Capítulo IV - Por Valentina

10.2K 312 4
                                    

Minha vida está uma loucura essa semana! Uma colega do trabalho tirou licença e estou trabalhando dobrado. Tarcilla está aos cuidados da Rose e da Andréia, minha eventual babá. Mas quase já chegando ao fim do expediente, Rose me liga pra me dizer que Tarcilla está um pouco febril e que deve ser por causa de um resfriado. Não é a primeira vez que minha filhota tem febre nos últimos dois meses, o que está me deixando preocupada.

Peço a chefia pra sair mais cedo e vou pra casa. Tarcilla está molinha em cima da cama, com febre e eu e Rose decidimos levá-la ao médico. Peço um táxi e seguimos ao Pronto Socorro. Lá é a mesma novela, um século na fila pro atendimento e outro século pra ser examinada pelo médico. Como sempre, se trata de uma virose. Um antibiótico, um remedinho aqui e outro ali. E lá vamos nós de volta pra casa.

Dentro do táxi, Tarcilla reclama:

- Mamãe, minha cabecinha tá doendo e minha barriga também

- Calma filha, já vou passar na farmácia pra comprar um remedinho e vai ficar tudo bem, ok?

- Hummm... posso ficar no seu colo?

- Pode sim. Vem cá.

Passo na farmácia, compro o remédio e sigo pra casa. Rose sempre comigo. Acredito até que algumas pessoas devem maldar nossa amizade, dada a quantidade de vezes que estamos sempre juntas. Ela realmente é uma amiga pra todas as horas. Chego em casa com Tarcilla nos braços adormecida, coloco-a na cama e então sinto uma dor no peito. Doença deveria ser exterminada da vida das crianças. Sabendo que ela é tão ativa, fico triste de vê-la tão quietinha e indefesa.

Deixo-a no quarto e vou me despedir de Rose que está com cara de poucos amigos.

- O que foi Rose?

- Ah desculpa Val, mas não consigo engolir isso. Você e sua filha nessa situação.

- Que situação?

- Já é a terceira vez em dois meses que você leva a Tarci no hospital e é sempre essa mesma agonia. Não que eu esteja reclamando de ir com vocês, só que eu acho injusto sabe. A menina tem um pai que tem não sei quantas mil empresas, que poderia pagar um plano de saúde decente pra ela e você tem que se sujeitar a gastar suas economias com táxi e ficar mendigando atendimento em um hospital horroroso daquele.

- Rose, tem certeza que a gente precisa falar sobre isso agora? Estou exausta!

- A gente não precisa falar sobre isso, já que eu sei que você nunca quer falar sobre isso. Só estou desabafando.

- Tá bom. Será que você pode desabafar outro dia? Eu sinceramente não sei o que é pior, mendigar por um atendimento em um hospital ou mendigar por um dinheiro que não é meu.

- Nunca falei que o dinheiro era seu. Estou falando em benefícios, e não é pra você, apesar de eu achar que você também merece por tudo o que já passou. Estou falando em dar uma boa educação, ter um bom plano de saúde, estou falando nos direitos dela Val! Mas me desculpe, se eu acho que o seu orgulho é maior do que o amor pela sua filha.

Aí ela passou dos limites. Como ousa duvidar do amor pela minha filha.

- Melhor você ir embora Rose. Não acho que você entenda sobre amor de filho, que já você ainda não tem um.

- Eu não quis dizer isso.

- Mas você disse. E por favor, eu preciso ficar sozinha!

- Tá... desculpe-me se eu te magoei.

Então ela sai da minha casa e eu desabo... literalmente... choro como uma criança, soluçando.. tentando descobrir realmente até onde vai o meu orgulho!

Acordo pela manhã e vejo uma msg de Rose no meu celular me pedindo desculpa e dizendo que ama a nós duas, com várias carinhas de bonequinhas.

Não dormi nada a noite, verificando a febre da Tarcilla, que volta e meia retornava com força total. Então dormimos eu e ela por toda a manhã no sábado.

No decorrer da semana, Tarcilla melhora, a amiga do trabalho volta da licença e as coisas vão se ajustando novamente. Tenho visto Rose regularmente, mas não conversamos mais sobre nosso pequeno desentendimento. Ela tem um grande talento de deixar as coisas voltarem normalmente a ser o que era... sem ressentimentos. E eu gosto disso!

Chego a casa já no finzinho da tarde, resolvo levar uma amiguinha da Tarcilla pra casa e fazer um pequeno evento do Pijama, com direito a filme e pipoca. A campainha toca e não estou esperando ninguém. É o Caio, meu bom amigo que veio me visitar.

- Caio, que surpresa boa.

- Desculpa Val, tentei de ligar, mas não consegui. Estava aqui pertinho, resolvi visitar você e ver se a Tarci melhorou.

- Você é sempre bem vindo. Tarcilla está no quarto com uma amiguinha do prédio. Vão ver um filme... mas já já eu a chamo. Entra!

Ele me dá um abraço apertado. Abraço de urso. Caio é um amor de pessoa. Além de ser bonito, é educado e muito bem humorado.

- Senti saudades suas! (Ele sussurra no meu ouvido)

- Hum... Eu também senti Caio, mas você já pode me soltar. Antes que a Tarcilla pergunte de novo se estamos enamorados, como ela costuma dizer. (Digo aos risos)

- Não seria uma má idéia. (Ele continua com aquele sorrisinho no canto da boca)

- E então? quais são as novidades? O que anda aprontando?

- Eu nada. Você nunca quer aprontar nada comigo.

- Sempre engraçadinho né. Quando você vai parar de ficar flertando comigo?

- Hummm... não sei! Gosto de te ver sem graça. Você fica ainda mais bonita.

- Então a ideia é não ficar sem graça. Ok, vou anotar essa lição. rss.

- Fiquei sabendo que você teve uma semana puxada.

- Andou falando com a Rose?

- Esqueceu que a gente trabalha no mesmo prédio?

- Não! Realmente não foi uma das semanas mais fáceis... mas já está tudo em ordem.

De repente Tarcilla chega voando no pescoço do Caio.

- Tio Caio, que saudades de você!

- Humm... bonequinha! Já vi que você tá novinha em folha.

- Estou. E eu sei que quando uma pessoa tá novinha em folha, ela pode passear, comer besteiras e fazer tudo que quiser.

- Rs... Tem que perguntar isso pra sua mãe.

Olho carrancuda pra ela:

- Não sei disso não!

- Tio Caio, você não vai acreditar no presente que eu vou ganhar!

- Tarcilla! (eu repreendo). Ainda não decidimos!

- Puxa vida mamãe, pensei que eu já tinha te convencido. E no dia que eu fiquei doente, enquanto eu estava dormindo, ouvi você falando no meu ouvido, que você era capaz de fazer tudo por mim.

- Que danadinha... fingindo que tava dormindo?

- Não! mas eu ouvi. E quando uma pessoa é capaz de fazer tudo por outra pessoa, ela pode ser capaz de dar um bichinho de estimação!

Caio caiu na gargalhada.

- Val, você tá enrolada! rsss

- Ainda vamos resolver sobre isso, mas não agora, tá bom! Vai brincar com sua coleguinha que ela está sozinha no quarto! Dá um beijo no Tio Caio.

Ele dá uma piscadinha pra ela e fofocam alguma coisa que eu não consigo entender.

Convido-o pra ficar e comer alguma coisa com a gente, mas ele está de saída. Dá-me um beijo no rosto demorado e diz que precisamos marcar de sair pra fazer alguma coisa. Ele sempre age assim. Um amigo que sempre espera alguma coisa a mais de mim. Mas eu sei que não sou capaz de dar o que ele realmente merece! Ele é apenas um bom amigo!

Recomeço forçadoOnde histórias criam vida. Descubra agora