PRÓLOGO

119 9 7
                                    

A vida humana neste planeta tem sido um mistério para a maioria das pessoas. Muitos acreditam que estamos aqui por uma razão; outros acreditam que a evolução de nossa inteligência foi uma triste anomalia da natureza.

De qualquer maneira, uma verdade é universal quanto ao comportamento humano: nas situações mais extremas, este ser fará de tudo para sobreviver em meio aos seus semelhantes, mesmo que estes últimos não sejam salvos.

Se ainda possuímos aquela vaga sensação de aproximação somente às pessoas cujo contato nos é conveniente, quem somos nós para definir o que é o certo? Quem somos nós se pensamos apenas como indivíduos ao invés de espécie? Quem somos nós para criar uma imagem da perfeição e se espelhar naquela reles criação? Quem somos nós para dizer o que é e o que não é utopia?

As crianças estavam brincando sobre o gramado. Eram três; dois meninos e uma menina. A avó Margarete os observava se divertindo. Os meninos estavam correndo, pulando e girando na frente dela, dando voltas nas macieiras. Toda aquela agitação lembrava a querida vó Marga de sua infância. As coisas não eram mais as mesmas, ela sempre dizia aos filhos e netos. Na nossa época, era mais difícil.

Ela estava sentada na sua cadeira de balanço, sob o alpendre da humilde casa de madeira de seu genro. As grossas lentes de seus óculos faziam seus olhos parecerem duas grandes jabuticabas. Sua pele parecia papel de dinheiro envelhecido.

— Beto! Não joga grama em mim! — a pequena Joana exclamou ao seu irmão mais velho.

Um sorriso apareceu no rosto de Margarete. As crianças, o Sol, a brisa... Tudo parecia estar tão bem e tranquilo... Seus velhos e cansados olhos começaram a pesar...

— Mãe? — Betina chamou Marga, com a mão sobre o ombro da idosa mulher.

— Oi, querida — Marga respondeu, acordando com um susto. — Tive um sonho estranho...

— Mãe, onde estão as crianças?

Margarete olhou para frente. O gramado estava ali. As árvores estavam ali. O Sol estava ali. Mas as crianças haviam sumido.

— Elas estavam aqui... — ela disse, entristecida.

— Evandro! — Betina chamou por seu marido.

Após alguns segundos, Evandro abriu a porta de tela de sua casa e a fechou em seguida. Olhou para Betina e Margarete.

— O que foi? — perguntou.

— A mãe caiu no sono e perdeu as crianças de vista! Me ajude a encontrá-las, por favor — Betina disse, quase a ponto de chorar. Estava pálida.

— Querida, por favor, me desculpe... — Marga disse.

Velha burra. Não deveríamos tê-la trazido pra cá, Evandro pensou.

Betina se inclinou para ficar na altura de Margarete. Colocou suas mãos no rosto da mãe.

— Não se preocupe, mãe. Eu amo você. Eu só preciso procurar as crianças agora, tudo bem? Fique aqui — disse, dando um beijo na testa de sua mãe.

— Como ela conseguiu perder eles de vista? — Evandro perguntou a Betina.

— Ela é idosa, Evandro. Minha mãe se cansa facilmente. Deve ter caído no sono.

Os dois estavam desviando das árvores no terreno de Evandro, à procura de seus três filhos.

— Beto! Joana! Carlinhos! — Betina gritava.

Não houve resposta das crianças por um tempo. Até que...

"Mãe! Pai!" A voz de uma menininha ecoou pela mata.

UtópicoWhere stories live. Discover now