IV

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Era manhã de sábado e eu precisava aproveitar o meio expediente para colocar em ordem todos os detalhes da reunião para apresentar na segunda-feira pontualmente às 9h da manhã.
Cheguei no meu escritório e chamei a Liana, minha eficiente e de extrema confiança secretária, para pedir que ela me auxiliasse na busca pelo "Ed". Eu sei que isso não é trabalho para ela, mas eu precisava manter o foco no trabalho e não queria deixar esse contato para depois.

Não entrei em detalhes dos porquês que haviam motivado aquela caça. Falei apenas que estava interessada em contratar, para a festa de confraternização da empresa, uma dupla que havia se apresentado no Bar Vegas em Manaus na noite que eu estava lá, mas para qualquer mulher minimamente inteligente, tinha cheiro de algo mais no ar.

Ela prontamente entrou no google, digitou o nome do bar, tirou o telefone do gancho ainda na minha sala, discou e pôs-se a falar com demasiada simpatia:

            - Bom dia! Aqui quem fala é a Liana, assistente da diretoria da Add Consulting. Uma das nossas colaboradoras esteve aí na quinta-feira e se interessou pela atração que estava acontecendo. Gostaria de saber se são músicos exclusivos da casa ou se poderiam me passar os contatos para contratação... Claro, espero sim, obrigada.

Alguns poucos segundos.

            - Oi... Claro, pode ser o celular pessoal do cantor sim. Soube que o repertório dele é incrível... É... Ela ficou bem impressionada mesmo.

Estava ouvindo o desenrolar daquele papo, descrente da velocidade que ela tinha conseguido o número dele. Se tivesse sido um pouquinho racional nem precisaria ter envolvido mais ninguém nos meus planos. Fiquei um pouco corada com as expressões que ela fazia e quando menos esperava ela estava se despedindo e agradecendo mais uma vez. Desligou a chamada e quando estava prestes a iniciar uma outra eu a interrompi batendo a mão no aparelho.

            - O que você está fazendo, Liana?

            - Ligando para o tal cantor. Ops... Esqueci de perguntar o nome dele. Me desculpe, Moema. Vou ligar mais uma vez para te passar a informação completa.

            - Não é necessário. Daqui em diante eu faço questão de falar pessoalmente com ele. Você sabe... ficará mais prático de negociar tendo em vista que já tive um primeiro contato com ele.

            - E que contato, não é mesmo?

Nunca havia dado liberdade para aquele tipo de abordagem por parte dela, mas já que eu a havia envolvido na história, cabia ser ao menos uma mentirosa simpática.

            - Trocamos apenas algumas palavras, mas perdi o cartão que ele me entregou e não lembro nem o nome dele, mas com a sua agilidade já adiantou boa parte do meu trabalho.

            - Estou falando isso porque com a quantidade de boas bandas, cantores e todos os outros tipos de atrações que temos aqui no Rio ou em São Paulo, que é muito mais perto, você pensar em bancar a vinda de uma dupla lá de cima do país, é porque foi realmente muito intenso.

A forma que ela proferiu o "intenso" não soou bem. Havia uma malícia implícita no tom e fiquei desconfortável com a insinuação de que ela sabia que existia algo por trás do meu interesse.

            - Chega de papo, Liana. Eu preciso trabalhar na proposta do investidor e vou precisar que você redija um contrato de confidencialidade. Temos apenas duas horas até que a empresa feche.

Ela pediu licença, notoriamente desconfiada, informando que aguardaria os dados para formalizar o documento e eu respondi que encaminharia por e-mail naquele mesmo instante. Assim o fiz e aproveitei para checar minha caixa de entrada e perfis em redes sociais enquanto esperava.

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