CAPÍTULO VI

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Point Of View MARGOT

Fazia dias que a vida parecia ter parado para nós, dias tristes e dolorosos depois do velório de Chris.

Eu havia sido chamada para prestar depoimento, mas havia ainda tantas coisas que não se encaixavam na história...

Katherine me consolava, andava comigo, fazia tudo que eu pedia, até dormiamos juntas de vez em quando. Mas nem sempre eu tinha a presença dela, fora que Matthew havia abandonado a garota de cabelo azul por, de acordo com ele, ela ser uma "vadia de quinta".
Ela chorou horrores no dia, mas depois seguiu de cabeça erguida sem Matthew, sem relacionamento, apenas ela e ela mesma.

Eu estava acompanhando as investigações, mas coisas estranhas aconteciam quase todos os dias, objetos sumiam da cena do crime, sem contar que as peças mais importantes, Jenny e Joe, haviam sumido, prejudicando as investigações.

Os pais deles também adoravam acompanhar tudo, mas eles mais atrapalhavam do que ajudavam, seja derrubando Whisky enquanto bebiam ou tirando algo do lugar que estava antes. Eles não queriam achar os filhos deles?

Os depoimentos eram os mais vagos possíveis, mas, por fora, nós desabávamos sem precedentes.

- Senhorita Wallace, o que lembra de suspeito, das festas que frequentavam? - eu havia vindo com Kath, havia praticamente sentado, quando ele já me lança a pergunta.

- Eu apenas sei que Jenny, a suposta namorada, e Joe viviam um relacionamento, confuso e supérfluo, mas viviam. Chris sempre foi alguém como uma pedra no caminho, mas Jenny não deixava que nenhuma provocação passasse. - eu poderia estar traindo quem fosse, mas a verdade sempre deveria vir em primeiro lugar.

Eu o via anotar minhas palavras, cada mera palavra que eu dizia. A tinta da sua caneta ia diminuindo, sendo gasta no papel branco de um bloco de anotações.

- Eu posso ir? - pergunto, levantando-me, olhando para o homem grisalho.

Ele acena que sim com a cabeça e eu ajeito o meu moletom estilo cropped, saindo da sala.
Caminho pelo corredor da delegacia e vou até Katherine, sentando-se ao lado dela.

- Como foi? - ela me pergunta, olhando-me com calma.

- Devastador. - seguro seu braço e deito minha cabeça nele. Era o mínimo que eu queria

Eu havia falado tudo o que eu sabia, o que não era muito, mas qualquer peça que ajudasse agora era importante.

- Após a Formatura... - escuto Katherine começar a falar e me levanto. - Eu vou para Oxford, meu pai conseguiu patrocinar eventos de lá, então eu terei que ir um mês depois da formatura.

Ela havia falado de forma sutil, mexendo o café na mão, já nem estava quente, mas um pouco frio de tanto tempo exposto ao ar condicionado.

- Eu vou ficar bem, só quero que prometa que vai me mandar mensagens e me ligar e vir me visitar nas férias de verão. - a abraço, era uma das poucas pessoas que não tinha medo de demonstrar nada, eu sempre mostrava a Margot sentimental que sempre existiu, mas pouco se mostrava.

Apesar de tudo, levaria comigo tudo de melhor vivido no College Secundary: as conquistas, as risadas e os bons amigos que ele havia me trazido.

Os depoimentos se arrastaram por um mês, até uma semana antes da formatura, onde duas garotas gêmeas foram finalizar o ensino médio com a gente.

Ninguém sabia ao certo quem eram elas, mas tinham o perfil de serem "novas ricas", como costumávamos falar.

- Bom dia, Mag. - eu fecho meu armário e vejo Alisson ali. Morena, alta e de olhos castanhos.

Eu andava com elas, tentei incluí-las no nosso grupo de veteranos e até que elas estavam se saindo bem.

- Bom dia, Alisson. - dou um sorrisinho e confiro se havia pegado os livros certos. - Pronta para a última semana no Ensino Médio?

Eu dou uma risada fraca, há poucos dias havia recebido uma carta de Harvard, o que me trouxe meu futuro nas mãos e, o melhor de tudo, sem a ajuda dos meus pais. 100% mérito meu, por ter estudado tantas noites.

- Claro que estou, anjinho. - ela me acompanha e senta ao meu lado na aula de Físico-química.

- Onde estão Madison e Katherine? - pergunto olhando em volta, tentando ver a mochila ou as próprias delinquentes.

Eu sabia que agora Madison era grudada na Katherine, elas realmente haviam se dado bem, mas era tão estranho não ter ela comigo na maior parte do tempo... É, ela estava com a Madison.

- Estão na aula de educação Física... Quer dizer, a Madison está, a Katherine está só babando ela mesmo. - o professor entra em sala e eu semicerro os olhos, olhando para Alisson.

Elas eram irmãs próximas, mas as duas sabiam ter vidas separadas também, não dependendo de ninguém. Para falar a verdade, nós nunca nem vimos os pais delas, como era de costume para todos que conhecíamos, e nem fomos a casa delas pois elas dizem que está em reforma quase o tempo todo.

- Certo, então depois irei encontrar com ela. - eu olho para frente e começo a finalmente entender o que o professor de barba branca explicava.

Fecho meu livro e coloco na bolsa, enquanto escuto o professor finalizar a aula.

- Por favor, tragam o trabalho até segunda, não aceito atrasos. - ele diz e sai da sala com seu copo plástico com café.

Alisson guardava suas coisas e resmungava algo, mas não sabia identificar direito, então só me levantei e fui até a porta.

- Homem chato, só fica mandando fazer trabalho, vou fazer é um trabalho de macumba para ele. - escuto Madison e rio dela, o senso de humor dela era algo obscuro, mas que me fazia rir, apesar de algumas vezes não agradar a todos.

- Tchau Mag. - ela acena para mim e sai andando até a porta, indo embora, como sempre, assim que acabavam as aulas.

Nesse momento eu pensei na formatura que se aproximava, o tão esperado momento de jogar os diplomas para o alto.

Poderia ser difícil abandonar algo que passou anos com você, mas a vida é feita de tantos ciclos, ciclos que nos amadurecem, nos evoluem e agora era a hora de um novo ciclo se iniciar, onde seríamos livres, livres mundo a fora.

Todos os depoimentos foram registrados e colocados com o arquivo do crime, mas ninguém sabia ao certo as informações reais, a arma ou o motivo, ou quem foi mesmo, pois quase nada foi achado como prova.

Podemos reclamar do trabalho de investigação por ser muito lento, mas quando isso te envolve também, as coisas já não andam tão lentamente.

Eu iria para Harvard e deixaria um pouco de mim aqui, mas eu sabia que não esqueceria nada daquele crime, apenas deixaria de conviver todos os dias com as pessoas que foram testemunhas e que talvez sabiam muito, mas não disseram nada.

Amizade a toda provaOnde histórias criam vida. Descubra agora