V

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"Pietro"...
Ele foi seco na resposta. Direto como demonstrava ser nas poucas oportunidades que tive de trocar duas palavras com ele. Mas o que é que eu esperava de um cara que havia me dedilhado sem nem mesmo me dizer seu nome? Sei que eu poderia ter agido diferente e dado limites, mas já basta os que me imponho todo santo dia. Foi uma aventura e nada mais... pelo menos por enquanto. Era nisso que eu acreditava...

Minha cabeça fervilhava com a lembrança dos gemidos roucos gravados no meu celular. Não queria deletar a conversa e apenas a arquivei trocando a senha de acesso do aparelho, apesar de ter quase certeza de que o Oscar jamais teria a ousadia de invadir a minha privacidade com crises de insegurança.

Queria manter a sanidade para poder ir para casa encontra-lo já que nas noites de sábado geralmente saímos para jantar, mas seria um grande esforço desapegar da imagem daquele imponente mastro reluzente para me contentar com o contato morno e superficial que me esperava em casa. Sexo com dia marcado e nenhuma novidade no cardápio para atiçar minha vontade de investir um pouco mais na relação.

É até feio o que vou dizer, mas o que mais me confortava naquele momento era que a minha necessidade de sexo era tão grande que estava até ansiosa para recebe-lo dentro de mim. Hoje eu faria tudo diferente! Pediria para ele me comer com força, para me invadir sem dó e, caso ele estranhasse, teria a certeza de que era um caso perdido.

A culpa não é exclusiva dele e em momento algum quis insinuar isso. Talvez nem seja "culpa" a palavra a ser usada nesse caso. Somos diferentes e ele nunca me enganou. No final das contas acho que me conformei em tê-lo na minha vida e na minha cama por preguiça de estar solteira e disponível. Adotei aquele discurso ridículo de "para que não tem nada, qualquer coisa serve". E não é que ele seja qualquer coisa assim tão ao pé da letra. Ele é um cara trabalhador, focado e cheio de vontade de vencer na vida, mas toda essa determinação não é direcionada para mim. No que se refere a nós dois ele age como se eu fosse apenas uma parte cômoda da sua rotina... ter alguém para passar a vida e ver a vida passar sem esperar muito dela.

Uma mulher cheirosinha para dividir a cama, um papo inteligente nos fins de semana. Após alguns anos viriam os filhos e as viagens em família para resorts com aqueles grupos de recreação e muita bebida de graça. Ele embriagado deitando virado para um lado e eu agarrada com um livro virando para o outro. Me imaginei interpretando uma personagem naquele cenário enfadonho e quase surtei com a possibilidade de ela se transformar na minha história da vida real.

Pensei que parte da responsabilidade do fracasso do relacionamento era minha. Porque a grande verdade é que temos a obrigação, e quando falo que temos, me coloco no lugar do insatisfeito independente de ser homem ou mulher, de falar. Muitos dos maiores problemas conjugais podem ser resolvidos com uma boa conversa e o que não tem remédio, bom... remediado está. Se está bom, elogie, alimente para que fique ainda melhor. Se está ruim, cuide para que não pior porque uma coisa é fato... Depois de falido fica ainda mais complicado de ser mantido.

Cheguei em casa e tomei um susto em ver o carro do Oscar na garagem. Normalmente ele só chega em casa no início da noite, mesmo aos sábados. Subi estranhando a presença dele, mas sem dar muita importância para o porquê.

Ele estava de pé na varanda, com uma toalha amarrada na cintura e uma taça de vinho na mão. Seus olhos crepitavam assim que pairaram sobre mim e mal pus a bolsa sobre a mesa ele já estava sentando-me sobre ela, afastando as minhas pernas e tomando a minha boca.

Em dois anos nunca aconteceu nada parecido. Nem perto disso, aliás... geralmente sou eu quem o ataco e ele somente corresponde ou muitas vezes pede para deixarmos para outro dia porque ele está sempre exausto, mas, naquele momento, senti arder fagulhas do sentimento que havia nos aproximado e deixei que ele me surpreendesse um pouco mais. No início ainda tínhamos aquela curiosidade que torna tudo mais cobiçoso, mas depois de pouco tempo já havíamos sucumbido ao costumeiro sexo nada casual dos sábados após um jantar no mesmo restaurante comendo basicamente o mesmo prato.

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