III- A Historia de Antônia

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  À tardinha, a família reuniu-se novamente, conversavam animados e como Ofélia resolvera nada comentou da carta que recebera. Foram jantar, Antônia e eu fomos para o jardim, sentamos na varanda. 

— Vou contar Antônio Carlos, o que aconteceu realmente. Narrarei minha história. 

"Nasci e passei a infância e parte da juventude numa fazenda, perto desta cidade". Minha família era pequena,pai, mãe e dois irmãos. Quando contava dez anos, meus dois irmãos, o mais velho com dezesseis e o outro com quatorze anos, desencarnaram afogados no lago da fazenda.Sofri muito e meus pais se desesperaram; papai adoeceu logo após. Passou a trabalhar pouco e minha mãe desdobrava-se para o sustento do nosso lar. Passei a ser a única alegria deles, amavam-me muito, mas só ser amada não bastava, detestava a pobreza em que vivíamos e sonhava com o luxo e com a cidade grande.

Com dezesseis anos, resolvi trabalhar na cidade para ajudar meus pais, não queria continuar trabalhando na lavoura, serviço que fazia desde os doze anos.

 A esposa do dono da fazenda em que morávamos senhora muito bondosa, arranjou-me um emprego de doméstica, onde moraria no emprego. Foi então que vim a trabalhar na casa dos pais de Paulo. O serviço era simples e aprendi rápido, sempre com vontade de agradar aos patrões,para não voltar para a fazenda procurava fazer tudo bem feito. Ganhava bem, a metade do meu Ordenado levava para meus pais e ia vê-los aos domingos de quinze em quinze dias.

 Nesta época, Paulo era solteiro, ficava pouco em casa e quase não o via. Sabia pelas conversas que escutava que ele namorava uma moça pobre e que seus pais não queriam e sempre ouvia discussões na casa. Cheguei até a ficar com pena de meus patrões, principalmente de D. Ivone, que me tratava bem, dando-me muitos presentes. 

Fui perdendo a timidez de moça de fazenda, logo os encantos da cidade grande fascinaram-me. Passei a sair e a namorar. Infelizmente, não procedia bem, tendo o cuidado de esconder de todos, trocava todo mês de namorado,pensando assim, estar aproveitando a vida. 

Paulo casou-se e pouco tempo depois, pelas conversas que ouvia, soube que brigava muito com a esposa, passou então a ficar muito na casa dos pais, ficando mesmo mais tempo do que quando era solteiro. 

Não era bonita, mas interessante, magra, alta, rosto miúdo, chamava a atenção pelo meu jeito exótico e diferente e pela cor do meu cabelo, castanho-cinzento, da mesma cor dos de Caio. 

Paulo notou-me, passou a olhar-me interessado e eu a corresponder. Tivemos um romance, tornei-me sua amante.Dava-me muitos presentes e dinheiro, sentia-me feliz.Menti aos meus pais que por ser boa empregada estava ganhando mais e passei a lhes dar mais dinheiro. Minha mãe pôde descansar mais, trabalhando menos. Orgulhavam-se de mim, abençoavam-me por ser boa filha, alegrava-os tanto que sufoquei o remorso por enganá-los e também pelo que sentia por estar procedendo errado. 

— É por eles! - dizia sempre. 

Ninguém desconfiou, passaram-se meses, até que percebi que estava grávida. Enchi-me de coragem e contei ao Paulo. Ele desesperou-se, fez-me prometer que não ia contar a ninguém e que ia ajudar-me a achar uma solução para o problema. Esperei com medo, passaram-se dois dias,ele veio ter comigo com uma proposta. Lembro-me tão bem... 

— Antônia, sabe que sou casado, não escondi e você aceitou-me assim. Você terá o filho e será mãe-solteira,porque não posso casar-me com você. Preocupo-me com a situação. O que pensarão seus pais disto? Não poderá trabalhar grávida e, depois, quem dará trabalho a você?Como fará para sustentar-se? 

Comecei a chorar, entendi que ele falava a verdade,deixou-me chorar por uns minutos e continuou: 

— Antônia, não se desespere, vou ajudá-la, tenho uma proposta para lhe fazer, escute com atenção. O filho é meu,não é? Deixa-o comigo. Faremos assim: você irá para afazenda de meu pai, onde ficará escondida, lá será bem tratada e não trabalhará. Dirá a seus pais que viajará com os patrões, receberá seu ordenado e continuará a mandar dinheiro a eles, ninguém desconfiará. 

Filho AdotivoOnde histórias criam vida. Descubra agora