Mil centésimo trigésimo segundo

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DIA 1.132 APÓS O MASSACRE – MADRUGADA.

Às vezes, ele visita meus pesadelos. Graças a isso, eu exercito minha empatia: é fácil e até aprazível sentir seu corpo arder junto às chamas. Contudo, me mata aos poucos lembrar seu toque. O hálito de gim, o olhar diabólico e as mãos frias e ásperas como as de um morto. Bem, ele está morto agora. Na realidade, estão todos mortos agora. Mesmo assim, suas marcas ainda estão em mim. Não se fazem visíveis na pele, mas eu posso senti-las toda vez que fecho os olhos. Aquele monstro não desgraçou apenas meu corpo – ele tocou e arruinou um lugar muito mais fundo: minha alma. Quando durmo aquecida em lençóis, ainda que nesta cela imunda e inóspita, me aconchego e abraço a mim mesma. O calor de meu corpo mantém-me. E noite após noite, quando sinto esse calor, desejo apenas que ele queime no inferno. E desejo que todos estejam em ciranda ao seu redor... ardendo em chamas junto ao demônio.




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