Capítulo 1

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Quem sou eu? Pergunto-me todos os dias. Por que eu tive que nascer em Meiland? Onde o século XXI praticamente não existe. Por que eu fui escolhida para ser a futura rainha? Por que eu pertenço a esse mundo? Muitas perguntas, para mínimas respostas. Fecho os olhos e respiro fundo. Assim que reabro, encaro meu reflexo no majestoso espelho. O vestido vermelho cereja destacava as minhas curvas. Ele tinha um decote tomara-que-caia e sua saia era rendada e volumosa. Ridiculamente encantador.

Acabo saindo de meus devaneios quando minha mãe me chama irritada alegando que chegaríamos atrasadas. Como se não fosse culpa dela eu ter tido que trocar de roupa diversas vezes. Olho de relance para Rosalie, minha fiel companheira e serva. Conversávamos a maioria do tempo apenas com troca de olhares. E nesse olhar, ela me transmitiu tudo o que eu precisava: apoio.

Eu estava tão insegura sobre tudo o que estava acontecendo que minhas mãos tremiam e eu movia meus dedos freneticamente. O medo de eu ser só mais um fantoche na realeza, o medo de eu passar a vida presa em Meiland, o medo de eu não ser eu.

- Florence entre logo nessa carruagem - Clarisse, minha mãe, ordena furiosa pela minha demora.

Dou uma última olhada no espelho e me viro para Rosalie.

- Obrigada por tudo - agradeço e a envolvo em um abraço. Mesmo surpresa pelo gesto de afeição, me envolve em seus aconchegantes braços.

- Eu que agradeço minha menina - responde assim que nos desvencilhamos deixando uma lágrima rolar pelo seu pálido rosto.

Rosa já era uma senhora de certa idade. Seus cabelos loiros já eram acobertados pelos fios grisalhos.

- Você será uma grande rainha um dia - ela se despede com um beijo em minha testa.

Em silêncio, entro na carruagem. O silencio do ambiente é cortado pelas ríspidas palavras de minha mãe, que repreendia o fato de eu ser intima de uma criada. De acordo com ela, era repugnante e humilhante eu ter um relacionamento amigável com uma pessoa inferior a mim.

Não demora muito até que eu veja as imensas e majestosas muralhas que cercavam o castelo de ponta a ponta. Um calafrio percorre por todo meu corpo. Eu estava nervosa.

Aos poucos a carruagem foi diminuindo a velocidade até pararmos no portão, que permanecia aberto com guardas por todo redor. Assim que pisei no chão de pedras, pude observar o tamanho do palácio. Havia duas fontes enormes uma perto da entrada e a outra perto do palácio. O gramado era minuciosamente cortado e as árvores simetricamente podadas. Entre a fonte e o gramado, havia largos caminhos de pedras claras. Nas laterais, altas árvores bloqueavam a vista da restante parte externa.

Em passos largos, porém lentos, eu e minha mãe fomos andando até o palácio. O sol já havia se despedido e uma lua cheia se destacava na imensidão azul. Fico olhando o céu a procura de constelações. É o meu passatempo predileto.

- Acho uma falta de respeito termos que andar tudo isso para entrar no salão - minha mãe reclama - Florence, pare de ficar olhando para o céu. Está parecendo uma tonta.

Pela primeira vez, eu não retruco. Apenas reviro os olhos. Ao chegarmos à entrada, um arrepio correu na minha espinha. O ambiente era hostil ao ponto de ser sufocante. Não consigo entender como alguém consegue morar aqui. Todas riam e conversavam animadamente. Toda essa superficialidade e futilidade me enojavam. Como alguém pode ignorar toda a pobreza presente em Meiland e ligar para coisas superficiais? Fiquei aliviada de irmos direto para o salão principal, onde ocorria à festa, assim poderia me entupir de comida e fingir que não quero me jogar de uma ponte ao ouvir essas bobagens.

Assim que entramos, nos deparamos com as mesas, que foram organizadas minuciosamente nos cantos do salão. Grandiosos e majestosos lustres se destacavam no alto teto. No meio havia um vão onde as pessoas futuramente dançariam. Só poderíamos dançar assim que a família real entrasse e o Rei George e a Rainha Aisha fizerem sua tradicional dança.

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