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     HeloiseAlmeidaL
        É triste acordar todos os dias com uma única certeza:

                   A FOME

        Não importa o quanto você dê duro para seguir, nunca conseguirá. Nunca terá o suficiente à mesa. Sempre haverá bocas famintas na hora do jantar. E de todas as quatro bocas famintas, a que mais evita uma garfada a mais, sou eu.

        Má arrasto de segunda-Sábado para a grande Oficina Pearl & Peabo, aonde acabo com fuligem no rosto e unhas sujas, para derreter, afiar, modelar e finalizar armas. O exército nunca precisou tanto de armas quando agora.

      Parece que os conflitos com o Oriente complica a cada instante, fazendo-os matar mais, sujar mais o solo de vermelho. E nos encomendar mais espadas, mais escudos, mais lanças, mais qualquer objeto usado com o intuito de furar até as entranhas do inimigo.

       Esta é a minha vida na maior parte do tempo. Quando não estou passando fome,é claro.

        O exército recruta jovens de todas as províncias de todos os níveis para a guerra a cada dois meses. E, é nesse período, que mandam vim com o alistador, um negociante.

        É este negociante que acerta os valores de acordo com material e quantidade-das armas-conosco. E é ele que as checa e leva. Mas na verdade, não é um comerciante a cada dois meses.

        É O comerciante. Um único. O que sempre vem. E ele acaba de passar pela porta. Ele acaba de virar o corpo na minha direção. Eu acabo de revirar os olhos.

          -Vinte lâminas retráteis, quinhentas espadas, vinte e quatro pinos de escudos e uma caneca de Rum.-solta apoiando-se na mesa de trabalho a qual estou tentando desenterrar um prego da madeira.

        -Muitos bons dias.

         -Olha,-nah, olho não!-Se o dia estivesse bom, eu, de forma alguma estaria aqui para recrutar pobres jovens a fim de lutarem pela não-desunião dos Níveis.

       Ergui meus olhos para o saco cheio de moedas que jogou na mesa.

        -Mas me parece, que para você, ele acaba de melhorar.

        -Não fechei negócios ainda.-resmungo puxando com força uma broca.

       -É O mesmo de sempre, Angel.-argumenta.-Nada a mais.

        -Tem uma espada a mais.

        Silêncio.

     -Uau! Nada lhe escapa, certo?-continuo na minha luta contra o prego.

       Se soldados lutam contra outros soldados, eu luto contra pregos tortos. E contra mim mesma.

        -Esta...-ele retira a tal clandestina da bainha e passa o dedo na sua lâminas deitada.-É de dois gumes. É muito difícil de encontrar por um preço acessível, digo, na Hibra.

        Conta uma novidade.

         -Duas moedas de ouro.-concluo.

        -Ah, não Angel!-ele bate com o punho na mesa.-Essa é baixa. Tenta mais.

      -Cinco.

      -Posso pagar mais do que cinco.-seus olhos tem um brilho perigoso. Eu acho, que o indivíduo à minha frente não se lembra do que lhe aconteceu na última vez que me provocou.

       -Okay...-suspirei.-Pague o que tem. Humilha-me.

      E ele sorri.

         -É questão de honra, querida. Nada a mais.

        Meu punho amassa seu uniforme extremamente passado.

         -E fazê-lo engolir cada moeda também é questão de honra para mim.-seus olhos ondulam nos meus.

        -Você não faria isso, Sant'Angel.-diz debochando.-Eu sei do quando precisa de cada suborno que eu lhe faço.

       Escarro e cuspo em seu rosto.

       Ele faz careta de nojo, e os outros ferreiros se atentam a nós. Ele é tão irritante! Tão desnecessariamente irritante!

       E sempre fora assim. Faziam uns quatro/cinco anos que o conhecia, e suas implicâncias sempre pioravam em grau e escala astronômicas!

       As pessoas ao meu redor riam e congratualavam o vistoso e saudável negociante do exército da Hibra, e as suas piadinhas com meus chiliques.

        Sempre fora desta maneira. Sempre.

      

Warrior AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora