1. Princesa Katherine

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E. A.

Nunca fui especialista em me dar bem com as outras pessoas, mas ao contrário dos que também possam ser iguais a mim, tenho algo para pôr toda a culpa. Durante toda a minha vida, até os dias atuais, as pessoas vinham me julgando pelas minhas atitudes egocêntricas. Ao ouvirem falar em príncipe Eric, havia uma primeira palavra que lhes vinha à mente: antipático. Porém o intrigante era, apesar de praticamente ser desprovido de sentimentos, sempre que ouvia as pessoas falarem esse tipo de coisa a meu respeito, de alguma forma, secretamente, minha alma despedaçava-se por dentro. Elas não sabem a verdade, não sabem que não sou assim por vontade própria. Não é tão simples quanto parece. Com o tempo, passei a não me importar com o que falavam, decidi concentrar-me na ideia de que isso um dia teria fim.

Vesti meu uniforme: um colete azul com bordado e botões dourados, calça branca e botas pretas. Segurei os colares em meu pescoço, coloquei-os por dentro da roupa, respirei fundo e dei uma última olhada em meu reflexo no espelho, para ter certeza de que estava bem apresentável antes de ir.

Após ver que estava adequadamente vestido, desci para o hall de entrada, onde o rei e a rainha já me esperavam. Minha mãe estava em um vestido vinho ofuscante, encantadora como sempre. Meu pai em seu uniforme, parecido com o que eu usava, porém mais adequando a um monarca e de cores diferentes.

— Anime-se meu filho, afinal, vamos a uma festa! — exclamou minha mãe, dando-me um sorriso.

— Não diria que ir a festa de uma princesa mesquinha seja algo animador — reprovei, indiferente.

— Por favor, mantenha a postura, não vá fazer nada desagradável — orientou o rei, com a expressão firme.

— Está bem, farei o possível — prometi, em seguida virei em direção à rainha. — Mãe, esqueci de dizer, a senhora está deslumbrante. — Dei-lhe um sorriso.

— Muito obrigada, querido.

— Vamos depressa ou vamos nos atrasar — apressou meu pai, indo em direção a porta.

Exibi um sorriso forçado, sabia o que teria que enfrentar: pessoas comemorando o aniversário da princesa Katherine — que particularmente não me agradava. Todas alegres, sendo gentis umas com as outras. O que é perfeitamente normal e conveniente.

Com muito esforço, consigo ser agradável com todos, mas às vezes isso foge ao meu controle. Então bailes não me são convidativos, pois sempre me deixam internamente tenso. O tempo todo temo fazer algo de errado e decepcionar os meus pais.

Seguimos até a carruagem com o brasão dourado do reino — um escudo com duas espadas entrelaçadas e uma águia, com suas majestosas asas abertas, cravada nele, simbolizando força e poder —, a qual nos esperava fora dos portões do castelo. Joshua, conselheiro do rei, que estava parado próximo ao cocheiro que nos guiaria até o reino de Lírion, fez uma reverência ao nos ver e ofereceu a mão para ajudar a rainha a subir.

Ao longo do caminho, meus pais abordavam o assunto de como a princesa Katherine é formosa e educada. Eu só conseguia pensar que o que a mesma tinha em beleza, tinha em presunção.

— Príncipe Eric, vejo que essa é uma oportunidade para propor a princesa de Lírion em matrimônio — sugeriu Joshua, que até então permanecera em silêncio. — Estais perto de completar a maioridade.

Se havia algo que irritava-me profundamente, era quando sugeriam-me o que eu devia ou não fazer. Não precisava de ninguém me dando opiniões sobre coisas que me cabiam, especialmente tratando-se de noivado. E insinuar minha união com princesa Katherine, era o cúmulo das ofensas.

Coração IntocávelOnde histórias criam vida. Descubra agora