23. Acontecimentos

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E. A.

Com meus dedos entrelaçados aos dela, ajudei-a a descer da carruagem. Assim que também pus meus pés no chão, lancei-lhe um olhar e abri um sorriso, o qual ela logo retribuiu. Agora, mais do que nunca, eu sabia: não era um sonho. Realmente estava vivendo aquilo. Anelise era minha noiva. Eu tinha a garota mais extraordinária do mundo, de todos os reinos, comigo.

A multidão abriu passagem para nós e escoltados pelos guardas, caminhamos em direção à plataforma alta montada para a família real, onde seria feito o anúncio. Conforme andávamos, o povo acenava, faziam reverências e nos lançavam palavras benevolentes e enaltecedoras. Todos estavam de olhos bem atentos a nós, especialmente na jovem com o braço entrelaçado ao meu.

Olhei para ela novamente e vi que mesmo parecendo mais tranquila, seus olhos ainda carregavam um quê de espanto à medida que olhava para todos os lados. E ainda assim, Anelise sorria para o aglomerado. Estava tão linda, o vestido amarelo realçava seus cabelos dourados, o sol a tocava e ela parecia os raios do próprio. Estava absurdamente estonteante, olhar para Anelise era como olhar para um anjo.

Durante o percurso, apreciava a sensação de estar tão perto dela novamente. Sentira uma falta imensurável disso. Lamentei os dias penosos longe de Anelise, dias em que deixei me consumir pela raiva e pelo rancor, em que deixei que aquelas palavras me atormentassem dia e noite. Eu devia desfrutar cada segundo de minha vida ao seu lado, esperei por ela dezoito longos anos, não deveria permitir que o ressentimento nos afastasse, mas foi inevitável.

Porém um toque, um simples toque me fez voltar a mim. Um único toque, em questão de segundos, foi capaz de me fazer sentir diversas sensações simultâneas, de fazer todas as coisas boas que sentia quando estava ao lado de Anelise me invadirem. Eu não queria mais ficar longe dela, não aguentaria mais um segundo sequer, não haveria ressentimento que vencesse minha tamanha afeição por ela.

Chegamos e subimos a plataforma, meu pai se pôs no centro dela, minha mãe ao seu lado direito, Anelise e eu ao esquerdo. Todos encaramos a multidão, observei Anelise vasculhá-la e depois acenar com a mão, segui seu olhar e encontrei sua família acenando de volta. Seus pais o faziam discretamente, ao passo que a irmã chegava a pular, no entanto eles tinham algo em comum, um enorme sorriso no rosto.

O rei ergueu a mão e logo o silêncio se fez presente no lugar. Todos tinham sua atenção presa a nós, estavam ansiosos para saber o que o monarca tinha a dizer; e curiosos para saber o porquê de Anelise estar conosco, eu percebia. Muitos olhares tendiam a permanecerem nela.

Meu pai olhou brevemente para nós e voltou-se aos arianos novamente.

— Povo de Ária — começou em voz alta. — Todos sabemos o quanto é importante perpetuarmos a linhagem real, e para tal é preciso que o príncipe herdeiro escolha para si uma noiva. Por tanto esta é uma tarde muito importante, pois conhecerão sua futura princesa e a que, bem mais para frente, se tornará a rainha de nosso amado reino ao lado de meu filho.

O rei virou-se para Anelise e estendeu-lhe o braço. Ela me fitou, parecendo nervosa novamente. Assenti com a cabeça, incentivando-a a ir. A passos um pouco lentos, caminhou em direção ao meu pai, segurou sua mão e voltou a olhar para frente.

— Tenho a grande honra de apresentar-lhes esta jovem, uma filha de Ária. Saúdem Anelise, noiva do príncipe Eric. Salve a futura princesa ariana.

O povo rompeu em palmas e exclamações positivas. Claramente aprovaram a escolha para futura princesa, e claramente meu pai estava certo sobre prezarem o fato de Anelise antes ter sido plebeia. Vi entusiasmo, sorrisos, conversas empolgadas e diversas pessoas acenando em direção a minha noiva.

Coração IntocávelOnde histórias criam vida. Descubra agora