CAPÍTULO 3

115 13 9
                                    

O toque das matracas se ouvia ao longe, acompanhadas de fortes batidas de pandeirões e uma multidão. Antônio nunca vira algo igual em sua vida, era o Bumba meu boi Brilho da Ilha, orquestrado pelo próprio mestre Ferreira, que estava vestindo uma indumentária colorida cheia de enfeites.

Uilson também estava lá com duas tábuas na mão fazendo sua festa particular, mas os olhos de Antônio repousaram em uma bela índia de balanço inconfundível e sorriso largo. É claro que não poderia ser outra a não ser Gerusa. A moça estava estonteante, usava um cocar na cabeça de penas coloridas entre amarelo e laranja, plumas pelo corpo, o vento passava pelos cabelos pretos de Gerusa a deixando ainda mais linda. Aquela visão era demais para o português, que batia palmas e balançava o corpo desengonçado, tentando encontrar seu ritmo naquele batuque.

Gerusa notou a presença do português e o convidou para uma conversa mais íntima depois da apresentação. Os dois sorriram e brincavam e de repente zás! Um clima diferente pairou no ar, Gerusa e Antônio sumiram dos olhares de mestre Ferreira, que saiu com o filho Uilson em busca da índia sumida. Quando Uilson os encontrou, o casal estava suado e visivelmente nervoso.

─ O que os dois fazem aqui sozinhos afastados de tudo e de todos?

Perguntou Uilson temendo o que poderia ouvir.

─ Calma meu amigo, sua irmã passou mal e o melhor seria uma pica, e é bom se apressar para não pegar bicha.

Uilson não acreditou no que acabara de ouvir, poderia ser assim tão atrevido o danado português?

─ A Gerusa é mulher feita, sabe bem o que faz, eu é que não vou atrapalhar mais o casal, só tenham cuidado com Mestre Ferreira, que diferente de mim a pele do português poderá arrancar.

─ Deixa de bobagem! Foi a caldeirada de camarão que o estômago me revirou.

Retrucou Gerusa dando um empurrão no português.

─ O Antônio ficou assustado e achou melhor que eu tomasse uma injeção para aliviar.

─ Eita Língua difícil, que tem a ver injeção com bicha? ... Bem, deixa pra lá!

─ Estou melhorando ... Só foi um mal estar, bicha é fila que ele queria evitar.

Falava Gerusa enquanto ajeitava o cocar.

─ Quem mandou ir na casa de pasto antes de ir no boi balançar!

Resmungou o português. Mestre Ferreira foi chegando nesse momento e ouvira tal expressão.

─ Quem é esse português para ofender filha minha e chamar meu restaurante de estrebaria?

─ Calma que tudo tem uma explicação, é melhor desistir mestre Ferreira! Mais fácil vaca pastar no teu restaurante do que entender o que esse português diz.

Falou Uilson suspirando depois que Mestre Ferreira entendeu a questão.

─ Vamos dançar, que pelo menos festa é festa aqui e em qualquer outro lugar.




---xx---


QUE PORTUGUÊS É ESSE?Onde histórias criam vida. Descubra agora