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Era noite de quinta-feira e eu havia acabado de chegar ao hotel reservado pela empresa após quase dez horas de voo. Tudo bem que o Brasil é imenso, mas me questionava como, dentro do país, pudessem haver distâncias correspondentes a voos internacionais para outro continente. A maior culpa disso na verdade não é do tempo de voo e sim das longas esperas por conexões, já que mesmo para algumas capitais não haviam voos diretos.

Eu precisava tomar um bom banho quente e dormir cada minuto das 8h que me separavam da reunião com um investidor que tinha planos de mudar o curso da crise que se instalara na corporação nos últimos seis meses. O quarto era mais modesto do que eu esperava e ao invés de conseguir desacelerar, o chuveiro frio só conseguiu me despertar para a realidade de uma noite tensa e sem sonhos. Chegar exausta depois de três conexões e não conseguir tomar um mísero banho quente é o prenúncio de que as coisas não começaram bem.

Tive uma D.R. de quase dez minutos com o meu marido via FaceTime e estava decidida a dar um jeito na crise que se instalara também na minha cama. Dois anos de relacionamento e o sexo andava bem mais ou menos... bem mais para menos para ser realista, como se já não bastasse ter que conviver com um homem metódico, irritantemente "certinho". Com ele existe hora certa para tudo... para dormir, se exercitar, trabalhar, comer, inclusive para ME comer.

Só existiam duas coisas capazes de me fazer relaxar naquele momento e como a 1ª opção seria meio inviável, decidi descer até o lobby e perguntar ao recepcionista qual o bar mais próximo, já que o serviço de quarto era inexistente no recinto e o ramal da recepção estava mudo. Precisava de uma dose, ou algumas, de whisky on the rocks e aí então conseguiria sossegar a minha mente e enfim, dormir as horas que restassem até o grande encontro. Ele me indicou o bar "Vegas" que ficava logo na esquina da rua e que dava para ir caminhando sentindo a brisa fresca, com música ao vivo e boa bebida. Até estava dispensando a parte da música, mas ao entrar no boteco vazio me deparei com algo capaz de exterminar o último resquício de controle que estava ao meu alcance.

Na verdade não era algo, antes que queiram me jogar pedras por estar transformando um homem em objeto, mas até que não cairia nada mal se eu pudesse usá-lo como um brinquedinho só por uma noite... Era alguém, masculinamente expressivo. Ele me recebeu com o seu mais sedutor sorriso de canto de boca, disfarçado por uma barba espessa e aparentemente macia. Seus cabelos desciam pelos ombros, desalinhados, e olhos azuis, claros como uma noite de lua  contrastavam com a camisa escura que tinha suas mangas dobradas acima dos cotovelos. Estava sentado com seu instrumento sobre o colo e a calça apertava suas coxas grossas e notoriamente firmes, como parecia ser também todo o resto do seu corpo. Seus dedos eram longos e pela forma que afinava as cordas do violão eu já podia imaginar o impacto que aquele dedilhar poderia provocar no meu corpo.

Caminhei até o bar e fiz o meu pedido, hipnotizada pelo movimento sutil das suas mãos. Ele meneou a cabeça como se reproduzisse um sinal de negativo e franziu o cenho com um sorriso safado estampado no rosto. O garçom chamou a minha atenção batendo com o copo no balcão e instintivamente dei um longo gole, deixando que a bebida aveludada queimasse a inquietação que insistia em dar sinais. Abri os olhos após saborear a sensação de torpor e ele estava diante de mim, com os braços próximos ao meu corpo e as mãos segurando o balcão em que eu estava recostada.

- Você devia saber que é proibido lamber a boca nesse estabelecimento.

Caralho. A voz grossa dele conseguiu me emudecer por alguns segundos, que pareceram ser tempo demais. Minha respiração também decidiu me abandonar e meus batimentos cardíacos estavam dando sinais claros de que eu estava viva... Um "ps" para o meu coração que batia além da região torácica, bem mais abaixo, e retomei a razão ao responder:

VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora