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- O Rafael está no hospital! Ele foi esfaqueado e está em estado grave, Júlia! - Ana anunciou em um rompante.

Seu rompante assustou a amiga, que se recompôs rápido e ajeitou a postura. Mas ainda assim assustada. Seu olhar voltou-se para os livros num disfarce, não conseguindo ver mais que um emaranhado de palavras a menina franziu o cenho, a dúvida finalmente a atingindo. 

Por que ela está me dizendo isso? 

Júlia ergueu seus olhos para a amiga que revirou os olhos e respirou fundo. A adrenalina, o medo e angustia deixava a mais velha rude, quase grossa, e todavia sabia que para aquele momento, para aquela conversa, ela não poderia ser assim. Júlia se afastaria, e Ana tinha certeza disso. Seu corpo buscou um copo d'água a fim de se acalmar, mas não tinha certeza se aquilo seria o suficiente. Ela estava desesperada, e uma vida poderia depender de Júlia! 

- O que eu tenho a ver com isso? - Júlia perguntou, o tom quase debochado. 

O suficiente para que a mais velha aumentasse o tom, infelizmente.

- Você é a ex-namorada dele, Júlia! 

- E quem o colocou na cadeia - acrescentou, sorrindo. Um sorriso quase perverso.

- Porque ele fodeu literalmente com você, eu sei, mas ele... ele foi esfaqueado, Júlia. Ele está desacordado em coma induzido porque acabaram com ele e tudo o que ele pede é por você, Júlia. 

- E novamente eu pergunto: o que eu tenho a ver com isso? 

- Você precisa ir lá, amiga. Ele precisa de você. Por favor - Ana suplicou e Júlia lhe deu as costas. 

Ela conseguia sentir tudo o que só aquilo provocava na amiga e toda tensão, toda a mágoa que ela exalava. E tudo isso apenas provocado por Rafael.

- Engraçado! - a morena riu e mordeu o lábio inferior. - Eu também já precisei dele, eu também já implorei por sua presença - ela relembrou, o riso cedendo a um sorriso amargurado. - E sabe onde ele estava, Ana? Ele estava comendo uma piranha! - o sorriso amargurado a dominou, fazendo-a a balançar a cabeça negativamente. - Ele me ignorou mesmo no hospital, mesmo mal. E agora, agora que eu estou bem e livre dele, você quer que eu saia do meu conforto para ir num hospital? É inacreditável.

Ana queria falar mais, queria dizer que ela precisava perdoar, que precisava deixar o passado no passado, mas ela não conseguiu. Ela não conseguiu porque ainda lembrava de tudo o que Júlia passou, de tudo o que Júlia sentiu e o quanto a morena esteve afundada. Seu lado médica implorava para que ela tomasse uma atitude, mas ela não tinha forças. E por isso deixou que a morena saísse de suas vistas, por isso deu o espaço que ela sabia que a amiga precisava. O que ela não contava é que naquele momento Júlia só queria mais que tudo um abraço porque sim, seu coração ainda doía e só aquilo fora o suficiente para sentir-se necessitada de um abraço.

No fundo, Júlia não tinha superado Rafael, e agora ele precisava dela... Ela não sabia mais o que pensar, o que fazer. E sobretudo, sentia que precisava dar um ponto final naquela história, mas ela não queria estar perto novamente de Rafael e tudo isso só a confundia mais. 

Ela sentia-se perdida.

O fim.Onde histórias criam vida. Descubra agora