CAPÍTULO IV

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Estávamos eu e Margot na recepção do necrotério, ao lado do senhor e da senhora Hansen, os pais de Jenny, que, segundo eles, havia viajado pois não suportaria ver Chris ali. Ou viver sem o mesmo.

Era estranho como aquilo aconteceu, como os pais de Jenny nos ligaram com tanta naturalidade, como rapidamente ela sumiu e foi simplesmente embora para outro país. Como a gente parou de ser importante de repente.

Eu fiquei apenas acalentando todos ali, buscando água para Margot, que estava ali pois Chris era um dos jogadores de basquete amigos dela e ele havia ensinado a ela os primeiros passos para ser a jogadora principal do time.

Era difícil alguém que nós convivemos, choramos, rimos, fomos a festas quase todos os finais de semana e, depois de tudo, acabar em um necrotério, juntamente com centenas de corpos avulsos.

- Acho melhor irmos, Margot. - eu falo, fazendo carinho no ombro dela, enquanto ela chorava inconformada no meu ombro, molhando minha blusa branca sem estampa.

- Eu não vou conseguir dormir, Kath. - ela me olha e eu suspiro.

- Eu... posso dormir com você. - dou um meio sorriso, mesmo que a Margot fosse linda e inteligente, naquela noite eu iria respeitá-la como minha amiga. Dormiria com ela por empatia, não por interesse.

- Kath, pode ir para casa, vou ficar aqui e os pais da Jenny irão me levar quando forem, logo os pais do Chris também vão chegar. Eu vou ficar bem! - ela diz e mais lágrimas banham seu rosto, tendo o brilho das luzes brancas, refletidas na água salgada que irrigava seus olhos.

- Ohana quer dizer família. E família quer dizer nunca abandonar ou esquecer. Você é minha família Margot. - beijo a testa dela e deito o rosto dela em meu ombro, onde ela chorava antes.

A madrugada havia sido agitada, dentre tantos defuntos que vi naquela noite, eu era quem mais estava parecendo um defunto mesmo.
Margot dormiu em meu colo por algumas horas o que ainda deixou ela apresentável, mas eu cuidei dela todo o tempo, como a ótima amiga que sou.

- vamos para casa? - pude ouvir Margot falar, enquanto eu voltava do banheiro que foi meu mais novo amigo, de tantas vezes que nos vimos só essa madrugada.
Como não tinha muita coisa para fazer e o nervosismo não ajudava, eu fiquei bebendo água para amenizar aquilo, o que fez eu percorrer quase um quilômetro apenas de idas e vindas ao sanitário.

- Vamos, eu já caminhei até o banheiro o bastante por uma semana - falo descontraída para amenizar o cansaço e o clima tenso que ficou.

Os Wolsen chegaram havia horas e choravam descontroladamente, houve até alguns desentendimentos com os Hansen, pais da Jen, mas eu e Margot não nos metemos, era um assunto íntimo.

- Bom dia senhores Hansen e Wolsen, Katherine e eu vamos para casa - Margot levanta-se da cadeira e cumprimenta eles, assim como eu faço.

- Vamos carregar as memórias do Chris em nossos corações. - falo e caminho até a saída do necrotério.

A madrugada entediante havia me levado a pensamentos e desconfianças sobre Jenny Hansen, algo ali me cheirava mal.

Como alguém sairia do país tão rápido? E como ela viajou antes mesmo do necrotério chegar, pois para buscar o corpo tinha que haver alguém na casa e apenas quando os pais da Jenny chegaram liberaram, ou seja, ela não estava lá. Primeiramente, como Chris realmente morreu?
Eu começava a desconfiar de ações não só de Jenny, mas do Joe, afinal ele não havia pisado no necrotério e era louco por Jenny Hansen.

Flashback on

Estávamos na piscina, era uma noite de segunda. Apesar do dia atípico, nós estávamos comemorando a vitória de Joe no time de basquete e brindávamos com cerveja, mesmo que tivessemos champagne.

Mesmo meio alcoolizados, era evidente as cartadas que Joe dava em Jenny, ainda que ela já mostrasse interesses maiores por Chris.

- Joey, você ganhou o jogo, mas eu não sou o troféu. - ela se esquiva naquela hora e sai da piscina, indo buscar mais bebidas.

Eu o vejo sair da piscina também e a acompanhar, mais uma vez levando patada e posso até ver Jenny o ameaçar com uma faca da cozinha, caso ele se aproximasse.

Flashback off

Não sabia se era a bebida que estava me fazendo ver coisas... mas quem tem coragem de pegar uma faca e apontar para um amigo também deve ter para matar o namorado e sair do país. Faz sentido?

Esses pensamentos me assolaram durante quase toda a madrugada e eu pude pensar também em ações do Joe. Eu já sabia que ele faria qualquer coisa pela Jenny, todo mundo sabia, pelo menos para ter um pouco do amor dela... e isso podia se perceber em tudo que ele fazia.

Dentre a lista de coisas que ele havia feito pela Jenny, estava uma carta de amor, um ovo de Páscoa personalizado para ela e um vinho, que ele mesmo comprou e mandou fazer sob encomenda com as melhores uvas e advinha o nome que deram ao engarrafar? Jenny.

Podiam ser coisas pequenas e insignificantes, mas Joey sabia que poderia fazer mais por ela, para provar seu amor por ela, como ele mesmo havia dito. Mas até onde ele iria?

Ao chegarmos na minha casa, eu levei a bolsa de Margot para o meu quarto. Não deixaria ela dormir sozinha depois de um acontecimento assim.

- Eu vou pegar toalha para você - olho que tudo já estava bem e vou até meu closet pegar uma toalha limpa para a minha amiga de infância.

- Obrigada Kath, por tudo, tudo mesmo - ela me abraça e eu sorrio.

Os braços de Margot eram quentes e aconchegantes, eu podia ficar horas naquele abraço, mas não podia me render tão fácil aos encantos da garota um pouco menor que eu.

- Chega de choro, vamos para o banho. - Margot evidentemente estava triste. Não sabia como lidar, pois nunca havíamos passado por algo do tipo, então suas emoções estavam a flor da pele assim como ela sempre foi, se não era 10 era 1000.

Ela toma banho e eu dou licença a ela para se trocar, fazendo alguns sanduíches na cozinha para comermos.

- Aqui está, você não comeu nada a noite toda. - tiro o celular da mão dela, onde havia fotos de Chris, mas eu não deixaria ela afundar mais.

Ela comeu em silêncio, nem sequer resistiu quando eu tirei o celular de sua mão, ela já não tinha ânimo para quase nada.

Depois,dormimos, juntas porém cada uma para o seu lado. Eu queria proteger todas as minhas amigas do que estava acontecendo, pois elas eram meus bens mais preciosos.


Oieeee, aqui é a Vi, sou amiga de vocês se chegaram até aqui, então o que estão achando? Será quem é o culpado? Quem vai se dar mal?

Beijos minhas amoras!


Amizade a toda provaOnde histórias criam vida. Descubra agora