II

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Quando eu era mais jovem, vivia pedindo a Deus que me libertasse de qualquer chance de viver um relacionamento falido. Ouvia minhas amigas se queixarem de seus maridos e me perguntava se a instabilidade virava uma regra depois de algum tempo juntos.

Perdi as contas de quantas velas acendi implorando que essa relação jamais chegasse naquela maldita (ou mal dita) fase do sexo protocolar, com dias marcados e posições planejadas, mas como não nasci com a bunda virada para a lua, é claro que não poderia me livrar dessa praga. Lógico que eu sei que os altos e baixos de uma relação são inevitáveis se considerando que são duas personalidades tentando se adequar dentro de um mesmo ambiente, criações diferentes acarretam manias mais diferentes ainda, mas ter que conviver com essa realidade e me acostumar com o que não está me fazendo feliz é algo que não estava no meu script.

Um dia de paixão e juras de amor eterno para outros seis de mornos selinhos de bom dia e resmungos inteligíveis de boa noite. Desculpas esfarrapadas para justificar negativas seguidas de pedidos de desculpas para disfarça-las... O xis da questão é que quando essa gangorra emocional vira uma montanha russa de emoções, não tem quem aguente, ou melhor, eu sei que eu não aguento.

A crise dos 3 anos, dos 7, dos 15... Porra de fases que sempre aparecem para dar uma esfriada na coisa toda. Momentos em que o tapete da sala é o lugar mais conveniente para uma rapidinha bem no meio da novela e outros que nem com reza braba para fazer o entrosamento fluir. Olha que eu estou falando isso não tendo nem batido a meta das bodas de algodão. Ainda vamos completar dois anos juntos e apesar de eu dizer que o Oscar é meu marido e usarmos alianças no dedo dos casados, nós decidimos fazer um test drive antes de oficializar a união, cientes de que nos tempos de hoje já não existem traumas quanto a papéis e formalidades.

Foda é que eu sei que nenhum dos dois lados é algoz ou vítima. Quando somos nós mulheres quem julgamos, a culpa é sempre do homem e das suas manias irritantes. Do futebol, do Playstation e até da toalha molhada esquecida em cima da cama. Se deixarmos a situação ser julgada pelos homens, a responsabilidade sempre é da mulher e da sua TPM, do apego aos filhos e até daquela dorzinha de cabeça que aparece fora de hora. A grande verdade é que para essa zona toda, não adianta encontrar um único culpado, principalmente porque uma relação é constituída de duas (ou mais) pessoas e para fazer essa soma dar certo, haja renúncia e doses cavalares de tolerância. AH! De amor também... E de admiração e respeito... Muita coisa para escrever em uma única frase.

Fato que, por mais que eu não tenha sido picada pelo sentimento de culpa pela escapadela no bar Vegas, lá no fundinho, e mesmo sabendo que o Oscar não tem sido o cara mais maneiro do mundo comigo, nada justifica o que eu fiz.

Era para eu sentir vergonha por ter traído a confiança do Oscar?

Era para eu me sentir culpada por ter deixado o cantor lá, aquele que nem sei o nome, invadir o meu corpo e meus pensamentos?

Era para eu controlar os meus instintos e chegar em casa cabisbaixa, tentando me redimir mesmo sem confessar que havia feito a merda?

Era para eu enrubescer diante da incontestável verdade de que fui infiel?

Indo um pouco mais fundo e nem um pouco orgulhosa dessa confissão, se vocês me perguntarem se estou arrependida vou ser obrigada a lhes responder que não e a pior parte disso é que eu mal voltei e não me perdoo por não ter trocado a minha passagem para ficar o fim de semana em Manaus. Queria muito, nem sei medir o quanto, ter transado com o cantor, o qual, na minha imaginação, decidi chamar de "Ed", por conta de parte da trilha sonora que ele apresentou no pouco tempo que permaneci no recinto.

Quando saí do bar, fugida e afogueada, esgueirei-me pela rua até o hotel e nem me incomodei com a temperatura da água quando decidi me lavar para tentar dormir. Curei, pelo menos momentaneamente, minha necessidade de gozar para tentar aplacar o desejo de ceder à tentação de dar continuidade ao furtivo encontro. Dormi mal e acordei ansiosa. Minha reunião foi produtiva, mas longe do que comumente me orgulharia em conduzir. Se o resultado será positivo eu só saberei daqui a alguns dias...

Mas, voltando ao meu "casamento", quando cheguei no Rio de Janeiro de volta da minha viagem de negócios, bem no meio da noite de sexta-feira, a única coisa que me consolava era saber que o Oscar não estava em casa. Ele havia mandado uma mensagem dizendo que não tinha hora para chegar e quando isso acontecia é porque ele virava a madrugada em cima de processos. Isso queria dizer que eu podia pegar todos os meus brinquedinhos e espalhar pela cama para me deliciar sem ter que ficar no stress dele não ver.

O Oscar apesar de se dizer muito safo e safado, não passa de um cara metódico que se sente ameaçado até por um coelho cor-de-rosa que vibra e é capaz de me dar os meus melhores orgasmos. Porra... Se dissesse que ele estava surtado porque eu ando me satisfazendo assistindo "Tempero de família" enquanto o Rodrigo Hilbert esbanja talento com suas colheres de pau e técnicas avançadas de "como segurar uma mulher pelo estômago", e não só por ele, eu até entenderia... mas eu estou falando de um objeto inanimado, criado única e exclusivamente com o objetivo de satisfazer os desejos sexuais, muitas vezes reprimidos, de algumas mulheres.

Pois é... assunto proibido na nossa cama e na nossa casa, mas isso não me impedia de guardar uma caixa recheada de possibilidades sexuais no meu maleiro e quando ele não estava por perto eu aproveitava para matar a saudade do meu bichinho de estimação preferido.

Já me questionei e até perguntei para a minha terapeuta se eu estou errada em enganá-lo, mas como ainda não cheguei no momento do oportuno confronto, vou me distraindo com o que não faz mal para ninguém. Eu estou falando do meu coelho e o questionamento sobre o "Ed" não entrou nesse parágrafo.

Bom, voltando a minha solitária noite de sexta-feira, como disse, aproveitei para me esbaldar. Me servi de uma dose de Campari, adicionei água tônica, limão e gelo e o sabor da ousada bebida acendeu ainda mais o meu desejo, deixando-me relaxada e cheia de ideias.

Deitei-me completamente nua e experimentei um gel que havia comprado na última ida ao sex shop. Ele tem cheirinho de menta e esquenta em contato com a pele. Lambuzei os dedos e passeei pelo meu sexo deixando que as sensações de calor inundassem meus sentidos. Lembrei da voz do "Ed" enquanto os seus olhos invadiam a minha intimidade ainda distante de mim. A minha cabeça me fazia fantasiar o prazer que ele seria capaz de me proporcionar, mas que não foi nada se comparando com o impacto que o roçar da sua barba infligiu à minha pele. Seus cabelos eram perfumados e sedosos. Seu hálito tinha sabor de hortelã e whisky e o casamento ficou uma delícia. Suas mãos não eram delicadas e ele me tomou com posse.

Centenas, milhares de faíscas dominavam as minhas entranhas e desejei, mesmo que somente nas minhas fantasias, reencontrá-lo para sentir aquela mesma sensação entre as minhas pernas. Empunhei o instrumento que consolidaria a ideia da possessão e o penetrei, milimetricamente, deixando que meus devaneios me endereçassem para 4.272 km além do meu corpo, a fim de vivenciar mais uma vez as reações que aquele inesperado homem me causou.

Não sei bem quanto tempo passei valsando comigo mesma, mas despertei assim que ouvi o barulho das chaves do Oscar sendo jogadas sobre a mesa. Era para ele deduzir que eu já estava dormindo e assim ter um pouco mais de cuidado em não me acordar, já que havia chegado de uma viagem longa e desgastante, mas é claro que ele não se preocupou com isso. Peguei tudo que estava sobre a cama, joguei dentro da primeira gaveta ao meu lado e cobri o rosto a fim de fazer de conta que estava dormindo. Ele acendeu a luz do quarto, abriu o armário para pegar o pijama azul listrado e foi até o banheiro. Ouvi o barulho da descarga, do chuveiro e passos rastejantes até a nossa cama.

Eu estava nua, excitada e seria facilmente convencida a fazer sexo, mesmo que fosse uma rapidinha de ladinho, mas ele não se comoveu em me procurar. Quando se ajeitou na cama fiz questão de me aconchegar para ver se ele reagiria instantaneamente em me invadir, mas foi em vão. Ele deu um beijo casto na minha cabeça e virou-se de costas deixando claro que não estava a fim... E vocês acham que eu me dei por vencida? Meu desejo de ser comida era maior do que o meu orgulho. Acendi o abajur e levantei. Caminhei até o banheiro, escovei os dentes e voltei. Nua como eu estava debrucei-me sobre ele e deixei que os meus fartos seios tocassem o seu rosto, mas ele não se moveu. Contornei a cama, deitei e me cobri.

Retirei o meu celular do carregador, acessei a internet e comecei uma busca sobre um determinado bar bem no centro de Manaus...

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