primeiro

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Ele sempre descia aquelas escadas como se fosse cair sobre os degraus e bater todo o corpo contra a balustrada. Mas ele era engenhoso, desviava no último segundo e continuava descendo e descendo até chegar ao playground da pequena praça em frente ao prédio McHenry.

Ele pulava todos os pneus velhos ali jogados e encarava, por dois segundos - sempre dois segundos - o último pneu antes de atacá-lo com seus All Stars vermelhos repletos de bolinhas coloridas. Ele mesmo havia feito aquilo, pintado bolinhas coloridas em seu tênis.

Lembro que sua mãe havia pego uma escova e sabão para limpar aquilo, mas a tinta das canetinhas não saia.

Ele a olhou por dois segundos - sempre dois segundos - e sorriu. Fora um sorriso tão desdenhoso e ao mesmo tempo tão espontâneo que sua mãe tampouco se importara. Ela largou os tênis, ainda úmidos e cheios de espuma, bem em frente aos pés nus e frios do filho.

Ele os calçou, mesmo sem meias, mesmo molhados e espumosos, e voltou a brincar.

Havia um único lugar vago no balanço, e era bem à meu lado, ele sentou, não disse nada, e balançou.

Para frente.

Para trás.

Para frente.

Para trás.

Alto.

Mais alto.

Para frente.

Para trás.

Depois de muito tempo, ele parou. Era estúpido pensar que eu fora o motivo de ele parar. Até me dizer: oi.

Seu nome era curto, eu mal me lembro do gosto daquelas palavras em minha boca - supostamente, são doces.

Tínhamos doze, talvez treze anos... Não importava. Éramos tão jovens a ponto de não saber o que era o amor. Tão jovens a ponto de não saber a hora que esse tal amor chegou e escancarou as postas de nossos pequenos corações ao passar.

Aquele Balanço VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora