em tempos. À noite quando chego tento me desdobrar em cuidar da Tarcilla e fazer o curso à distância, deixando algumas horas da noite para o meu computador, que é um amigo fiel e silencioso e quando tenho um tempinho sobrando, dou uma corridinha no parque.

Adoro internet e tecnologia, mas me restrinjo a não participar de redes sociais, nem expor a mim ou minha filha, já que vivo em um mundo tão fechado. Uso mais a internet para estudar. Porém, isso não me impediu de criar uma página no facebook fake pra tentar ao mesmo sondar como anda meus familiares em Minas Gerais, dos quais não tenho contato nenhum. O pai da minha filha, o sujeito no qual mencionei anteriormente, confesso que também já sondei, mas não encontrei em redes sociais. Porém, encontrei no Google fotos dele com algumas namoradas e uma recente noiva. Ele é o que eu já imaginava, um cara que possui dinheiro e nem um pouco de escrúpulos e que se Deus quiser, nunca vai cruzar o meu caminho nem o da Tarcilla.

Daí vem as perguntas, mas porque isso tudo? No decorrer da história vocês vão saber.

Rose veio me enchendo de perguntas sobre o tal desconhecido do shopping, que de desconhecido não tinha nada.

- Val, qual é o problema que você saiu quase correndo quando encontrou o tal do amigo do ex no shopping.

- Ele não é o meu ex, já te falei.

- Tá, tá... o pai da sua filha.

- Fala baixo Rose, não quero que a Tarcilla escute a gente falando sobre isso.

- Tudo bem, mas qual é o grilo?

- Como qual é o grilo Rose? O cara era de Minas, ele sabe de toda a história. Vai que eu tenho a maldita sorte dele ter contato com o Lorenzo. Aff... só de falar o nome desse homem...

- O que acontece amiga? dá um calafrio? ou tesão?

- Rose, não brinca com coisa séria, você sabe que eu tenho ojeriza a ele.

- Você sabe o que eu penso a respeito né: Quem desdenha quer comprar!

- Não começa, que eu não tô em um dia bom.

- Tô vendo... Relaxa amiga, vai que o cara nem se ligou ou então nem sabe onde anda o pai da... ops... seu ex.

- Ele não é meu ex... Mas que inferno Rose. Se ex fosse bom, Deus não diria para amar o próximo!

- Ah tá, essa foi muito boa... ok... essa você levou, então me diz, como eu o chamo afinal, não posso falar que é ex, nem que é pai, nem pelo nome... Tudo bem, vou chamá-lo de BONITÃO! Porque isso ele é e você não pode negar.

- Maldita hora que eu te mostrei a foto viu!

- Rsss... Ele é um gato Val, isso você não pode negar mesmo. O amigo dele então, não fica atrás. Como você não sabe o nome do tal amigo, vou chamá-lo de B2.

- Eu falando sério, e você falando em beleza! afff... Não esquece que homem bonito é igual aquelas bolsas Louis Vuitton, todas querem, mas quase sempre é falso.

- Rss... Larga de ser estressada, o tempo passa e a pessoas mudam. Não vê eu, ontem eu era linda e hoje sou maravilhosa... além de linda, claro!

- E modesta né? hahaha

- Então, falando sério... pelas fotos parece que o B1 mora em São Paulo e o B2 morava em Minas não é? Você nem pra perguntar e dar uma sondada onde ele tava morando.

- E você lá acha que eu ia ter cabeça pra sondar alguma coisa. Eu queria fugir dali e sumir com a minha filha.

- Val, se eu te fizer uma pergunta, você não vai se chatear?

- Ih, lá vem bomba... manda?

- Nunca passou pela sua cabeça, em procurá-lo e contar a verdade pra ele? Puxa vida, apesar de tudo, ele é o pai da menina.

- Fala baixo Rose, pelo amor de Deus.

- Tá... tá... Puxa vida, ele é o B1 da menina, melhorou?

- Affff!! Não. Nunca pensei. Ou melhor, já pensei por ela, mas não por ele! Não acho que vai agradá-lo ter uma filha. E pior ainda, da forma como aconteceu. Hoje em dia o cara é endinheirado. Você acha que ele vai querer dividir grana com alguém? Duvido! Ele é um arrogante sem caráter. Vai por mim Rose. Ele não merece a consideração nem de saber.

- Ok amiga. Eu entendo você! Mas você sabe a minha opinião a respeito disso né. Então se um dia você resolver colocar tudo isso em pratos limpos, eu tô aqui pro que der e vier. Ah, e se o B2 estiver junto, eu também estou, pro que vier e der! rss...

- Ai ai Rose, você leva tudo na sacanagem.

E assim, eu fui pra casa, incomodada com aquele assunto que tanto me chateava.    

Recomeço forçadoOnde histórias criam vida. Descubra agora