Tínhamos dezesseis, talvez dezessete anos. Ele havia pintado o cabelo com mechas vermelhas e eu, com mechas azuis.
Éramos esculpidos em pura fantasia e torpor.
Ele me conduzia pelo salão, era uma sexta-feira, doze da noite. Meu vestido era enfeitado de mais, seu paletó estava adornado com uma flor da mesma cor do vestido.
Rosa. Um tipo de rosa que alguém cheirou, amou, enjoou, jogou, pisou e pisou, mais e mais, até que parecesse plástico.
Odiavamos aquela cor. Mas estávamos tão inertes em tudo o que acontecia à nossa volta que uma simples cor não incomodaria.
Dançamos até a festa acabar, e, sozinhos, trôpegos, pelas ruas vazias e a noite silenciosa, fizemos nossa própria festa.
O balanço veio e se foi. Eu estava enjoada, mas ele não queria parar.
Mais alto!
E mais alto eu ia. Senti que minha pernas poderiam tocar as nuvens.
Mas elas haviam de parar.
E pararam.
Ele me olhou, sério, por dois segundos — sempre dois segundos — então sorriu.
Fora um sorriso gracioso, entre os meus lábios pouco pigmentados. Doce. Esse era seu sabor.
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Aquele Balanço Vazio
Short Story©2016 SSMissing Todos os direitos reservados. Esta é uma obra de ficção. Todos os acontecimentos descritos são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.