Prólogo

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Oi pessoal. Novo livro, mas por enquanto irei deixar apenas o prólogo. Assim que terminar A Escolha Perfeita, irei começar a postar Dependentes. ;) 


PRÓLOGO

A leve brisa trazia um frescor reconfortante para a pequena Brooke enquanto corria pelo jardim. Com os pés descalços, seus cabelos em um dourado brilhante que escorriam até a sua cintura, os fios claros resplandeciam sob a luz do sol. Ela gostava de sentir a grama pinicar seus pés, observar as borboletas que pousavam sobre as diversificadas e perfumadas flores.

Entretanto, Brooke não conseguia sorrir como de costume, os seus olhos verdes, que sempre foram tão expressivos, estavam escuros, quase como musgo. Eles refletiam nitidamente toda a tristeza que ela não conseguia deixar de sentir. Ela não entendia o porquê sua mãe havia ido embora, na verdade, ela vira a mãe poucas vezes nos últimos meses. Ela tinha a imagem de Cassandra deitada na cama de um hospital sem o seu sorriso reluzente e aquecedor, diversos fios ligados ao corpo, até mesmo a sua voz estava diferente, os olhos tinham contornos arroxeados e estavam sem brilho, além das lágrimas que caiam em abundância.

Brooke queria ter sua mãe de volta em casa, acordando-a com beijos e sorrindo, como todos os dias. Nem mesmo seu pai ela via mais. Ele estava sempre trancado no quarto, ou quando ela não o via chorando pelos cantos da casa e toda vez que ela tentava se aproximar, ele fugia. Ela queria entender o que estava acontecendo, estava tão sem graça ficar naquela casa enorme e longe dos pais.

Ariel era sua única companhia, mas ela não brincava mais com Brooke, estava sempre dentro de casa, chorosa e focada em suas tarefas.

O pequenino corpo deixou-se cair sobre o gramado, esparramando os braços e pernas em um descanso reconfortante. Os pequenos e tristonhos olhos miravam os tímidos raios de sol que tentavam burlar a imensidão da nuvem que começou a lhe cobrir. Até mesmo o sol estava fugindo dela.

— Brooke, querida. Venha comer, seu pai logo estará em casa. Ele quer conversar com você. — a voz de Ariel tirou a pequena garotinha do seu transe.

Na verdade, Brooke estava pensativa. Pensamentos esses que nada de bom lhe trazia, a não ser a dor e mais dúvidas. A todo o momento ela se questionava se havia algo de errado com ela, o porquê as pessoas se afastavam.

— Brooke! — gritou Ariel ao ver que a menina sequer se mexia. — Vamos meu pequeno gafanhoto, você precisa comer. Você precisa ficar forte. — A voz soou embargada.

Brooke estava começando a se acostumar com o novo comportamento da sua amiga. Os sentimentos eram sempre instáveis.

Os pequenos olhos de esmeralda se fecharam e o franzino corpo se levantou, ao mesmo instante em que a nuvem deixava novamente o sol aparecer.

— Eu não estou com fome. Eu quero a minha mãe, Leleu — retrucou em súplica.

Ariel contorceu-se perto da menina, reprimindo a vontade desesperada de chorar.

— Eu sinto muito, querida. Logo você irá entender, agora vamos. Seu pai precisa de você forte. Brooke bufou e pegou a mão estendida de Ariel, caminhando ao seu lado para dentro de casa.

— Leleu, eu queria brincar. Será que depois de comer e falar com o papai, podemos brincar de pique esconde? Não tem graça quando ninguém me procura.

Ariel fechou os olhos com força. Era tão triste ver a sua menininha sofrer. Ela havia cuidado de Brooke desde o dia em que nasceu, mas após Cassandra adoecer ela quase não dava atenção a menina.

Assim que Brooke terminou o almoço, Victorio chegou em casa, como Ariel havia dito. Ele estava ainda mais abatido. Os olhos vermelhos e inchados e os cabelos desgrenhados. Brooke assustou-se ao ver o pai daquele estado. Estava acostumada com pequenos choros dele pelos cantos da casa, mas nada comparado ao estado catastrófico em que chegou em casa. Brooke notou que Ariel ficou nervosa, ela estava estranha os olhos também ficando vermelhos até que o choro irrompeu o ar.

— Leleu por que você e papai estão assim, estranhos? Estou com medo — Brooke sussurrou segurando o seu ursinho.

— Não fique, querida. Só estamos tristes. — Fungou forçando um sorriso. — Venha, seu pai precisa falar com você. Céus, que Deus o ajude, porque eu não... — Um soluço deixou os lábios de Ariel impedindo que ela falasse.

Victorio estava em seu escritório, com sua aparência devastada e uma garrafa de uísque nas mãos. O copo foi dispensado, ele sorvia o líquido direto do gargalo, mas largou a bebida quando Brooke soltou a mão de Ariel e correu ao seu encontro. Ele abriu os braços e a suspendeu no ar.

— Minha Brooke, meu pequeno gafanhoto. O que iremos fazer? — murmurou beijando os lindos cabelos dourado da filha.

— Eu quero brincar papai. Por que está chorando? Por que todos só choram? Eu queria que a mamãe estivesse aqui, ela não chorava. Podemos ir ver a mamãe?

Ariel levouas mãos à boca e saiu correndo, mas seu choro podia ainda ser ouvido do escritório. Victorio sentiu como se o pequeno pedaço que havia ficado inteiro do seu coração, virasse pó com as palavras da filha.

Como ele contaria para aquela menina inocente que sua mãe não voltaria nunca mais? Que a sua mãe sofreu horrores e tudo o que ela falava era o nome de Brooke. Como não deixar que seu pequeno gafanhoto sentisse a mesma dor que ele estava sentindo? Como poupá-la e como ser tudo o que ela precisa? Victorio a colocou em seu colo.

— Querida, meu pequeno gafanhoto... Você sabe o quanto a mamãe te amava não sabe? — Ela assentiu com um biquinho. — Sabe, ela desejou você mesmo antes de saber sobre você. Ela tinha sonhos com você, com seus olhos, seus cabelos... — Victorio apertou os lábios reprimindo um soluço. — Brooke, ela te amava. Ela te amava tanto que foi por isso que você não pôde mais vê-la. A mamãe queria que você lembrasse-se dela correndo com você pelo jardim, nos beijos de bom dia, nas historinhas à noite e seu perfume. Ela queria que você tivesse sempre a memória do seu cheiro.

— E por que eu não posso mais ver a mamãe?

Victorio respirou fundo, buscando forças. Ele olhou dentro dos olhos verdes da filha, ele já havia poupado demais, Savannah precisava de respostas e ele havia prometido a Cassandra.

— Meu bem, eu te amo mais que a minha própria vida. A mamãe também, mas não podemos mais vê-la, ela agora foi morar no céu, ela tinha... Tinha serviços a fazer lá. Lembra de como ela era boa? — Brooke baixou seus olhinhos e maneou a cabeça. — As pessoas boas são chamadas para trabalhar no céu.

— Então, eu nunca mais vou ver a mamãe? Ela virou anjo? Porque Leleu sempre disse que as pessoas que estão no céu são anjos. — A voz embargada de Brooke estava dilacerando a alma de Victorio.

— Não meu amor, não vai. A mamãe é um anjo sim. Mas olhe pra mim — pediu, ela levantou o rosto, os olhos brilhantes pelas lágrimas que desciam silenciosas. — Eu vou cuidar de você, meu pequeno gafanhoto. Eu amo você e eu jurei pra mamãe jamais sair do seu lado. Agora somos só nós dois. — Abraçou fortemente a filha contra o peito.

Brooke nada disse, ela havia entendido. De certa forma, ela idealizou em sua mente a mãe com vestidos longos e enormes asas branquinhas e enormes pulando sobre as nuvens. Linda, com o seu sorriso aquecedor e sua voz afinada cantarolando como um anjo. 

DEPENDENTES - DEGUSTAÇÃO - COMPLETO ATÉ 11/09Onde histórias criam vida. Descubra agora