§Lauren não conseguia pregar os olhos. A cidade estava silenciosa naquela hora da manhã e havia acabado de preparar um café forte. Pela porta dava para ver os rapazes da banda dormindo na sala; todos estavam embriagados quando a cantora impediu que fossem embora. Caminhou lentamente pela casa até parar em frente à porta de vidro que dava para o jardim, mas antes mesmo de abri-la, a campainha tocou preguiçosamente. Deixou a xícara de café em cima do balcão da cozinha e caminhou em direção à porta de entrada. A surpresa em ver aquela pessoa ali na sua frente era inevitável.
- Pai?
Michael Jauregui estava com uma aparência cansada, parecendo que também não havia dormido, quando afirmou com a cabeça, deixando a mochila no chão. Lauren mordeu o lábio inferior e sentiu o próprio queixo tremendo. O homem negou com a cabeça e deu três passos à frente, puxando a mulher dos olhos verdes para um apertado abraço.
- Minha filha...
A temperatura tinha caído diversos graus e a mudança térmica em relação à manhã fizera descer finíssima bruma colorida de laranja pela luz dos postes. A simplicidade daquele momento tinha a confirmação de que fora conduzida à lembrança do último abraço que dera naquele homem.
- Senti sua falta – soltou de uma forma abafada, enquanto o pai fazia carinho nos seus cabelos.
- Eu também, meu amor – Michael afrouxou o aperto e foi soltando lentamente a filha, que o encarava. – Pguei o primeiro avião assim que soube do que aconteceu.
Lauren ofereceu um leve sorriso após ouvir aquilo e apertou-lhe as mãos em agradecimento. O pequeno silêncio que se formou fora o suficiente para lembrar de sua mãe.
- Ela não veio.
- Eu lamento – soltou um longo suspiro antes de continuar. – Mas eu estou aqui agora.
Lauren tentou a todo custo esvaziar a cabeça; de fato, a presença do seu pai fora uma injeção de alívio. Afastou-se e logo deu espaço pra que o homem entrasse em sua casa. Fechou a porta atrás de si e fez sinal com o dedo indicador, pedindo silêncio. Michael afirmou com a cabeça e acompanhou a filha até a cozinha. Assim que entraram visualizou uma frigideira que estava sobre a pia e sussurrou que iria fazer o café da manhã – e também havia sussurrado para que acordasse quem estivesse na casa, pois queria conhecê-los. E assim fora feito. Lauren subiu para seu quarto e acordou Dinah e Normani, pois teria que explicar o que acabara de acontecer. Posteriormente, Zayn e Keana e, por último, os meninos da banda.
§
Abriu os olhos assustados, acordando de um pesadelo; estava deitada na cama, de barriga para cima e observava as mãos abandonadas ao longo dos quadris, sobre os lençóis claros. Era só um sonho, sua mente falava para si. Levantou uma delas e colocou diante dos olhos para coçar o direito, lembrando vagamente do compromisso que teria mais tarde.
Era o dia da estreia do filme.
Levantou-se preguiçosamente e foi até o quarto de hóspedes parar acordar seu pai também, pedindo para que o mesmo se aprontasse para irem à loja de trajes masculinos. Caminhou para o banheiro ainda com sono e quando a água molhou seu cabelo, lembrou-se de Camila. Há dias tentou entrar em contanto para agradecer à ajuda, mas não houve retorno. Ensaboou o corpo inteiro e deu um longo suspiro ao se sentir descansada; também há dias não dormia direito, exceto naquela noite. Enrolou-se na toalha verde e saiu do banheiro.
O dia estava longe de terminar.
[...]
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Relicário
FanfictionUm dia eu li em algum lugar que tudo é autobiografia; que a vida de cada um de nós está contando histórias, desde o fazeres aos dizeres - está nos gestos, na maneira como andamos e olhamos, como viramos a cabeça ou apanhamos um objeto no chão. Li em...