Ele sempre descia aquelas escadas como se fosse cair sobre os degraus e bater todo o corpo contra a balustrada. Mas ele era engenhoso, desviava no último segundo e continuava descendo e descendo até chegar ao playground da pequena praça em frente ao prédio McHenry.
Ele pulava todos os pneus velhos ali jogados e encarava, por dois segundos - sempre dois segundos - o último pneu antes de atacá-lo com seus All Stars vermelhos repletos de bolinhas coloridas. Ele mesmo havia feito aquilo, pintado bolinhas coloridas em seu tênis.
Lembro que sua mãe havia pego uma escova e sabão para limpar aquilo, mas a tinta das canetinhas não saia.
Ele a olhou por dois segundos - sempre dois segundos - e sorriu. Fora um sorriso tão desdenhoso e ao mesmo tempo tão espontâneo que sua mãe tampouco se importara. Ela largou os tênis, ainda úmidos e cheios de espuma, bem em frente aos pés nus e frios do filho.
Ele os calçou, mesmo sem meias, mesmo molhados e espumosos, e voltou a brincar.
Havia um único lugar vago no balanço, e era bem à meu lado, ele sentou, não disse nada, e balançou.
Para frente.
Para trás.
Para frente.
Para trás.
Alto.
Mais alto.
Para frente.
Para trás.
Depois de muito tempo, ele parou. Era estúpido pensar que eu fora o motivo de ele parar. Até me dizer: oi.
Seu nome era curto, eu mal me lembro do gosto daquelas palavras em minha boca - supostamente, são doces.
Tínhamos doze, talvez treze anos... Não importava. Éramos tão jovens a ponto de não saber o que era o amor. Tão jovens a ponto de não saber a hora que esse tal amor chegou e escancarou as postas de nossos pequenos corações ao passar.
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Aquele Balanço Vazio
Short Story©2016 SSMissing Todos os direitos reservados. Esta é uma obra de ficção. Todos os acontecimentos descritos são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.