A casa, escura e silenciosa, demonstrava que todos os seus moradores dormiam. Entramos. Fomos ao quarto de Ofélia que ainda se achava acordada, orava com fé, seus dedos deslizavam no seu já gasto rosário, esperando adormecer para o devido descanso físico.
— Ofélia, dorme pouco, explicou-me Antônia.
Acerquei-me dela, dei-lhe um passe calmante que foi bem recebido, logo adormeceu. Seu Espírito desligou parcialmente do corpo, levantou-se devagar e seguiu para a sala de estar, acompanhamo-la.
— Ofélia! - disse delicadamente Antônia.
Ela virou-se, olhou-nos analisando-nos:
— Quem está aí? Como entraram em minha casa?
— Somos amigos, continuou calmamente Antônia,viemos conversar com você.
Ofélia sentou-se no sofá, sentamos também, olhou-nos desconfiada, Antônia continuou a falar!
— Ofélia, minha querida, é minha benfeitora, sempre tão bondosa. Recebeu a carta de suas irmãs, não seja injusta com Rosa ela nunca a traiu, não é ela o que pensa e...
— Quem me fala assim? Quem é você?
— Ofélia, continuou minha amiga, procure saber onde Rosa esteve nos meses de abril a julho. Procure! Rosa é inocente!
— Por que me diz isto? Como sabe? Não a conheço.
— Sabemos que Caio é adotivo, mas não é filho de sua irmã Rosa. Sou eu a mãe dele, Caio é meu filho.
Ao ouvir Antônia pronunciar o nome de Caio, Ofélia agitou-se, tinha medo da verdade, não queria encontrar com a mãe de Caio, não queria perdê-lo como filho nem repartir seu amor. Quando Antônia disse: "meu filho" ela levantou-se rápido. Seu corpo era inválido, mas não seu perispírito liberto do corpo pelo sono. Nem sempre este fato ocorre. Há defeitos corporais acompanhados pelo perispírito também defeituoso, por falta de compreensão e resignação. Muitos deficientes, libertos pelo Sono, continuam deficientes e muitos continuam até mesmo após libertos pela morte física.
Ofélia olhou bem para Antônia e disse com firmeza!
— Mãe dele? Nunca! Mãe sou eu que o criou que cuido dele! Que veio fazer aqui após tanto tempo? Mãe dele? Não creio. Veio tomá-lo de mim? Não quero que fique aqui, vá, por favor, embora. Caio é meu!
— Concordo, respondeu Antônia, Caio é seu. Quem mais teria direito a ele que você? Ele é seu! Não quero tomá-lo. Sou grata a você por amá-lo e por ter cuidado dele. Digo lhe que sou a mãe dele, gerei-o, e não Rosa. Quero impedir que você, minha benfeitora, cometa uma injustiça com sua irmã. Sou a mãe carnal dele.
Ofélia fez um gesto de quem não queria escutar mais, sentiu medo e voltou rápido ao corpo e Antônia repetiu-lhe mais uma vez:
— Rosa é inocente!
Ficamos na sala e veio ter conosco, logo em seguida, Caio desligado do corpo pelo sono, andava distraído. Viu nos, parou e olhou-nos desconfiado e indagou:
— Quem são vocês? Que fazem aqui em minha casa?
— Amigos, respondi, viemos para conversar, quer, por favor, dar-nos atenção por alguns instantes?
— Hum... Não os conheço.
Antônia aproximou-se dele, emocionada:
— Caio meu filho! Como você é bonito! Lindo! Você é feliz?
— Sim, sou muito feliz, sorriu só que não estou entendendo. Que papo estranho!
— Amo você! Sou sua mãe e de Cidinha também. São irmãos e não devem se casar. Sou sua mãe...
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Filho Adotivo
SpiritualO drama de dois irmãos que, sem saberem, namoram e desejam se casar; e a aflição da mãe, já desencarnada, por alertá-los contra o perigo. Espíritos amigos entram em ação e tecem uma verdadeira lição de carinho e fraternidade