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Rafael tirou Júlia dali algum tempo depois. A morena não contestou. Ainda chorava, ainda precisava de carinho. Ainda precisava de proteção. E bom, é uma verdade universal: a morte mexe com as pessoas, a morte as deixa frágeis porque a vida é frágil. 

Naquela noite, Júlia conheceu pela primeira vez o apartamento de Rafael. Ela não observou nada. Ele a guiou até a cama. Ela deitou, ela se encolheu e chorou. E chorou.  Rafael observou-a por toda noite, assim como a observou pela manhã. Ela se levantou, passou as mãos no rosto e passou os olhos pelo quarto fedido a mofo. 

- Onde eu estou, Rafael? 

- Na minha casa - ele respondeu, rouco. 

Levantou-se da poltrona que se encontrava e passou os braços por sua cintura, mas Júlia o ignorou e tirou os braços de Rafael de sua volta. 

- Quero ir para casa.

- Você está bem?

- Não, mas vou ficar.

Ele assentiu e puxou-a de novo para seus braços. Ela resistiu, dando-o tapas. Resistiu ao abraço, mas não resistiu ao beijo quando Rafael colou seus lábios. Não resistiu ao mais doce carinho. 

Suas mãos emaranharam-se em seus cabelos, curtos, e apertou-os. As unhas descendo pela nuca do rapaz a medida que Rafael apertava sua cintura e o beijo se prolongava. Já não era mais tanto carinho. Rafael invadiu a blusa de Júlia com as mãos quando essa já o marcava nas costas. Nada mais importava. Por hora nada mais importava.

Caíram juntos na cama de solteiro com uma intensão clara. Acabar com todo e qualquer desejo que tivessem. 

Não foi romântico, ou lindo. Tampouco carinhoso. Foi feroz. Como eles.

Ao final de tudo, despediram-se como dois estranhos. Ele a deixou em casa, ela seguiu com sua vida como se nunca o conhecesse. Na rua, fingia que nem o conhecia. Mas eles se conheciam, e como se conheciam... Se conheciam tanto que num esbarrão qualquer, um desses da vida, foi como saltasse faíscas.

- Você... - Júlia riu e recolheu seus livros. - Ainda não desisti de colocá-lo na cadeia. 

Ela parece melhor, ele observou. 

- Ah é? E o que te faz pensar que conseguirá?

- Eu sempre consigo o que quero. 

Rafael sorriu, e entregou alguns dos papéis que recolheu. 

- Você realmente está outra pessoa, Júlia Carvalho. Nem parece aquela que chorou nos meus braços. 

- Aquela garota - Júlia rosnou -, não existe. Esqueça-a!

- Não existe? E o que tive foi alucinação? A nossa foda quente foi alucinação? 

A garota revirou os olhos e o empurrou. 

- Você devia esquecer isso. 

- Nunca.

- Por que? - a morena franziu o cenho e acenou para o ônibus. 

- Porque foi incrível. 

Júlia riu. Esse romantismo barato nunca colava com ela. 

- Essa não rola comigo. 

- Não queria que rolasse - ele deu de ombros. - Então... para onde a dama vai? 

- Para o inferno! - e dessa vez Júlia riu com muito mais divertimento. 

O fim.Onde histórias criam vida. Descubra agora